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2 novembro 2018
Texto de Nuno Monteiro Pereira (Urologista e Andrologista) Texto de Nuno Monteiro Pereira (Urologista e Andrologista) Ilustração de Mantraste Ilustração de Mantraste

Ergue-te para a vida

​​​​​A disfunção eréctil nos jovens tem solução.

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​A disfunção eréctil nos jovens abaixo dos 30 anos de idade é um problema pouco frequente e desvalorizado. Mas é particularmente grave pela repercussão que tem a nível pessoal e relacional.

Pode provocar uma forte diminuição da confiança e da auto-estima, com elevados níveis de ansiedade e depressão. A disfunção eréctil é a incapacidade persistente para obter ou manter uma erecção peniana que permita uma relação sexual satisfatória.

Na população com menos de 30 anos de idade, é sobretudo de origem psicológica. Resulta quase sempre de problemas emocionais, timidez excessiva, distúrbios de personalidade, dificuldades de relação, estilos de vida ou a combinação de alguns destes factores. São situações que melhoram e até são ultrapassadas com a maturidade. A maioria das situações, contudo, necessita de apoio psicológico especializado.

Existe, no entanto, uma condição física pouco conhecida, muitas vezes ignorada ou esquecida por médicos e psicólogos a quem o jovem pede ajuda. Na gíria científica é conhecida como fuga venosa. A denominação correcta é insuficiência veno-oclusiva. 

O mecanismo da fuga venosa é complexo. Para melhor entendimento do problema, é importante saber que a erecção peniana é um fenómeno vascular, mediado pelo sistema nervoso.

Existem dois tipos de vasos sanguíneos: as artérias e as veias. As artérias são os vasos que permitem o transporte do sangue bombeado pelo coração em direcção aos órgãos; as veias permitem o retorno sanguíneo ao coração, fechando o circuito que oxigena e nutre todas as células do corpo.

Nos homens muito jovens, as veias são a principal causa física de disfunção eréctil.

Quando os impulsos cerebrais por estímulo erótico chegam ao pénis através dos nervos periféricos, libertam substâncias vasoactivas que fazem relaxar o tecido cavernoso peniano e levam a que o sangue arterial encha as cavidades. O sangue provoca o enchimento do pénis e consequente expansão. Uma erecção não é mais do que o pénis cheio de sangue sob pressão. Mas para que o sangue não escape e a erecção seja suficientemente duradoura é necessária a acção das veias, que têm de encerrar para impedir a saída do sangue. Mal comparado, é como uma banheira: se a quisermos encher, temos de abrir a torneira e fechar o ralo.

Se o ralo abre ou fica aberto, a banheira esvazia ou não enche. Na fuga venosa, a incapacidade das veias suportarem a pressão intra-cavernosa leva ao enchimento incompleto do pénis e à perda da erecção.

A insuficiência veno-oclusiva do jovem é quase sempre congénita, sendo o motivo uma malformação da micro- -estrutura anatómica do pénis. Tipicamente, a disfunção eréctil é detectada na adolescência, quando o rapaz começa a aperceber-se de erecções incompletas e, sobretudo, pouco duradouras. A constatação é notada nas erecções espontâneas, particularmente nas matinais, e aquando da manipulação do pénis. As primeiras relações sexuais são muitas vezes adiadas pela percepção de que o problema existe e determinará o fracasso sexual.

Por vezes a manifestação de uma fuga venosa congénita pode surgir depois da adolescência, mas sempre antes dos 30 anos de idade. Isso acontece na insuficiência veno-oclusiva de menor expressão.

O jovem deve procurar ajuda especializada. Um médico urologista, com diferenciação em andrologia ou sexologia. 

Mas a vergonha, a sensação da masculinidade ameaçada, o desconhecimento do problema e algum fatalismo adiam a decisão. Quase sempre, o rapaz esconde o problema, nomeadamente dos pais. Por vezes só o conta a uma irmã, um irmão ou uma namorada, se eles existirem.

O que pode fazer o médico especialista? Baseado na história clínica e confirmado com um exame   funcional do pénis, pode haver indicação para correcção cirúrgica da circulação venosa no pénis. É uma cirurgia com uma taxa de sucesso variável, consoante a idade de aparecimento da disfunção e a intensidade das queixas. Quanto mais cedo surgirem os sintomas e quanto menor for o grau de disfunção, maior a probabilidade de sucesso. Em termos gerais, pode conseguir-se resolver o problema em cerca de 70 a 80 por cento dos casos, se o homem tiver menos de 30 anos de idade.

Estima-se que a disfunção eréctil atinge 10 por cento dos homens com menos de 40 anos, cerca de 20 por cento aos 50 anos e 30 por cento aos 60 anos de idade. Acima dos 70 anos, mais de metade dos homens tem problemas erécteis.
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