A história do folhado de Loulé é uma mistura de tradição e criação de uma marca, da associação da iniciativa pública e privada. Andreia Santos, gerente da LouléDoce, a fábrica de pastelaria que atualmente produz a maior quantidade de folhados e fornece os grandes eventos, é quase uma embaixadora desta especialidade.
Recorda que quando o pai, Fernando Santos montou o negócio de pastelaria nos anos 1980, lembrou-se de incluir entre os artigos que iria produzir os bolos que em rapaz comia quando saía da escola industrial. Comprava-os ainda quentinhos a umas senhoras que os vendiam à hora do lanche na zona nobre da cidade. As senhoras eram duas irmãs que trabalharam na casa de um ilustre da terra, o doutor Bernardo Lopes, e que a certa altura se viram desempregadas. «Faziam a massa em casa, de forma muito artesanal, coziam no forno comunitário e levavam os bolos nos cestos cobertos com um paninho para os venderem por volta das quatro da tarde», conta Andreia. Após a morte das irmãs, este hábito louletano desapareceu.
Quando recuperou a ideia, Fernando Santos decidiu dar-lhe o nome da terra, «porque nunca o comeu fora daqui», revela Andreia. «Acabou por ser o meu pai a batizar o folhado de Loulé», também para o distinguir dos muitos bolos com massa folhada que se faziam.
Mais recentemente, a revitalização do doce ficou a dever-se ao vereador Joaquim Guerreiro, o criador do Med – festival de músicas do mundo - e das Noites Brancas, explica a gerente da LouléDoce. Este vereador, falecido em 2017, pensou: «Se nós temos um bolo, vamos voltar a construir memórias à volta dele, porque todas as cidades têm um». Fez uma tertúlia com vários interessados e começou a reavivar a memória desses tempos. Atualmente, além do produtor principal, a LouléDoce, há várias outros pasteleiros de menor dimensão a fabricar estes folhados.
Com a ideia do então vereador da Cultura de colocar o bolo em todos os eventos públicos, festivais e inaugurações, a tradição renasceu. «Se as pessoas comem folhados todos os dias? Se calhar não. No dia-a-dia, o louletano não come folhados de Loulé», considera Andreia Santos. Mas «ninguém passa no festival MED sem pelo menos comer num dos dias um folhado de Loulé». No Carnaval acontece o mesmo. E em vez de estar associado às quatro da tarde, agora é associado a momentos felizes.