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12 dezembro 2024
Texto de Teresa Oliveira | WL Partners Texto de Teresa Oliveira | WL Partners Fotografia de Eduardo Martins Fotografia de Eduardo Martins Vídeo de Nuno Santos Vídeo de Nuno Santos

Memórias de infância no laboratório

Recordações de infância das antigas práticas farmacêuticas, em que a maior parte do que se vendia passava pelo laboratório e também pelas mãos de crianças e jovens.​

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Durante a sua infância e adolescência, o futuro farmacêutico Mário Leitão passou horas e horas no laboratório da Pharmácia Brito, localizada no andar inferior da casa para onde foi viver com a família aos sete anos de idade. Lembrando esses tempos do final de 1950 e início de1960, uma época em que a produção da maior parte dos medicamentos ainda era artesanal nas farmácias, recorda também a sua relação ambivalente com o laboratório.

Sentia-se um verdadeiro alquimista quando preparava algumas das «10 ou 12 pomadas» que estavam a seu cargo.  «Pomada de óxido de zinco, pomada mercurocromo, pomada fénica, com fenol, pomada vermelha de iodo», elenca algumas delas. «Dava-me algum prazer ter a vaselina ou a lanolina, fosse lá a massa que fosse, e deitar ali uma coisa que rolava, fugia e dali a dez minutos aquele líquido era incorporado», relembra. «Para mim, era um mistério».

O prazer vinha tanto da feitura quanto do resultado do seu trabalho. Contemplar os boiões e saber que as pomadas tinham saído das suas mãos enchia-o de satisfação e orgulho: «Depois [de fazê-las] olhar para o boião cheio com 100 gramas, 200 gramas. Fui eu que fiz!». Pelo contrário, era com repulsa que realizava outras tarefas como pesar e embalar o inseticida DDT, o «pó para as pulgas», esclarece, ou o borato de sódio para «gargarejo, para a higiene oral e para infeções da pele».  

Se estas tarefas eram semanais, fazer a pomada, pelo contrário, só acontecia de três em três meses. «Era uma festa, estar ali "trac, trac, trac"...», conta, simulando o movimento de misturar as pomadas.  O contrário acontecia quando pesava, embrulhava, carimbava e arrumava os ‘pós’ « 30 gramas de um  lado, 15 gramas [do outro]... ah, era muito enfadonho». 

Quando foi para a Faculdade de Farmácia a prática no laboratório deu-lhe alguma vantagem em relação aos colegas, num tempo em que a manufatura começava a dar lugar à indústria farmacêutica. Lembra, por exemplo, a disciplina de Botânica e o seu conhecimento das plantas mais vulgares na farmácia – «as folhas de sene, as cabeças de papoila, as malvas... até urtigas vendíamos». 

Além de as conhecer, e aos seus usos, recorda os tempos em que as aldeãs vinham vender cestos destas flores e plantas a Ponte de Lima, que depois o seu pai secava para uso medicinal. «É engraçado como havia pessoas na aldeia que cultivavam pimenta», relembra, espantado com o engenho de quem compreendeu como cultivar esta especiaria que originalmente vinha da Índia. «Alguns lavradores percebiam que valia a pena fazer um quilo de pimenta para vender na farmácia. Provavelmente dava-lhe para comprar os remédios todos».

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