Enfrentar uma doença oncológica é, acima de tudo, um labor íntimo, totalmente subjectivo: não há duas pessoas iguais. Cátia Freitas, que até ao seu diagnóstico dizia ser uma pessimista assumida, sacudiu o fatalismo. Consciente de que «o estado de espírito, as emoções não resolvidas, o stress excessivo e a forma como se pensa têm óbvia influência no sistema imunitário», focou-se imediatamente na cura.
Incorporou a atitude, manteve-se bem-disposta, mas nem sempre foi bem interpretada. «Ouvi um par de vezes: “Estás em negação”. Não, não estava. Simplesmente, o cancro é uma degeneração das nossas células, e eu decidi que não fazia sentido encetar uma luta contra mim mesma. Procurei, portanto, o que está ao meu alcance fazer, e deixei que os médicos se preocupassem com a parte deles».
Nunca pensou muito nos comentários inoportunos, as pessoas não são mal-intencionadas. Mas a verdade é que têm peso no momento em que são proferidos, confessa. Foi um convite de uma clínica de psicologia para desenvolver um projecto de ilustrações na área da saúde mental que a fez reflectir sobre o assunto. «Uma das propostas era sobre como comunicar com doentes oncológicos. Parece-me algo realmente útil, porque há frases ditas inadvertidamente que não caem bem a quem está mais fragilizado».
Exemplos disso são expressões como “coitado”, “pobrezinho”, “os meus sentimentos”… Sim, há disto e não deveria. «O discurso do “coitadinho” não interessa, até porque há pessoas que se revêem nele e reforçá-lo não as ajuda. Não é um pensamento que deva ser incentivado».
Por outro lado, o “tem calma” ou o “sê positivo” podem não ser exactamente as palavras de conforto que se imagina.
Mais uma vez, enfrentar uma doença oncológica é, acima de tudo, um caminho íntimo, feito de muitas e diferentes etapas. E como não existem duas pessoas iguais, também não há receitas perfeitas e infalíveis. Por isso, para Cátia, não há nada mais acertado e poderoso do que um “estou aqui para ti” consequente. «Estar disponível, aparecer, fazer companhia, demonstrar o amor e a amizade em pequenos gestos práticos e coisas úteis, isso sim, deve ser a postura de quem rodeia um doente com cancro».