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6 março 2025
Texto de Teresa Oliveira | WL Partners Texto de Teresa Oliveira | WL Partners Fotografia de Miguel Ribeiro Fernandes Fotografia de Miguel Ribeiro Fernandes

Pontapé na diabetes

​​Diagnosticados com diabetes tipo 1, os irmãos Daniel e Daniela Martins aprenderam a viver com a doença sem limitar a vida.​

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​Daniel e Daniela Martins aprenderam muito novos a conviver com a diabetes tipo 1, doença autoimune condicionadora de rotinas diárias, mas não deixaram que limitasse a vida. Daniel (17 anos) e Daniela (14) foram diagnosticados com cinco anos e não tinham antecedentes familiares deste tipo de diabetes.

Primeiro filho, Daniel foi o primeiro a ser diagnosticado e em quem a diabetes teve maior impacto inicial. «Ao início foi muito difícil habituar-me, ainda por cima eu era tão novo», lembra. «Estava habituado a ser “normal”» desabafa. Passou por momentos difíceis, quer pela natural inexperiência dos pais, quer pelo facto de ter de habituar-se a picar os dedos e a lidar com bombas de insulina. No caso de Daniela a «adaptação foi mais fácil», tendo beneficiado da experiência dos pais a detetar os sintomas e do exemplo do irmão. Ainda assim precisou habituar-se a uma «rotina totalmente diferente» e passar a viver com «maior responsabilidade».


Pais e filhos, juntos pela normalização da vida das pessoas com diabetes

Hoje, os irmãos convivem com a diabetes com normalidade e fazem uma vida igual à dos adolescentes da sua idade. «Passado um tempo começamos a sentir-nos mais incluídos e há dias em que até me esqueço que tenho diabetes», comenta Daniel, apesar de haver «outros dias mais esquisitos, principalmente porque praticamente toda a gente que conheço não a tem, exceto a minha irmã e mais algumas pessoas». Daniela conta que no seu grupo de amigas, a diabetes «nunca foi um assunto assim tão relevante, falamos mais sobre outras coisas». Aliás, acontece mesmo estar «numa festa com elas, tirar a bomba de insulina: elas ficam assim a olhar, “ah, já me esquecia que tinhas diabetes”». Esta normalidade não a fez esquecer o que se sente na altura do diagnóstico. Quando se apercebeu de que uma rapariga conhecida tinha sido diagnosticada, ofereceu apoio e orientação para a ajudar na adaptação. «Por acaso não falava muito com ela, mas fui lá ter com ela e explicar-lhe como é. Reconfortei-a, digamos assim».

A rotina, mas também as evoluções tecnológicas facilitaram a sua vida. Há cerca de um ano, os irmãos usam uma bomba automática de insulina, que facilita muito o controlo e a gestão da diabetes, e passou a ser disponibilizada nas farmácias desde o início de fevereiro para os utentes com diabetes tipo 1 – uma doença autoimune normalmente diagnosticada em crianças e jovens, mais rara do que a diabetes tipo 2. Esta, afeta sobretudo adultos e está ligada ao estilo de vida (sedentarismo, obesidade ou alimentação menos saudável).

Com as novas bombas, «quase dá para esquecer que temos diabetes», comenta Daniel. Agora o aparelho deteta os níveis de glicose e injeta a insulina, apenas havendo necessidade de ser programado sempre que há ingestão de alimentos. «Quando não comemos nada, ela faz essa função sozinha, através da monitorização contínua», o que dá uma maior liberdade, permitindo que se preocupem menos com medições frequentes, podem dormir noites seguidas sem interrupções para injeções e concentrar-se noutras áreas das suas vidas, onde o desporto assume um papel fundamental.


Nos desportos de combate (MMA e kickboxing), canalizam a energia com prazer

As escolhas desportivas do Daniel e da Daniela são a prova de que a diabetes tipo 1 não impede uma vida plena e de lutar pelo que desejam. Daniel é campeão de Portugal de MMA (Artes Marciais Mistas), um desporto que usa técnicas de artes marciais, como judo, karaté, jiu-jitsu e muay-thai, e de combate, como boxe, kickboxing e wrestling. A mais recente aventura, enquanto esta revista estava a ser impressa, foi a disputa do Campeonato da Europa de MMA, na sua categoria, em Belgrado. «Sentia que estava muito parado e precisava fazer alguma coisa», lembra. «Comecei a ver MMA, e a junção de vários desportos de combate foi apelativo: porquê aprender só um desporto ou dois quando posso aprender todos ao mesmo tempo?».



Daniela, por seu lado, encontrou no kickboxing forma de canalizar energia. «Os desportos que tinha feito, atletismo e natação, nunca despertaram a minha atenção como o kickboxing, nem aquela adrenalina e necessidade que sentia de gastar energia». Nenhum dos dois se permitiu ser limitado pela sua condição. Apenas têm alguns cuidados, como remover a bomba de insulina durante treinos e combates para evitar danos no dispositivo, ou ter uma atenção redobrada às quedas bruscas na glicémia. 

A mensagem final dos irmãos a outras crianças e adolescentes que lidam com a diabetes (ou «como em tudo na vida», acrescenta Daniel) é clara: «Não deixar que a diabetes limite em nada, aceita a doença e segue em frente, porque se estivermos sempre a pensar na mesma situação, vamos acabar por nos restringir e a nossa vida não vai andar para a frente». Daniela complementa o irmão: «viver a vida como se fosse “normal”, com tranquilidade, porque se estivermos sempre a pensar no mesmo assunto, não vai dar».


O campeão nacional de MMA, ao lado do treinador

A diabetes «não impede de fazer nada, mas às vezes causa uma restrição ou outra que conseguimos sempre superar. Por isso é que eu estou aqui hoje e a minha irmã também», reforça Daniel. A diabetes é parte de quem são, mas não os define.
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