Hoje poucos residem permanentemente na serra da Lousã, as aldeias só se enchem de gente aos fins de semana e dias festivos. São sobretudo os turistas que dão vida às aldeias feitas de pedra de xisto, com vista sobre um mar de verde. Nem sempre foi assim. Antes de serem aldeias, os abrigos feitos de pedra eram casebres construídos por pastores que permaneciam na serra durante os meses de Verão a pastar o gado, sobretudo cabras. Depois as populações fixaram-se e as aldeias floresceram. Na terceira invasão francesa, por ocasião do combate de Foz de Arouce, em março de 1811, muita gente da Lousã procurou refúgio nas aldeias serranas. O auge populacional terá ocorrido na viragem do século XVIII para o XIX, com cerca de 700 habitantes nas aldeias do Catarredor, Vaqueirinho, Talasnal, Casal Novo e Chiqueiro.
Na segunda metade do século XIX, a emigração para a América arrastou muita gente para fora das aldeias e a gripe pneumónica, em 1918 - 1919, acentuou o declínio. A forte onda de emigração que atingiu todo o país na década de 60 do século XX fez o resto. Das aldeias restaram as casas feitas de pedras empilhadas que o tempo se encarregou de derrubar. A partir do início dos anos 80, a serra da Lousã foi procurada por estrangeiros, sobretudo alemães, holandeses e belgas. «Vieram pelo isolamento, ocuparam casas, não pagavam água, luz ou impostos. A maioria era anarquista», explica Jorge Caetano, que reside no Talasnal e conhece a serra há 25 anos.
O destino das aldeias do xisto mudou com a criação da ADXTUR, em 2007. A agência que promove o desenvolvimento turístico já abrange uma rede de 27 aldeias de xisto do centro de Portugal. Em parceria com 20 municípios, foi feito um forte investimento em infraestruturas de água, eletricidade e saneamento básico e foram concedidos apoios ao restauro das casas. Mas o que mudou tudo foi o alcatroamento da estrada, em 2013. Dos 40 minutos que os jipes demoravam a trepar a serra passou-se para 15 minutos em qualquer veículo ligeiro.
«O turismo foi o caminho para repovoar as aldeias e, hoje, grande parte das casas restauradas estão afetas ao alojamento local», explica a arqueóloga Patrícia Lima, responsável pelos museus municipais da Lousã. O crescente interesse turístico levou muitos proprietários a reclamar as suas casas e afastou muitos estrangeiros que por lá residiam. Na aldeia de Jorge, uma das mais procuradas, há turismo o ano inteiro. «O meu medo é que comece a aparecer gente só com o intuito de ganhar dinheiro», diz o homem que há três anos escolheu «o sossego, a paz e a liberdade» da serra para viver.