«Quando tive o acidente, ela tinha um ano e nove meses… Acho que ela não se lembra de mim sem cadeira de rodas», confidencia Igor, técnico de informação, com comoção, mas sem perder o sorriso.
Tinha 30 anos quando um mergulho mal calculado numa piscina, no verão de 2019, o atirou para um diagnóstico de tetraplegia.
Viu, nesse momento, a vida mudar por completo. Porém, desde o dia em que teve conhecimento da sua nova condição e de que não voltaria nunca mais a andar, houve uma conquista que nunca se permitiu a perder: o amor pela filha Ariana.
«Num momento como este, como se pode calcular, passam-nos muitos pensamentos negativos pela cabeça e um deles é desistir de tudo, mas não foi esse o meu caso. Pensei
sempre na minha filha…», revela.
Apesar da tenra idade, Ariana foi porto seguro para Igor. Foi, sem saber, a tábua de salvação do pai transmitindo-lhe, a cada dia que ia passando, força e esperança para construir um novo caminho.
«Quando se é pai nasce uma coisa nova dentro de nós…», afiança sublinhando que «foi ela que me levou a não desistir de tudo».
Aos 34 anos, Igor Raevski garante que, ainda que vivendo com condição de tetraplegia, isso nunca foi impeditivo de desempenhar em pleno as suas responsabilidades de pai.
«Poderá, de facto, existirem pais menores quando têm todas as condições para serem pais mas não o são», defende, num primeiro momento.
«Logo no início, após o acidente, senti muita impotência de não conseguir fazer tantas coisas... Estava muito focado nas ideias de “Não consigo atirá-la ao ar”, “Não consigo correr com ela” e ”Já não consigo passear com ela na praia”», evoca o jovem jogador de rugby de cadeira de rodas, vertente de 4 e 5, que atua ao serviço do Casa Pia Atlético Clube.
A mudança de mentalidade foi determinante para iniciar um novo ciclo como pai.
«Quando mudei o chip e passei a focar-me no que conseguia fazer, aí sim mudou tudo! Não se pode pensar no que não se pode fazer. A partir daí a minha filha começou a sentir o pai mais presente», descreve.
Para Igor Raevski, ser pai é o desafio mais bonito e especial que tem na sua vida.
«Não queria que ela fosse obrigada a viver sozinha, sem um pai. O papel de um pai…é muito importante na formação de uma futura mulher».