A morte do seu pai deu início, naturalmente, a um processo de luto. Foi mais difícil por ele também ser uma figura pública?
Foi horrível, mesmo horrível, ter de fazer esse luto de forma quase totalmente pública. Eu fechei-me em casa durante um mês e lembro-me perfeitamente do primeiro dia em que decidi vamos sair, vamos almoçar fora. Cheguei ao restaurante e a primeira coisa que acontece é a dona do restaurante agarrar-se a mim a chorar e eu olho para o Jorge e digo «vamos embora». E já tinha passado um mês. Ainda hoje tenho pessoas que me dizem: «Ai, a falta que o seu pai me faz» e eu: «Pois, imagino». Mas eu não posso ser egoísta e dizer «ele é só meu». Não, ele era de toda a gente e isso foi uma coisa que eu e as minhas irmãs tivemos de aceitar. Ele era nosso pai, sem dúvida, mas ele era pai de todos, porque era assim que ele tratava as pessoas de todas as idades na consulta: «Ó filha», «Ó filho». Era assim que ele falava. Tivemos de partilhar o nosso pai com muita gente e isso é um orgulho tremendo.