As infeções podem acontecer quando menos se espera. A pandemia de COVID-19 é exemplo de uma infeção com ampla capacidade de contágio, em que é difícil falar em comportamentos de risco. Qualquer pessoa pode ser infetada com uma infeção de transmissão respiratória, sem saber como e onde aconteceu.
O caso das infeções de transmissão sexual (IST) é diferente. O contágio pressupõe a ocorrência de atividade sexual com um ou mais parceiros infetados. A existência de comportamentos de risco é evidente.
Estamos a emergir de um longo período de confinamento e distanciamento social. Os jovens estão ávidos de socializar, viajar, ir a festas. É verão. Os concertos com dezenas de milhares de pessoas estão aí e, com eles, a roupa ligeira e atrevida, a conversa, a dança, o álcool, os corpos que se tocam. Na magia da noite, as hormonas, e tudo o mais, tendem a fazer esquecer os cuidados preventivos. Muitas vezes, os comportamentos de risco confundem-se com comportamentos descontraídos.
Em Portugal, as IST incluem sobretudo a candidíase, o herpes genital e a infeção por clamídia. O caso da candidíase é especial. Sendo a infeção genital mais frequente, tanto em mulheres como em homens, nem sempre é transmitida por via sexual. Deve-se a um fungo comum nos intestinos, que, a partir daí, se propaga para a região genital. É uma infeção considerada oportunista, pois em condições de saúde não causa doença.
O herpes genital é causado por um vírus que ataca as mucosas da região genital, perineal e anal. Provoca mal-estar geral e lesões locais dolorosas em forma de erupções, bolhas ou úlceras. Carateriza-se pela elevada capacidade de reaparecer meses ou anos depois. A clamídia, por seu lado, é uma bactéria que penetra na mucosa da uretra, tanto nos homens como nas mulheres. Provoca sintomas ligeiros, mas desconfortáveis, quase sempre uma sensação de queimadura durante a micção e um discreto corrimento.
Até há poucos anos, dominava também a infeção por papiloma vírus humano (HPV), mas com a introdução, em 2008, da vacinação no Programa Nacional de Vacinação, tem diminuído a prevalência da infeção.
Com menor frequência, surgem as infeções por micoplasma, a blenorragia, a tricomoníase, a hepatite B, a sífilis, o cancroide e o VIH/sida. Qualquer destas infeções é muito contagiosa e pode levar a sintomas desconfortáveis, esterilidade e doença grave.
O método mais eficaz para evitar a transmissão de IST é o uso correto do preservativo. Contudo, o seu uso é recusado ou esquecido por muitos. O tal comportamento descontraído surge, muitas vezes, em contexto de consumo de álcool ou drogas. A negociação do sexo protegido é frequentemente dificultada pela resistência dos homens, alegando perda de prazer e desconforto. O uso do preservativo feminino poderia ultrapassar esse óbice, mas é um método pouco divulgado e utilizado.
Existem vacinas apenas para a hepatite B e o HPV. Espera-se para breve uma vacina para o herpes genital. A hepatite B é a segunda doença mais frequente do viajante, sendo muito recomendável a vacinação para quem viaja com frequência. A vacina do HPV é desde 2008 administrada a raparigas entre os dez e os 18 anos. Em 2019, foi recomendada a vacinação nos rapazes, mas com pouco sucesso, por se considerar que vacinar raparigas já oferece proteção aos rapazes. Existem dezenas de subtipos de HPV, sendo o 6 e o 11 os correlacionados com o cancro do colo do útero, eventualmente também com os cancros anal, vaginal e peniano. Fora do Programa Nacional de Vacinação, é cada vez mais recomendada a vacinação a todas as mulheres, mesmo as que já foram infetadas, porque a vacina pode oferecer proteção a outras estirpes do vírus.