Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
1 agosto 2025

Passar tempo em família

​O caminho para a criação de memórias afetivas.

Tags

Texto de Filipa Lopes | Psicóloga da infância e adolescência na Clínica MIM (www.clinicamim.com)


Vivemos numa era marcada pelo ritmo acelerado e a atenção fragmentada entre ecrãs, consumidos pelas pressões constantes para corresponder a desafios profissionais e pessoais. Passamos a vida em piloto automático e são os relógios que ditam a cadência dos nossos dias. Enquanto adultos, desempenhamos múltiplos papéis em simultâneo: somos profissionais, cônjuges e pais ― e conciliar todos estes papéis é, cada vez mais, um desafio. Muitos adultos referem não ter tempo para estar com os seus filhos ou parceiros. Outros sentem dificuldade em ligar-se emocionalmente, mesmo estando fisicamente presentes.

Passar tempo de qualidade exige envolvimento, atenção plena, partilha e afeto, e estes momentos são determinantes para o fortalecimento dos vínculos e da saúde das relações. Por isso, parar torna-se tão difícil quanto necessário. É nos momentos de pausa que nos conectamos realmente.

Mais do que momentos de lazer, as férias em família assumem um papel vital no equilíbrio afetivo, na reconstrução emocional e no desenvolvimento familiar. As experiências em família trazem importantes benefícios, não só para as crianças, mas também para os adultos. São excelentes oportunidades para criar memórias afetivas que transcendem o conceito de boas lembranças, assumindo-se como referências internas de amor e segurança, que servirão como âncoras para futuros desafios. São momentos em que pais e fi lhos se conectam verdadeiramente e se dedicam à relação, permitindo romper padrões relacionais desajustados, reconstruir vínculos e criar uma relação baseada no diálogo, na partilha e na compreensão mútua. Além disso, as férias assumem um papel importante na aprendizagem das crianças, fomentando o pensamento crítico, a resolução de problemas e a resiliência.

Para os pais, dedicar tempo de qualidade em família representa abandonar o peso da obrigação e assumir o papel da presença. Isto permite-lhes reequilibrarem-se do desgaste das rotinas e tomar consciência do prazer de ser cuidador. Brincar, fazer caminhadas na Natureza, montar puzzles, cozinhar em família ou simplesmente partilhar uma refeição sem a pressão do relógio são atividades simples que podem representar "balões de oxigénio" para todos os envolvidos.

No entanto, não nos podemos esquecer da relação conjugal. Ser mãe e pai implica responsabilidade, presença e dedicação ― natural e inevitavelmente. Não obstante, o papel parental não deve absorver a atenção do casal, sob o risco de tornar secundária aquela que é a base da estrutura familiar. Uma vez negligenciada, a relação conjugal torna-se meramente funcional e vulnerável ao desgaste emocional causado pelos fatores externo. Assim, dedicar tempo de qualidade ao casal não deve ser visto como um ato de egoísmo, mas sim como um investimento no bem-estar familiar. Quando o casal está emocionalmente conectado, toda a família beneficia com isso: os pais sentem-se mais felizes, apresentam menos stresse e têm maior propensão para adotar estilos parentais adaptativos, o que se traduz numa maior estabilidade emocional nos filhos.

Cuidar da relação conjugal é manter viva a base familiar. E cuidar da família é mais do que cumprir responsabilidades, é nutrir vínculos. Relações familiares saudáveis constroem-se quando escolhemos parar, escutar e estar inteiramente presentes. E esta presença é o melhor que podemos oferecer aos nossos filhos, aos nossos parceiros e a nós próprios.