Tamara Milagre quer mudar o paradigma da investigação em Oncologia. Concluiu que não há evidência da importância do cancro hereditário para a economia do país. A associação Evita vai recolhê-la. «Vamos iniciar o estudo da carga e do custo do cancro hereditário em Portugal. Nunca foi feito, mas é fundamental».
O cancro hereditário foi sempre considerado raro. A ideia, defende a presidente da associação, deriva de uma literatura clínica envelhecida e ultrapassada. Têm maior fiabilidade os dados da Rede Europeia de Referência GENTURIS, que indicam que só estão identificados 20 a 30 por cento dos portadores de mutações relacionadas com cancro hereditário. «Isso quer dizer que ainda temos uns 80 por cento que andam com a espada por cima da cabeça e não fazem a mínima ideia».
Adicionalmente, estes cancros são os mais caros, por se desenvolverem no auge da idade produtiva. Mas são também aqueles que têm maior potencial de prevenção e diagnóstico precoce. Só que os serviços não conseguem dar resposta ao rastreio e acompanhamento das pessoas com pré-disposição genética: os tempos de espera são longos e as instituições, por vezes, deixam escapar portadores de mutação. «Compreendo as dificuldades, mas não pode acontecer que uma pessoa, por não ter meios financeiros, fique fora do rastreio genético e venha a desenvolver um cancro que, ainda por cima, custa muito mais dinheiro ao Estado». É preciso evidência para «convencer o poder político a investir em condições» para identificar todos os portadores de mutação genética e avançar com medidas preventivas. «Pelo menos, que possam entrar num programa de vigilância apertada e muito mais precoce».
Enquanto o mundo não muda, Tamara deixa o apelo: «Quem estiver preocupado com o risco de cancro por ter uma história familiar, ou casos de cancro em idade precoce, ou várias gerações com o mesmo tipo de cancro na família, pode contactar-nos em
www.evitacancro.org».