Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
22 maio 2020
Texto de Irina Fernandes Texto de Irina Fernandes

«Esta é a ajuda que nos faltava»

​Desde os sete anos, Álvaro Jesus recebe injecções para crescer. Em Abril o tratamento começou a ser entregue na farmácia perto de casa.

Tags
Quando nasceu, Álvaro Jesus era um bebé «saudável, sem qualquer problema». Os primeiros sinais reveladores do seu mal de saúde chegaram quando ingressou no infantário.

«Diziam-me que ele não falava quase nada», lembra a mãe, Cátia Chagas residente em Quelfes, concelho de Olhão, no Algarve. 

O diagnóstico do problema de crescimento chegou quando tinha sete anos. Hoje tem 13. 

«O peso e a altura não correspondiam à idade. Tinha valores como se fosse dois anos mais novo», explica Cátia Chagas.

Álvaro iniciou o tratamento de hormona do crescimento no Hospital Dona Estefânia em Lisboa, em 2014. Desde então, Cátia vem fazendo o que coração de uma mãe nunca adia: luta pela saúde do filho. 


​Todos os meses, viaja de autocarro de Olhão até Lisboa para conseguir a medicação para o filho. «Felizmente, o tratamento está a resultar. É uma alegria. Ele está muito satisfeito», suspira.

A pandemia COVID-19 trouxe uma mudança ​​​​​há muito desejada: desde Abril, levanta as injecções ao balcão da Farmácia Nobre Sousa, que fica «a poucos metros» da sua residência. Fá-lo ao abrigo da nova norma 003/2020 da DGS/Infarmed, que permite, desde final de Março, a dispensa de medicação hospitalar através de farmácias comunitárias.

«Esta é a ajuda que nos faltava!», confidencia com emoção a progenitora. 

Já Álvaro Jesus, de 13 anos, não poderia estar mais feliz. É que, elogia o próprio, «graças à farmácia, os medicamentos chegam mais depressa». 

Todos os dias, Cátia Chagas administra ao filho uma injecção de somatropina – hormona do​ crescimento humano (Human Growth Hormone) produzida pela hipófise, no cérebro.  

Em 2014, Álvaro Jesus pesava 18 kg e media 1,06 metros. Em 2018, atingiu os 34 kg e 1.33 metros. Hoje, o jovem e pesa 60 kg e mede 1.53 metros. 

Descer a rua e entrar na Farmácia Nobre Sousa é um sonho tornado realidade, confidencia a progenitora.

«Este sistema devia ficar mesmo depois disto do vírus. Foram muitas as vezes que falei deste assunto lá na farmácia do hospital, mas diziam-me que não tinham como me ajudar.

Diziam-me para arranjar alguém que me trouxesse os medicamentos ou pedir ajuda aos bombeiros…».

Responsável pela dispensa de medicação exclusivamente hospitalar na Farmácia Nobre Sousa, a farmacêutica Lúcia Tibúrcio, de 43 anos, tem testemunhado por estes dias o impacto da medida junto das famílias da região. «As pessoas a quem temos dispensado medicação hospitalar agradecem-nos imenso, e já estão a torcer para que esta medida continue após a pandemia». 



A par dos utentes que beneficiam agora da nova dinâmica de dispensa, a profissional defende a continuidade da medida. «Somos o local certo para dar continuidade para este programa. Qualquer farmácia está preparada para o fazer». 

Igualmente a favor do prolongamento é Maria João Nobre de Sousa, 68 anos, directora-técnica da farmácia – que abriu portas em 1998. «Ter de viajar de autocarro, carro ou comboio é cansativo para qualquer pessoa saudável. Imagine-se o que isso significa para uma pessoa que é doente…Não é nada benéfico», frisa a profissional. 

Mulher de carreira longa, Maria João garante que, desta forma, «as pessoas têm a ajuda que lhes falta. Sentem-se seguras e acompanhadas». 

Ajudar a comunidade é um gosto partilhado por si e por toda a equipa.

«Os farmacêuticos são talhados para isto, têm a capacidade de ajudar. Esta é uma maneira de ajudar o utente. É um peso que lhes tiramos de cima».

Sem o transtorno mensal das deslocações e respectivos custos, Cátia Chagas e a família vivem agora dias um pouco mais leves. 

«Eu sou empregada doméstica, faço limpezas, e o meu marido é pescador, não ganhamos muito e esse dinheiro faz-nos falta. Gastar 40 euros, para quem ganha 500 é um grande peso», afirma assumindo «já aconteceu não podermos ir buscar as injecções a Lisboa por falta de dinheiro».

Numa altura em que o país continua a somar novos casos de infecção, Cátia – que até aqui se via sujeita a perder um dia de trabalho – tem consciência de que viajar de autocarro para Lisboa acarreta riscos de contágio do novo coronavírus. «Em Lisboa há muitos casos de infecção. É um alívio para nós terem feito esta medida». 

Álvaro é um rapaz tímido, perde-se de paixão por legos e sonha ser Youtuber. Terá de fazer injecções de hormona do crescimento, «se tudo correr bem», até aos 17 anos.

«Ele tinha complexos em ser pequeno e foi por isso que quisemos experimentar este tratamento. Às vezes, até me diz: ‘Mãe, porque é que não me dás mais quantidade para eu crescer mais depressa?’».

Álvaro está a crescer. A cada dia. Desta vez, de mãos dadas com a Farmácia Nobre Sousa.
Notícias relacionadas