Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
5 maio 2018
Texto de Nuno Monteiro Pereira (Urologista e Andrologista) Texto de Nuno Monteiro Pereira (Urologista e Andrologista)

O medo faz mal à próstata

​​Conheça aqui os mitos sobre a doença e a cirurgia.

Tags
​O aumento da glândula é conhecido pelo nome de hipertrofia benigna da próstata, muitas vezes referida pela sigla HBP. Embora a próstata cresça durante toda a vida do homem, a HBP raramente causa sintomas antes dos 50 anos, mas cerca de metade dos homens com 60 anos e 90 por cento dos homens com 80 anos têm sintomas. Essencialmente, os sintomas de HBP são urinários e devem-se à obstrução da uretra e à gradual perda da função da bexiga. Os sintomas mais comuns são as micções frequentes, especialmente notadas durante a noite, o jacto urinário fraco e a sensação de urgência miccional, por vezes com pequenas perdas involuntárias de urina. Sintomas de disfunção sexual não são habitualmente referidos pelos doentes de HBP. No entanto, se forem questionados sobre o assunto, esses sintomas existem e podem estar relacionados com a doença. As alterações da função sexual referidas pelos doentes prostáticos são quase sempre de diminuição da capacidade eréctil. Mas é difícil assegurar que as queixas erécteis sejam directamente causadas pela HBP, pois muitos homens da mesma idade referem diminuição da performance eréctil sem terem sintomas obstrutivos urinários ou sem que a próstata esteja significativamente aumentada de volume. 

​​Diferente é a diminuição da força e o volume da ejaculação. São queixas devidas ao aumento da dimensão da próstata, que reduz a força da micção e da ejaculação, embora o doente geralmente as enquadre nos sinais da idade, não lhes dando particular atenção ou preocupação. É relativamente comum que homens de 50 anos, sem HBP significativa, refiram receios em relação à próstata quando começam a notar problemas sexuais. É o velho mito da relação entre a idade, a próstata e a sexualidade. Na verdade, a partir da meia-idade existe uma série de sinais biológicos que podem traduzir perda da capacidade viril. É o caso do enfraquecimento muscular, da diminuição de pilosidade, da baixa da actividade sexual.

Esse início de andropausa é acompanhado de sinais que, embora menos evidentes e intensos do que os da menopausa, se exprimem pelo aparecimento de adiposidades, situações de taquicardia, irritabilidade, insónia e, até, rubores faciais. Notando os sinais da andropausa fisiológica, o homem a partir da meia-idade começa a ficar preocupado. Nos últimos anos, com o aumento da esperança de vida, tem crescido o número de doentes prostáticos. Em Portugal realiza-se anualmente cerca de dez mil operações por HBP. Uma das maiores preocupações masculinas, quando são confrontados com a necessidade de fazerem uma operação à próstata, são as consequências da operação sobre a vida sexual. Também aqui alguns mitos e falsas informações contribuem para alguma confusão. A cirurgia prostática por HBP pode produzir impotência em cerca de 15 por cento dos homens operados por cirurgia "aberta" e em apenas cinco por cento dos homens submetidos a cirurgia endoscópica transuretral. Mas muitas vezes a preocupação sobre a função sexual provoca mais problemas do que a própria operação. Compreender o que se passa geralmente permite que o homem retome a sua função sexual mais cedo.

Embora a maior parte dos homens continue a ter erecções normais após a operação, quase todos passam a ter os chamados orgasmos secos, ou seja, passam a ter sensação de clímax sexual sem haver emissão de esperma para o exterior. Esse fenómeno deve-se ao facto de a cirurgia remover o esfíncter interno, o anel muscular situado logo abaixo da bexiga. Não encontrando resistência à sua passagem, o esperma, em vez de passar para o exterior, entra na bexiga, onde se mistura com a urina. É a chamada ejaculação retrógrada.

O orgasmo, a sensação de prazer no momento do clímax sexual, não desaparece nem diminui com a cirurgia. Hoje, os homens e as mulheres idosos já não pertencem às gerações cujo paradigma normativo era o chamado "modelo sexual reprodutivo". Este, dominante no século XIX e na primeira metade do século XX, marginalizava todas as sexualidades que se afastassem do coito com fins reprodutivos. Hoje, os homens e as mulheres idosos têm uma mentalidade mais aberta e livre, não desprezando viver a sua sexualidade.
Notícias relacionadas