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5 setembro 2022
Texto de Maria Jorge Costa Texto de Maria Jorge Costa Fotografia de Mário Pereira Fotografia de Mário Pereira

Ninguém fica sem resposta

​​​​​​Farmácias traduzem informação dos medicamentos para refugiados ucranianos em Portugal.​

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Um dia de trabalho, num fim de semana normal, numa rua de Alcântara, em Lisboa. A cidade está de férias, mas na Farmácia Amparo Alcântara o movimento é grande. Além de residentes e turistas, há um denominador comum que salta à vista: utentes ucranianos, que ali vão de propósito.

Svetlana chegou a Portugal no final de março, fugida da guerra. O acolhimento correu bem, mas tinha uma dificuldade para resolver com urgência. Doente crónica, já só tinha medicação para mais uma semana. Passou na primeira farmácia que encontrou e nem queria acreditar na sua sorte. Foi atendida por outra ucraniana, que a ajudou a encontrar forma de renovar a medicação junto do médico do centro de saúde. 

Os cidadãos ucranianos refugiados em Portugal encontram nas farmácias portuguesas um serviço que os apoia na identificação dos medicamentos disponíveis no mercado nacional similares aos que se encontra na Ucrânia. O objetivo é facilitar o acesso aos cuidados de saúde no nosso país. A iniciativa partiu da farmacêutica Sofia Abrunhosa, que, pouco tempo após o início da guerra na Ucrânia, se apercebeu de que chegavam à farmácia refugiados com dúvidas sobre como adquirir a medicação habitual. «Ficavam tão felizes quando a minha colega Natália os esclarecia! Nessa altura percebi que estávamos a ajudar estas pessoas tão fragilizadas». Rapidamente, a palavra espalhou-se e começaram a aparecer mais pessoas fugidas da guerra.


Natália Iazlovitska, refugiada da Ucrânia após a invasão da Crimeia em 2014, é hoje uma ajuda preciosa a quem foge da guerra. Svetlana (à direita) chegou em março

A ajuda de Natália Iazlovitska tem sido preciosa. Também ela é refugiada da guerra na Ucrânia, mas a de 2014, quando a Rússia invadiu a Crimeia. No seu país, era farmacêutica. Em Portugal desde 2015, trabalha como técnica de farmácia, enquanto aguarda a equivalência profissional. A sua presença na Farmácia Amparo Alcântara tem sido determinante para muitos ucranianos refugiados. «Sei bem o que é chegar a um país e não perceber a língua. A forma como os portugueses me acolheram foi muito boa. É a minha vez de fazer algo, ajudando quem chega do meu país, ainda mais fragilizado do que eu e a minha família», conta Natália.

A língua é um muro enorme e, «quando a isto se juntam os caracteres diferentes, que ninguém domina [do alfabeto cirílico e do latim], ainda se torna mais intransponível», explica Sofia Abrunhosa. Foi nesse momento que compreendeu que podia ajudar como farmacêutica: «Como não consigo acabar com a guerra, percebi que podia fazer a diferença a minimizar as consequências da mesma».


A farmacêutica Sofia Abrunhosa teve a ideia de criar um procedimento padrão a partir de pedidos de ajuda na farmácia

Criou um procedimento padrão, através da uniformização de um documento de ligação entre médicos e farmacêuticos, onde é feita, com o auxílio de pessoas que dominam a língua ucraniana, a tradução para português da informação referente aos medicamentos usados naquele país. Prevendo a possibilidade de haver medicamentos cujos princípios ativos não são comercializados em Portugal, a farmacêutica preparou ainda uma proposta de alteração para terapêutica similar.

Com este trabalho de base, contactou a Associação Nacional das Farmácias (ANF), na expetativa de que a iniciativa pudesse ser alargada a todas as farmácias comunitárias. A ideia foi imediatamente acolhida, e o Centro de Informação do Medicamento e Intervenções em Saúde, da ANF, preparou um documento para suportar a intervenção farmacêutica junto dos cidadãos ucranianos, disponibilizando procedimentos de apoio e ferramentas específicas para identificação de medicamentos similares nos dois países.


As farmácias disponibilizam procedimentos de apoio e ferramentas específicas para identificação de medicamentos similares nos dois países

Tratando-se de medicamentos sujeitos a receita médica, o farmacêutico identifica a substância ativa e a sua correspondência em Portugal, encaminhando de seguida a pessoa, com essa indicação, para o serviço de saúde mais próximo, de modo a aceder à avaliação médica e posterior prescrição. A farmácia pode também partilhar com o utente um link para informação sobre os medicamentos, em ucraniano, situação particularmente importante e urgente para as pessoas que vivem com doença crónica.