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8 fevereiro 2021
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

«O mais importante é assumir»

​​​​Paula Neves encontra na natureza a solução para a ansiedade.

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Mora na serra de Sintra há cinco anos. Porque decidiu viver numa zona próxima do campo?
Gosto da natureza, dos animais, de estar sozinha no meio dos montes, não ter vizinhos, subir a serra de pijama sem ninguém me ver. Sintra foi um chamamento. Ao longo dos anos fui-me afastando da cidade, até que tive mesmo o apelo de ir para um sítio com terra, com chão. É importante para mim a terra, sujar as mãos.

Como ocupa os dias?
A passear os dois cães, a tomar conta do quintal e da horta. No Inverno, eu e o meu marido dedicamo-nos à lareira e a cozinhar. Gosto de uma vida muito simples. Boa comida, muito amor, um vinho tinto. Não preciso de muito mais.

A culinária é um hobby.
De ambos, mas não cozinhamos em conjunto, precisamos de espaço. Como a casa é pequena, fomos buscar um bocado da sala para ter mais cozinha. Eu sou mais Chef pasteleira, fazer sobremesas é a “minha praia”. Ele é mais cozinheiro de salgados, dedicado à massa, ao pão, faz sourdough (fermento natural). Guerreamos para ver quem faz o pão no próprio dia [risos].

Que mais gostam de fazer?
Ler, passar fins-de-semana de autocaravana na costa alentejana, em praias isoladas. Gostamos de um ritmo calmo. Eu estou sempre a fugir das pessoas. Trabalho com centenas de pessoas, quando chego a casa só quero não ver ninguém. Ele diz-me: «És um bicho social, tens de viver em sociedade». Ele gosta de conviver. É psicoterapeuta, um trabalho intenso, e precisa de exorcizar.



Vive o casamento como um porto de abrigo.
O meu marido é o pilar da minha vida, sem ele as coisas desmoronam. Para ele é igual. Com esta estrutura estável, podemos arriscar outros voos. Eu arrisco muito profissionalmente e não tenho medo de os personagens me levarem para sítios duros, pois sei que quando chegar a casa o chão é seguro. A nossa vida em comum é o principal. Não sou daquelas pessoas que dizem: «Sem esta profissão morria». Não morria nada! Se pudesse pagar as minhas continhas todas era muito feliz sem trabalhar. Gosto de ler, fazer outras coisas. Representaria por desporto, quando me apetecesse, e vivia lindamente.

Sabe a sorte que é ter uma relação assim?
Sim. Durante muito tempo tive um medo horrível de que a vida me tirasse isto. Quase não conseguia respirar. Ao longo dos anos fui controlando a ansiedade, entregando-me à vida. Volta e meia ainda tenho esses medos. A morte dele é o meu maior terror.

Ultrapassaram juntos uma situação difícil, de infertilidade. Quer partilhar?
Nem eu nem ele temos o sonho de ser pais, mas faria todo o sentido ter um bebé na nossa relação, por isso tentámos tudo o que era possível com técnicas de fertilidade. Quando esgotámos as hipóteses, fomos espreitar o mundo da fertilidade pura, mas não conseguimos mais do que 15 dias. É de grande exigência, que percebemos não ser para nós. Decidimos não ter filhos e foi um alívio, um peso que nos saiu de cima.

Que cuidados tem com a saúde?
Uso diariamente produtos de limpeza e hidratação da pele, que só compro na farmácia. Sinto que o ginásio é cada vez mais necessário, mas sou inconstante, quando estou a trabalhar abandono. Gosto de body pump, ginástica localizada, ioga, desportos que exigem força e concentração. É a única forma de conseguir acalmar a mente.

Faz uma alimentação saudável?
Tenho a preocupação de comer bem, porque passo por grandes crises de apetite. Sou magrinha, não tenho muitas reservas e facilmente “vou ao tapete”, apesar de ter muita energia. Tenho sempre uns comprimidos que me dão apetite. Posso comer de tudo e como de tudo! Dou-me lindamente com gorduras e hidratos.

E o sono?
Durmo muito bem, às 22h estou a dormir e acordo às 6h30. Adormeço com a televisão, embala-me. Hábitos de miúda…

Assume-se como uma pessoa ansiosa.
A ansiedade é um bicho dentro de mim que tem quase as rédeas da minha vida. Antigamente era tudo atribuído ao mau feitio, agora estou atenta e consigo perceber quais são os dias em que tenho um bicho para domar. Sei assim que abro os olhos pela manhã. É como se houvesse um desregulamento biológico.



Que estratégias usa para lidar com a ansiedade?
Sempre que posso lido sozinha, com as minhas coisas, os meus cães, as minhas plantas. Vou para a natureza tratar da terra e fico sem pensamentos. Só consigo o aqui e agora quando estou a trabalhar a terra. Quando tenho trabalho e é preciso interagir, recorro a ansiolíticos, para não ter de mostrar o meu pior lado. Mas evito sempre que posso, pois não me quero viciar. Recentemente descobri outra técnica: ouvir podcasts de crimes reais.

Ainda há pouca aceitação por parte dos outros? 
Há uma certa tendência para dizer: «Estás ansiosa porquê?». Ainda nos fazem sentir culpados por estarmos ansiosos sem razão. As oscilações emocionais são óptimas no meu trabalho porque me permitem um rápido acesso à bagagem emocional, que está à flor da pele. Mas não se pode ter isso e ser uma pessoa muito controlada, razoável e estável. Há quem considere que tenho mau feitio e que sou, às vezes, agressiva.

O que pode ajudar as pessoas ansiosas a lidarem com o problema?
O mais importante é aceitar, assumir, não esconder, não criticar. Não há vergonha nenhuma em ser-se uma pessoa ansiosa, nem é preciso ter causas. Faz parte de nós, come-nos por dentro, é uma guerra diária. É importante não ter medo de dizer que existe e que não há problema nenhum.

Prefere fazer televisão, teatro ou cinema?
O meu primeiro amor é a televisão, mas o que eu gosto é de representar, esta loucura de vestir outras peles. Nada me dá mais prazer que uma cena bem feita, quando se consegue um ou dois minutos de verdade, de arte, de criatividade. São momentos que me alimentam.

Há 20 anos, a sua carreira teve um marco, com a telenovela “Anjo Selvagem”, que lhe colou à pele a imagem da Trinca-Espinhas. Agrada-lhe essa imagem?
Identifico-me com ela. Foi uma personagem muito forte para a ficção portuguesa, para a TVI e para a minha vida. Está no top 3 dos papéis que mais gostei de fazer. Ainda hoje me chamam e recordam a Trinca-Espinhas, e isso dá-me imenso gozo e orgulho.

Que projectos tem em vista?
Pelo menos até ao Verão estarei com a telenovela “Bem me Quer”, na TVI, que está a ter muito sucesso e foi prolongada.

Que sonhos tem para o futuro?
Que a vida continue assim, com o trabalho, o homem que tenho, a nossa vida na natureza, a culinária, o mar, a autocaravana e os cães. Está-se bem. Só peço que a pandemia se resolva ou pelo menos se consiga controlar. Que consigamos viver com isto de uma forma mais normal, protegendo os profissionais de saúde e os mais velhos. Que a situação alivie para que possamos recuperar alguma liberdade e a interacção com os outros, os amigos e a família.

 

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