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5 outubro 2018
Texto de Carina Machado Texto de Carina Machado Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Herança sem culpa

​​​​​Tamara tem duas filhas e uma síndrome de cancro hereditário.

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​Quando descobriu que tinha recebido do pai uma mutação nos genes BRCA-1, Tamara Milagre soube também que era muito grande a probabilidade de ter transmitido às filhas o mesmo risco aumentado de cancro da mama.
 
«Como mães, o nosso desejo é que os nossos filhos sejam testados logo, imediatamente. Queremos ter a certeza de que não lhes passámos esta coisa. Mas não podemos, e ainda bem». É que todos temos o direito de não querer saber, de «deixar com o destino». Porque há sempre uma certa percentagem de portadores que não chega a desenvolver a doença. Além disso, há questões complexas que têm a ver com a privacidade ou com uma maior dificuldade em contrair empréstimos bancários quando se é portador de uma mutação. 
 
Não obstante, e por se tratar de uma doença de adultos, teoricamente os testes genéticos podem ser feitos a partir dos 18 anos, «mas são aconselhados por volta dos 25, altura em que deveria também começar a vigilância especializada dos portadores de mutação».
 
Tamara diz-se pragmática na questão da hereditariedade. «Nunca culpei o meu pai por me ter passado a mutação. Faleceu antes de eu saber que era portadora e sei que ele se iria culpabilizar imenso, mas sem qualquer sentido. Eu tenho duas filhas e não me vou culpar por nada. Não há nada neste âmbito que tenha feito propositadamente». 
 
No entanto, confessa que nem sempre é fácil manter o sangue frio. «A minha filha mais velha já fez 18 anos. Fez o teste por vontade própria e, quando chegou a hora da verdade, fiquei muito mais nervosa do que pensava». O resultado da filha foi negativo. «Ela não herdou a minha mutação e esse foi um dos dias mais felizes da minha vida». Tamara tinha 41 anos quando se submeteu a uma dupla mastectomia preventiva por ter uma probabilidade superior a 90 por cento de desenvolver cancro da mama. 
 
Os BRCA-1 e 2 são genes com uma função reparadora das moléculas do ADN. O seu papel é impedir o aparecimento de tumores, mas quando sofrem uma mutação perdem a capacidade protectora, elevando o risco de cancro da mama nos portadores para entre 50 a 85 por cento e de cancro do ovário para 15 a 45 por cento. 

 
 
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