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6 janeiro 2018
Texto de Nuno Monteiro Pereira (Urologista e Andrologista) Texto de Nuno Monteiro Pereira (Urologista e Andrologista)

A grande fobia do macho lusitano

Os portugueses ainda são dos mais cépticos do mundo quanto à contracepção masculina.
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​Existe um verdadeiro 'supermercado contraceptivo' para a mulher: pílulas, dispositivos intra-uterinos, diafragmas, anéis, preservativos femininos, espumas, cremes, geleias, supositórios, pílulas do dia seguinte, implantes, laqueação das trompas. Quando procuramos a oferta para o homem, só encontramos dois produtos: o preservativo e a vasectomia. O contraste é enorme.

Mas não existem outros métodos contraceptivos masculinos? Existem, mas a pílula masculina nunca foi aprovada para utilização corrente já que os químicos testados são tóxicos e os contraceptivos hormonais, embora menos tóxicos, causam efeitos secundários semelhantes aos femininos. 
Quanto a outros métodos, a maior parte são variações técnicas da vasectomia tradicional, muito menos utilizadas, como a vasectomia sem bisturi, os plugs injectáveis de silicone, a injecção percutânea de anidrido strirenomaleico ou, mais recentemente, a injecção de um gel inibidor da actividade espermática, que pode ser revertido com uma nova injecção, de um produto com capacidade para o inactivar.

O melhor método contraceptivo existente é a vasectomia. Apesar de consistir numa cirurgia, é um método eficaz e fácil. É realizável sob anestesia local, em menos de 15 minutos, e muito mais prático e seguro do que qualquer das técnicas contraceptivas femininas. Não pode ser considerado reversível, já que a taxa de sucesso das cirurgias de recanalização não ultrapassa 60 a 70%.

Mas se é tão bom, porque não se faz mais vezes? Algumas crenças sobre o comportamento masculino são, provavelmente, a principal causa do cepticismo que a contracepção masculina consegue, não só por parte dos potenciais interessados e suas parceiras, como também por parte da comunicação social e até da comunidade científica. Possivelmente, são também essas as causas que geraram a lentidão das investigações científicas nesta área.

É opinião quase generalizada que o homem só vai ao médico quando se sente doente, não se preocupa com o planeamento da família, dificilmente se dispõe a utilizar qualquer técnica contraceptiva, nomeadamente cirúrgica.

​Na verdade, o homem moderno preocupa-se com o planeamento da família e aceita cada vez mais ser objecto da contracepção. Para além de mostrar entusiasmo com a ideia de uma pílula contraceptiva masculina, aceita facilmente realizar uma vasectomia. Um em três homens casados, com mais de 40 anos, na Austrália e na Nova Zelândia, fizeram uma vasectomia. Nos Estados Unidos esse número baixa para um em cinco homens e, na União Europeia, para um em 12.

E em Portugal? As estatísticas oficiais são omissas, mas numa estimativa da Sociedade Portuguesa de Andrologia, realizada há alguns anos, concluiu-se que o número de vasectomias realizadas é muito baixo, não ultrapassando trezentas cirurgias anuais, seguramente o número mais baixo de toda a União Europeia.
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