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30 dezembro 2020
Texto de Nuno Monteiro Pereira (urologista, andrologista) Texto de Nuno Monteiro Pereira (urologista, andrologista)

Os avanços da ciência na infertilidade

​​​​​​Ter poucos espermatozóides ou de fraca qualidade já não significa não poder ter filhos.
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Considera-se que um casal é infértil quando, mantendo relações sexuais de forma regular e não usando métodos contraceptivos, não consegue engravidar no período de dois anos. No caso do homem, a infertilidade costuma dever-se à alteração da quantidade ou qualidade dos espermatozóides. A causa mais frequente, que explica cerca de um terço dos casos, é o aumento continuado da temperatura dos testículos, que, para que se dê o normal desenvolvimento espermático, deve estar cerca de três graus abaixo da temperatura corporal. 

É o que acontece com o varicocele, uma patologia em que existem dilatações varicosas das veias dos testículos, cheias de sangue quente. A permanência em temperaturas ambientais elevadas, como acontece nos padeiros, fogueiros e outras profissões, também pode diminuir a capacidade fértil. Ainda existem causas relacionadas com os próprios órgãos genitais, como malformações do pénis, obstrução dos canais que transportam os espermatozóides dos testículos até ao exterior, problemas de erecção ou dificuldade ejaculatória.

Mas, para além de factores genitais, existem ainda factores ambientais, sociais e terapêuticos. 

A exposição profissional a alguns agentes químicos, como o chumbo e o magnésio, pode ser prejudicil ao desenvolvimento das células germinativas espermáticas. Entre os hábitos sociais, o mais importante é, sem dúvida, o consumo de drogas, em especial canábis, cocaína e heroína. O consumo crónico de álcool pode também levar a importantes modificações dos padrões espermáticos. O tabaco, especialmente nos grandes fumadores, pode igualmente inibir a espermatogénese, através do efeito directo da nicotina. E existe ainda uma extensa lista de medicamentos espermotóxicos – como a cimetidina, ciclosporina, colchicina, alopurinol, nitrofurantoína, sulfamidas e anabolizantes esteróides – para além da quimioterapia e da radioterapia, que podem ser causa de infertilidade masculina. 

Diagnosticar infertilidade de causa masculina é simples: basta fazer um espermograma, um exame microscópico ao esperma que avalia a quantidade de espermatozóides e a possível falta de vitalidade ou problemas da sua morfologia. Existindo alterações no esperma, pode ser necessário fazer análises hormonais e exames imagiológicos. A ausência completa de espermatozóides no esperma pode obrigar à realização de biopsia dos testículos, para confirmar se, a esse nível, eles também não existem. Os tratamentos da infertilidade de causa masculina podem limitar-se à supressão dos factores causais referidos, particularmente quando as alterações espermáticas são ligeiras. Muitas vezes, apenas pela correcção desses factores, há melhoria significativa dos padrões do espermograma. Em algumas situações pode ser possível uma terapêutica dirigida à causa do problema, como acontece com determinadas situações hormonais, imunitárias e infecciosas. No caso do varicocele, de malformações penianas e, em alguns casos, de obstrução da via espermática, a cirurgia pode ser a solução.

Um caso muito particular é a chamada infertilidade idiopática, nome que indica não se reconhecer ou descobrir qualquer causa para o problema. Nesses casos, podem ser utilizados tratamento empíricos, hormonais ou não hormonais. A medicação não hormonal, não sendo garantida nem sequer bem fundamentada, é por vezes eficaz. Têm sido utilizados, por exemplo, o zinco, o ácido folínico, a pentoxifilina, a arginina, a calicreína e o captopril. 

Actualmente, os tratamentos não hormonais, e até muitos dos hormonais, estão praticamente abandonados e substituídos pelos extraordinários avanços das técnicas de reprodução assistida. A reprodução medicamente assistida revolucionou o tratamento da infertilidade de causa masculina. A prática de muitos centros passou a centrar-se na ICSI (injecção intracitoplasmática de espermatozóide), desprezando totalmente os tratamentos médicos e muitos dos cirúrgicos utilizados há alguns anos. 

A ICSI é uma técnica realizada com microscópio, instrumentos delicadíssimos e muito treino e experiência do técnico, geralmente um biólogo embriologista ou um médico especialista em medicina de reprodução. Em teoria, a única limitação da técnica é a inexistência de espermatozóides com capacidade fecundante.
 
Captura-se selectivamente um único espermatozóide e, que é introduzido no interior do citoplasma de um óvulo, para se conseguir o início do desenvolvimento embrionário. As mais elevadas taxas de sucesso não ultrapassam os 45 por cento. É também uma técnica dispendiosa, de difícil aprendizagem, que induz algum sofrimento e morbilidade na mulher. Nos homens também pode haver algum desconforto se o esperma não contém espermatozóides, já que será preciso ir procurá-los directamente nos testículos, por aspiração ou por biopsia.
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