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VIH
8 fevereiro 2019
Texto de Carlos Enes e Irina Fernandes Texto de Carlos Enes e Irina Fernandes Fotografia de Alexandre Vaz Fotografia de Alexandre Vaz

O programa de prata

​​​​​​​​​​​​​​Odette Ferreira mudou a saúde pública há 25 anos.

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Um programa tão polémico, mas tão bem feito!». O depoimento da farmacêutica Maria Odette dos Santos-Ferreira, projectado no palco, encheu de emoção a Estufa Fria, na celebração dos 25 anos do Programa Troca de Seringas (PTS). A mulher que revolucionou o combate à sida em Portugal foi a convidada natural e a grande estrela da manhã de 5 de Dezembro no Parque Eduardo VII, em Lisboa. Ausentou-se dois meses antes, o que a tornou ainda mais inspiradora.

O mundo da saúde pública manifestou a Odette Ferreira o seu profundo reconhecimento. «Foi uma verdadeira pioneira para a época», elogiou Raquel Duarte, médica pneumologista e secretária de Estado da Saúde. O PTS foi «criado a partir da sua determinação e coragem», declarou a directora-geral da Saúde, Graça Freitas. «Somos um caso de sucesso a nível internacional apenas porque ela existiu», disse Paulo Cleto Duarte, presidente da ANF. «O tempo de vida de Odette Ferreira era dedicado a trabalhar para garantir a dignidade, o respeito e os direitos dos mais vulneráveis», resumiu Ana Paula Martins, bastonária da Ordem dos Farmacêuticos.

O PTS revolucionou mentalidades. Quando surgiu, nos anos 80, a sida semeou um medo apocalíptico na sociedade portuguesa. Muitos profissionais de saúde viviam aterrorizados pelo risco de contágio. Odete Ferreira conseguiu mobilizar os colegas farmacêuticos de todo o país para trocar seringas aos toxicodependentes, um grupo de risco duplamente estigmatizado. O PTS «veio ajudar a sensibilizar a população, desmistificando a carga mais negativa e promovendo um novo olhar sobre a toxicodependência», recordou a secretária de Estado.


O mundo da saúde pública manifestou a Odette Ferreira o seu profundo reconhecimento

O PTS foi pioneiro a nível mundial. A troca de seringas tornou-se fácil para os utilizadores de drogas injectáveis em qualquer ponto do território, o que fez do programa português único. As outras experiências internacionais eram, em maior ou menor grau, localizadas. «É a maior intervenção em saúde pública estruturada que existe no nosso país», declarou o presidente da ANF na cerimónia dos 25 anos.


«Odette Ferreira foi uma verdadeira pioneira», elogiou Raquel Duarte, secretária de Estado da Saúde

Tal como imaginado pela sua mentora, o PTS mostrou pela primeira vez o potencial da rede de farmácias para a saúde pública. Quatro meses depois do arranque, as farmácias já trocavam 200 mil seringas por mês. «Este dado demonstra a importância de se ter utilizado a rede de farmácias para chegar aos utilizadores», reconheceu Isabel Aldir, directora-geral do Programa Nacional para a Infecção VIH e Sida e do Programa Nacional para as Hepatites Virais.



O PTS foi a bala de prata da saúde pública em Portugal, atingindo rapidamente resultados impressionantes. «No final dos anos 80, um por cento da população portuguesa era utilizadora de heroína. Era uma verdadeira brutalidade», evocou João Goulão, presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências. De acordo com uma auditoria da Exigo para a Comissão Nacional de Luta Contra a Sida, o PTS evitou 7.283 novas infecções por VIH-sida por cada 10.000 utilizadores de drogas injectáveis. O Estado poupou, no mesmo período, entre 400 milhões e 2.000 milhões de euros em tratamentos e outros custos com doentes evitados nos primeiros oito anos de Programa.
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