Quando nasceu, Álvaro Jesus era um bebé «saudável, sem qualquer problema». Os primeiros sinais reveladores do seu mal de saúde chegaram quando ingressou no infantário.
«Diziam-me que ele não falava quase nada», lembra a mãe, Cátia Chagas residente em Quelfes, concelho de Olhão, no Algarve.
O diagnóstico do problema de crescimento chegou quando tinha sete anos. Hoje tem 13.
«O peso e a altura não correspondiam à idade. Tinha valores como se fosse dois anos mais novo», explica Cátia Chagas.
Álvaro iniciou o tratamento de hormona do crescimento no Hospital Dona Estefânia em Lisboa, em 2014. Desde então, Cátia vem fazendo o que coração de uma mãe nunca adia: luta pela saúde do filho.

Todos os meses, viaja de autocarro de Olhão até Lisboa para conseguir a medicação para o filho. «Felizmente, o tratamento está a resultar. É uma alegria. Ele está muito satisfeito», suspira.
A pandemia COVID-19 trouxe uma mudança há muito desejada: desde Abril, levanta as injecções ao balcão da Farmácia Nobre Sousa, que fica «a poucos metros» da sua residência. Fá-lo ao abrigo da nova norma 003/2020 da DGS/Infarmed, que permite, desde final de Março, a dispensa de medicação hospitalar através de farmácias comunitárias.
«Esta é a ajuda que nos faltava!», confidencia com emoção a progenitora.
Já Álvaro Jesus, de 13 anos, não poderia estar mais feliz. É que, elogia o próprio, «graças à farmácia, os medicamentos chegam mais depressa».
Todos os dias, Cátia Chagas administra ao filho uma injecção de somatropina – hormona do crescimento humano (Human Growth Hormone) produzida pela hipófise, no cérebro.
Em 2014, Álvaro Jesus pesava 18 kg e media 1,06 metros. Em 2018, atingiu os 34 kg e 1.33 metros. Hoje, o jovem e pesa 60 kg e mede 1.53 metros.
Descer a rua e entrar na Farmácia Nobre Sousa é um sonho tornado realidade, confidencia a progenitora.
«Este sistema devia ficar mesmo depois disto do vírus. Foram muitas as vezes que falei deste assunto lá na farmácia do hospital, mas diziam-me que não tinham como me ajudar.
Diziam-me para arranjar alguém que me trouxesse os medicamentos ou pedir ajuda aos bombeiros…».
Responsável pela dispensa de medicação exclusivamente hospitalar na Farmácia Nobre Sousa, a farmacêutica Lúcia Tibúrcio, de 43 anos, tem testemunhado por estes dias o impacto da medida junto das famílias da região. «As pessoas a quem temos dispensado medicação hospitalar agradecem-nos imenso, e já estão a torcer para que esta medida continue após a pandemia».
A par dos utentes que beneficiam agora da nova dinâmica de dispensa, a profissional defende a continuidade da medida. «Somos o local certo para dar continuidade para este programa. Qualquer farmácia está preparada para o fazer».
Igualmente a favor do prolongamento é Maria João Nobre de Sousa, 68 anos, directora-técnica da farmácia – que abriu portas em 1998. «Ter de viajar de autocarro, carro ou comboio é cansativo para qualquer pessoa saudável. Imagine-se o que isso significa para uma pessoa que é doente…Não é nada benéfico», frisa a profissional.
Mulher de carreira longa, Maria João garante que, desta forma, «as pessoas têm a ajuda que lhes falta. Sentem-se seguras e acompanhadas».
Ajudar a comunidade é um gosto partilhado por si e por toda a equipa.
«Os farmacêuticos são talhados para isto, têm a capacidade de ajudar. Esta é uma maneira de ajudar o utente. É um peso que lhes tiramos de cima».
Sem o transtorno mensal das deslocações e respectivos custos, Cátia Chagas e a família vivem agora dias um pouco mais leves.
«Eu sou empregada doméstica, faço limpezas, e o meu marido é pescador, não ganhamos muito e esse dinheiro faz-nos falta. Gastar 40 euros, para quem ganha 500 é um grande peso», afirma assumindo «já aconteceu não podermos ir buscar as injecções a Lisboa por falta de dinheiro».
Numa altura em que o país continua a somar novos casos de infecção, Cátia – que até aqui se via sujeita a perder um dia de trabalho – tem consciência de que viajar de autocarro para Lisboa acarreta riscos de contágio do novo coronavírus. «Em Lisboa há muitos casos de infecção. É um alívio para nós terem feito esta medida».
Álvaro é um rapaz tímido, perde-se de paixão por legos e sonha ser Youtuber. Terá de fazer injecções de hormona do crescimento, «se tudo correr bem», até aos 17 anos.
«Ele tinha complexos em ser pequeno e foi por isso que quisemos experimentar este tratamento. Às vezes, até me diz: ‘Mãe, porque é que não me dás mais quantidade para eu crescer mais depressa?’».
Álvaro está a crescer. A cada dia. Desta vez, de mãos dadas com a Farmácia Nobre Sousa.