Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
ANF
24 junho 2024
Texto de Maria da Luz Sequeira | Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações dos 50 anos da ANF Texto de Maria da Luz Sequeira | Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações dos 50 anos da ANF Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

O meio século da nossa ANF deve encher-nos de orgulho

​​​​​«Aproveitemos o sentimento desta nossa data histórica, que se aproxima, para nos unirmos mais uma vez».

Tags
É sempre notável e digno de registo o simples facto de uma entidade atingir cinquenta anos de existência.

O meio século da nossa ANF deve encher-nos de orgulho. É um marco histórico demasiado importante para não ser comemorado condignamente, por tudo o que significa. Aqui presto a minha homenagem aos seus fundadores e aos que deram continuidade ao seu trabalho, que simbolizo na pessoa do colega João Cordeiro, seu presidente e impulsionador durante largos anos.

Como nos ensinam os historiadores, a profissão farmacêutica surgiu do aglutinar da sabedoria árabe com o conhecimento greco-romano. Os boticários tornaram-se os especialistas do medicamento no século XIII, com local próprio para o exercício da sua actividade: a botica. A primeira referência ao boticário remonta ao ano de 1338, no reinado de D. Afonso IV.

Mais perto de nós, as farmácias chegaram mesmo a ser local de reunião e debate de ideias científicas, mas também literárias e políticas. No século XIX, as mais destacadas figuras nacionais, professores, médicos, farmacêuticos, advogados, e até padres, debatiam o pensamento liberal e progressista que cá chegava. Tolentino e Bocage terão frequentado a botica Azevedos, conspirando com outros correligionários pelos seus ideais republicanos.

A estagnação da farmácia anterior ao 25 Abril e a posterior instabilidade político-social impulsionaram um grupo de jovens farmacêuticos a transformar o Grémio Nacional das Farmácias, até aí muito espartilhado política e economicamente, numa associação de nova dinâmica. Seria a ANF – Associação Nacional das Farmácias. Era o início de uma nova era para as farmácias portuguesas.

As farmácias aderiram de boa vontade a este projecto que lhes perspectivava maior autonomia do sector farmacêutico e mais eficaz representação dos seus interesses. Perceberam que era vital estarem unidas. Os interesses particulares eram mesquinhos face ao que a Farmácia poderia ser no futuro.

Têm sido várias as frentes de actuação da ANF. Sublinho algumas:
  • Na década de oitenta, a informática despontava. A ANF foi pioneira nesse início da explosão digital que hoje conhecemos, adaptando exemplarmente os seus benefícios ao funcionamento das farmácias.
  • Formação Contínua.
  • Centro de Informação do Medicamento e Intervenções em Saúde (CEDIME), Laboratório de Estudos Farmacêuticos (LEF) e Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (CEFAR). Importantes para garantir fiabilidade e segurança ao medicamento e cuidados de saúde de qualidade.
  • Criação de projectos de apoio à população. Serviços farmacêuticos inovadores, desde a troca de seringas e recolha de radiografias, até ao recente projecto de vacinação, sem descurar a defesa ambiental, através de parceria na sociedade VALORMED.
  • Genéricos. A ANF cedo percebeu que o aumento exponencial de custos para o Estado e os doentes, resultante da maior longevidade e do acesso dos cidadãos a mais cuidados de saúde, tinha nos genéricos um aliado. Foram memoráveis os acérrimos debates televisivos em ambiente de desinformação "científica".
  • Plataforma Saúde em Diálogo, um ponto de encontro para a promoção da saúde e protecção da doença.
  • Departamento de Apoio aos Associados (DAA), para suporte e orientação dos associados.
  • No plano cultural, o Museu da Farmácia, que muito nos orgulha, inaugurado simultaneamente com a nova sede da Associação, teve origem na colecção de peças acumuladas pelos colegas Guerreiro Gomes e Salgueiro Baço, e foi fruto da sua perseverança, que aqui também homenageio.

Como disse António Arnaut, o “pai do Serviço Nacional de Saúde”, as farmácias são o braço longo do SNS. É exactamente este enorme potencial das farmácias comunitárias que tem de ser aproveitado.

Os próximos anos serão desafiantes. Quer porque o cidadão é mais e mais exigente, quer porque a tecnologia avança a ritmo imparável e o novo mundo da IA não pode ser descurado.

As tecnologias disponíveis nos cuidados de saúde irão impor novos modelos de prestação de cuidados de saúde, mais ágeis e eficientes. Fazer das farmácias a rede de cuidados de saúde primários deve ser uma imposição lógica. 

Há que consolidar um modelo de intervenção que aproveite os recursos existentes nas farmácias, através da prestação de cuidados personalizados nas situações clínicas ligeiras, na preparação individualizada da medi- cação, na dispensa de medicamentos em proximidade, na renovação da terapêutica. 

Em 2023, foi apresentado o Livro Branco das Farmácias Portuguesas. É uma peça essencial para o desenvolvimento contínuo das farmácias em Portugal, projetando o futuro do sector e da sua acção no contexto da saúde, com as farmácias a desempenhar um papel fundamental em cada etapa da jornada de saúde do indivíduo.

A ANF, como sempre acontece, passou por momentos mais e menos felizes. Teve momentos de grande sucesso e outros de grande preocupação. Aproveitemos o sentimento desta nossa data histórica, que se aproxima, para nos unirmos mais uma vez e, em espírito construtivo, contribuirmos para soluções pragmáticas e desapaixonadas.

Os nossos cinquenta anos assim o exigem. Temos mais uma vez de estar à altura das nossas responsabilidades.

(Escrito segundo o antigo acordo ortográfico)