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18 fevereiro 2020
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

Máquina de evidência

​​​Ciência mostra o que funciona no sistema de saúde.

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Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (CEFAR) assume como missão avaliar as políticas de saúde e gerar evidência sobre o que tem, de facto, valor para as pessoas. «Só assim se tomarão boas decisões no sistema de saúde», considera António Teixeira Rodrigues, que assumiu há um ano o «desafio gigante» de conduzir este centro de investigação.


Uma das missões é apoiar as farmácias que fazem investigação

Esta ambição tem o duplo objectivo de servir a sociedade e a rede de farmácias. A evidência científica permite «entregar à população melhores cuidados de saúde, em resultado de políticas públicas fundamentadas», acredita o director do CEFAR. Por outro lado, facilita «a valorização do papel das farmácias no sistema de saúde», enquanto fontes de informação, de experimentação e de aplicação de tecnologias.

Poderão as farmácias oferecer algo de novo à sociedade nestas três áreas?

Comecemos pela aplicação de novas tecnologias. A dispensa de anti-retrovíricos aos portadores de VIH/sida é um bom exemplo dessa simbiose. Os doentes ainda são obrigados a deslocar-se aos hospitais para levantar os seus medicamentos, muitas vezes a cem quilómetros de casa. O Programa do Governo previa que pudessem optar por levantá-los numa farmácia perto de casa. Em Dezembro de 2016, o Ministério da Saúde implementou um projecto-piloto, aberto aos doentes seguidos no Hospital Curry Cabral. O CEFAR estudou a experiência e conseguiu demonstrar, por critérios de evidência científica, que ela beneficia os doentes.

O valor das farmácias como fonte de informação é uma área inovadora, mas cada vez mais valorizada por governos, seguradoras, prestadores de cuidados e financiadores dos sistemas de saúde do mundo desenvolvido.

Como é evidente, as farmácias produzem dados úteis ao conhecimento sobre a efectividade e a segurança dos medicamentos em mundo real. 

A informação produzida nas farmácias vai muito para além disso, porque são o serviço de saúde que mais contacta com a população. As farmácias podem detectar surtos de doença, prever tendências e até emitir alertas de Saúde Pública, como aconteceu agora com a gripe [ver pág. 20]. O que distingue o CEFAR de outros centros de investigação é o acesso à rede de farmácias nacional, por onde passam diariamente cerca de 520 mil pessoas. A rede tem um excelente nível de digitalização, o que permite gerar informação em tempo real. As farmácias foram pioneiras em Portugal na introdução de computadores, antes dos bancos e das repartições públicas, e em pouco tempo generalizaram a receita electrónica. Por outro lado, são dotadas de um corpo profissional qualificado, com mais de três farmacêuticos por farmácia.


«Somos vistos como o laboratório ideal para fazer milhares de coisas pela saúde», assegura António Teixeira Rodrigues, director do CEFAR

Quanto à experimentação, o CEFAR está a suportar a realização de diversos ensaios na rede portuguesa, como por exemplo a medição da efectividade de medicamentos para a dor crónica. A adesão à terapêutica é outra área onde há muito trabalho em curso e realizado. «Somos vistos como o laboratório ideal para fazer milhares de coisas pela saúde, em Portugal e em toda a Europa», assegura António Teixeira Rodrigues.


O CEFAR trabalha em rede com académicos e centros de investigação

O CEFAR trabalha em rede com académicos e centros de investigação de várias áreas, das ciências da saúde às tecnologias, empenhados em gerar evidência útil à tomada de decisão sobre políticas de saúde. O trabalho colaborativo com redes e grupos de trabalho, nacionais ou estrangeiros, é uma tendência crescente. «Abrirmo-nos ao exterior tem sido a melhor forma de incorporarmos conhecimento novo e não enquistarmos», observa o director do CEFAR.

O futuro implica cada vez mais parcerias. Desde logo, é preciso «sensibilizar os farmacêuticos para a vantagem de recolherem informação de qualidade e participarem em estudos». O CEFAR suporta as equipas das farmácias dispostas a dedicarem parte do seu tempo a fazer investigação.

Depois, é preciso estimular a colaboração entre as farmácias e outros prestadores de cuidados de saúde. «Quando conseguirmos pôr as estruturas a partilhar informação, o passo seguinte é partilharem intervenções em Saúde Pública. Com isso, seremos capazes de desenhar serviços de saúde verdadeiramente inovadores, que mudem a vida das populações», afirma António Teixeira Rodrigues. Nos últimos tempos, reconhece «sinais positivos, no sentido de uma maior colaboração entre os sectores público e privado, mas ainda limitada a momentos específicos e projectos particulares». O director do CEFAR sonha com o dia «em que todos possamos livrar-nos de vez de uma lógica de “silos”, colocando o interesse do utente em primeiro lugar».


Os cientistas das farmácias

Na sala ampla, organizada em ilhas, trabalham os 18 elementos do CEFAR: farmacêuticos, economistas, matemáticos, doutorados em Epidemiologia da Saúde, inteligência artificial ou machine learning. Alguns acumulam anos de experiência, na “casa” ou na academia, outros vieram de diferentes centros de investigação ou acabaram de sair das faculdades.

O CEFAR tem conseguido ser «atractivo para pessoas que querem fazer investigação e ciência num contexto diferente do académico», garante António Teixeira Rodrigues. O jovem director tem experiência na área da Epidemiologia em Saúde Pública. Vem da academia “tradicional”, em Portugal e na Inglaterra. Nas novas funções, conserva intactas as regras da ciência. «Definidas as linhas ou áreas de investigação, trabalhamos com total liberdade, transparência e independência», garante.


O CEFAR recolhe diariamente dados para dezenas de projectos

O grande crescimento do CEFAR, nos últimos anos, decorre da diversificação das áreas de investigação. Tem investido na formação da equipa e na contratação de pessoas com capacidades técnicas em novas áreas, como big data, data analytics e data mining, que se dedicam à recolha, tratamento, análise e pesquisa de informação relevante em grandes conjuntos de dados, como os provenientes do sistema informático da rede de farmácias; e machine learning, campo da engenharia informática relacionado com a inteligência artificial.

«Estamos a conseguir ter mais inovação e entrar noutras áreas», confirma Sónia Romano, farmacêutica e investigadora sénior, responsável pela área de Farmácia e Saúde Pública. Na sua opinião, «o CEFAR modernizou-se, reforçou a abertura ao exterior e é cada vez mais reconhecido ». Hoje conta com uma equipa madura e ambiciosa. «Essa ambição vai fazer-nos crescer sustentadamente, explorando a inovação, as parcerias e as farmácias, a razão da nossa existência», diz José Pedro Guerreiro, Tem 17 anos de casa, é responsável pela área de Bioestatística. Numa só frase usou as três palavras que melhor resumem a identidade do CEFAR hoje: inovação, parcerias, farmácias.




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