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28 outubro 2021
Texto de Pedro Veiga Texto de Pedro Veiga Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Política baseada na evidência

​​​​O impacto dos estudos de economia da saúde na definição de políticas esteve em debate no ISEG​

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De que vale o saber se, depois, ele não ocupa lugar? Ou, nas palavras da presidente da Associação Nacional das Farmácias, «porque é que os resultados dos estudos em economia da saúde não são tidos mais em conta aquando das decisões políticas?» A pergunta foi lançada por Ema Paulino durante a 17ª Conferência Nacional de Economia da Saúde, num painel subordinado ao tema “Economia da Saúde e o contributo para o sector privado”.

Ema Paulino aprofundo o tema com o exemplo britânico do New Medicine Service: «um serviço de primeira dispensa que visa promover a adesão à terapêutica para um novo medicamento para doença crónica que é introduzido na rotina de uma pessoa que já tem um arsenal terapêutico mais vasto». Durante mês e meio, a farmácia faz o acompanhamento dessa adesão à terapêutica e a gestão de quaisquer efeitos adversos que surjam. O serviço, que é pago às farmácias pelo National Health Service do Reino Unido, tem alargado de forma consistente o leque de medicamentos que abrange porque, explicou a dirigente da ANF, «foram feitos estudos económicos e foi identificado que o que é dado às farmácias para o efectuar era amplamente devolvido ao sistema através da poupança gerada por redução de hospitalizações e diminuição de visitas não programadas ao médico». 



E em Portugal? «Existem vários estudos efectuados demonstrando esse custo/efectividade, mas isso depois não tem eco nas decisões políticas», lamentou Ema Paulino, «e não são assacadas responsabilidade a quem, tendo acesso a esta informação e a esta evidência, não implementa as acções que poderiam melhorar a qualidade de vida das pessoas e reduzir a despesa do sistema de saúde, nem que fosse a médio prazo».

Não foi só nas relações entre privados e Estado que a presidente da ANF identificou «este gap entre a evidência que é gerada e a sua implementação». Aproveitando a presença no mesmo painel de José Pedro Inácio, CEO da seguradora AdvanceCare, Ema Paulino anunciou que ia fazer uma provocação: «está mais que provado que, se as seguradoras fizessem investimento em serviços em farmácias, podiam ter resultados, não só do ponto de vista da melhoria da utilização dos medicamentos, mas também em termos de prevenção, mas não há essa demonstração de disponibilidade para reconhecer este papel às farmácias». 



Na resposta, o líder da AdvanceCare identificou dois problemas. O primeiro está relacionado com timing: «enquanto alguém que tem apólices anuais e renováveis, tudo o que são incentivos de longo prazo», como o são parte dos que decorrem da intervenção farmacêutica, «são colocados em causa». O segundo diz respeito à natureza da relação entre as partes: prestadores, clientes e seguradora. Todos querem sair a ganhar, explicou José Pedro Inácio, mas uma solução win-win-win exige equilíbrios. «Quando estamos a falar de sistemas, não podemos ir buscar o melhor daqui, o melhor dali e o melhor de acolá porque, normalmente, quando junto os ingredientes todos, tenho uma couve-flor que não serve para nada», concluiu. O CEO lembrou que, ao contrário de outros, «o seguro de saúde é o único seguro que as pessoas querem comprar». «O seguro tem, não só, a componente de risco normal, mas também uma componente de consumo», explicou, «as pessoas compram e vão usar». Porque no fim, sentenciou José Pedro Inácio, «quem faz a diferença são as pessoas».

A centralidade das pessoas serviu também de tónica às intervenções de Maria José Barros, Directora da CUF Academic Centre. «Na saúde em particular», enfatizou, «as pessoas é que fazem a diferença». A referência, contudo, não era aos doentes. «Partilho convosco um livro que estou a ler que vai ao encontro disto e que diz “Patients come second” porque, na saúde, se nós não colocarmos os colaboradores felizes, motivados e nos lugares certos, o resultado não é bom».


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