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6 outubro 2022
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«Ser ator é um modo de vida»

Paula Lobo Antunes esteve para seguir Medicina, mas o amor à repre​​sentação falou mais alto.​
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Cresceu numa família ligada à Medicina e à Academia. Como é que foi parar à representação?

Sempre quis ser atriz, desde muito pequenina. Lembro-me da primeira vez que vi a Olivia Newton-John no filme “Grease” e de pensar: «Eu quero fazer o que ela está a fazer». Foi um percurso longo, também com um lado bastante académico. Fiz outro curso antes, mas acabou por ser uma questão de seguir os sonhos e o coração.

Como reagiram os seus pais?
Acho que eles já sabiam. Agora que tenho filhas, percebo a preocupação deles. Esta é uma profissão difícil, arriscada, com muita rejeição e crítica. Quando chegou a altura de decidir o que fazer, acabei por escolher o curso de Biologia Médica na Universidade de Edimburgo, na Escócia. O intuito era continuar para Medicina, mas, quando terminei, acabei por ir para o curso de Teatro. Tive de seguir o meu caminho.

Tudo isto no Reino Unido...
Sim, em Londres. Eu queria ter ficado na Escócia, vivi lá quatro anos, mas acabei por ir para um curso mais completo a nível da formação de ator.

Nasceu e viveu nos EUA até aos cinco anos, depois veio para Portugal. Como foi a transição?
Difícil e triste, porque foi uma mudança muito abrupta. Também coincidiu com a separação dos meus pais e, por isso, foi uma conjugação muito infeliz. Se calhar, por causa dessa adaptação difícil, sempre me identifiquei mais com os Estados Unidos do que com Portugal.

Os seus pais foram figuras marcantes na sua vida? 
Sempre foram e ainda são, apesar de o meu pai já não estar presente. Uma coisa notável é que, mesmo estando separados, concordavam sempre, e nisso fizeram um excelente trabalho. Nunca julgaram. Foram uma estrela a guiar a minha vida emocional e profissional.

Estreou-se na televisão portuguesa em 2005, na série “João Semana”. Logo depois, surge uma daquelas oportunidades que fazem uma carreira: ir para o Brasil, para participar na novela “A Escrava Isaura”.
Tive muita sorte. Foi estar no sítio certo à hora certa, porque tinha acabado de fazer o “João Semana” e a RTP tinha acabado de comprar o guião de “A Escrava Isaura”, e o acordo incluía a participação de uma atriz portuguesa. A RTP sugeriu o meu nome sem sequer me perguntar, e o telefonema foi, literalmente: «Queres ir para o Brasil, fazer “A Escrava Isaura”?». E eu: «Sim, o que é que tenho de fazer?». E eles: «Apanhar o avião, daqui a dois dias».



Foi tudo muito repentino.
Muito. Vivia em Londres na altura, estava em mudanças para Nova Iorque e tive de reestruturar tudo.

Como foi essa experiência, tão cedo na carreira? 
Eu ia bastante confiante. Se calhar, estupidamente. Ou não. Mas correu muito bem. Vinha de um curso intenso em Londres, muito duro a nível técnico, psicológico, de esforço mental. Tinha quase 30 anos, já tinha outra maturidade e bagagem. Quando lá cheguei, não sabia que era para fazer um ou dois episódios, mas depois o realizador gostou tanto do trabalho, que fiquei até ao fim.

É fácil ficar iludida com o sucesso?
Muito fácil, mas cedo que percebi que uma pessoa não pode estar nem muito acima nem muito abaixo, tem de flutuar na onda. Não só da fama, também a nível de trabalhos, contactos, de não desaparecer totalmente, porque os picos de sucesso são muito efémeros.

Basta ter talento para fazer carreira como atriz em Portugal?
O talento é uma enorme mais-valia, mas também tem muito a ver com estar no sítio certo no momento certo, ter muita persistência e conhecer as pessoas certas. E ter muita sorte.

Fazer carreira daquilo de que se gosta é um privilégio?
Um enorme privilégio. Digo isto a muitas pessoas. É raro alguém poder trabalhar naquilo que o faz feliz. Ser ator não é bem um trabalho nem um emprego, é um modo de vida. Ver televisão, ver teatro, andar na rua, observar as pessoas à nossa volta, é sempre uma pesquisa, o ator não pára de trabalhar.

É em contexto de trabalho que conhece o também ator Jorge Corrula, seu companheiro e pai das duas filhas. Ser mãe é o papel de uma vida?
É mais do que um papel. São várias etapas, diferentes momentos em que vamos tentando perceber se estamos a fazer certo ou errado. Ainda no outro dia tossi ao pé da minha filha mais nova, que tem dois anos, e ela disse «bless you» [expressão inglesa que significa “santinho”]. Eu achei tanta piada. Não tinha espirrado, tinha tossido, mas achei graça ao gesto de carinho dela e pensei: «Acho que que estou a fazer as coisas bem».

As suas filhas são mais pai ou mãe?
Estão numa fase muito mãe, mas variam. O que importa é que estejam felizes.

Como é que equilibram as exigências das vidas profissional e familiar?
Com muita dificuldade. Planeamos a semana meticulosamente, quem leva e quem vai buscar quem, quem faz isto e aquilo, e depois tem de ser um dia de cada vez. Temos uma rede de apoio bastante grande, que nos acompanha e nos ajuda, pessoas incríveis a quem só posso agradecer. Não conseguiríamos fazer de outra forma.



Há espaço para o exercício físico nesse horário preenchido?
Tento. É um bocado irregular, mas faz parte todos os dias. Se estou a pôr a minha bebé a dormir, estou a fazer agachamentos. Se estou a dar banho à minha filha, estou a fazer exercícios de braços. Se ela está a ver uma série, ponho uns auscultadores. Estou ali a fazer os exercícios e ela a ver televisão.

É uma pessoa preocupada com a saúde?
Muito. E não é uma questão de beleza, tem a ver com ter um corpo funcional. Eu preciso do corpo para trabalhar. Preciso de poder correr, de mexer-me facilmente, o meu corpo tem de estar preparado para todas essas exigências. Tenho de estar bem para mim, para as minhas filhas, para o meu trabalho, para o meu dia a dia.

Como começou a trabalhar com a Make-A-Wish Foundation.
Associei-me logo no início, quando veio para Portugal. Como mãe, faz ainda mais sentido. Realizamos desejos a crianças que têm doenças graves. A vida é muito frágil e é gratificante podermos concretizar aquilo que, para estas crianças, muitas vezes parece impossível. É inacreditável.

Como gostava de ser recordada?
Como uma pessoa amiga, divertida e leal. E é só.

 

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