Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
1 junho 2023
Texto de Irina Fernandes Texto de Irina Fernandes Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de Rodrigo Coutinho Vídeo de Rodrigo Coutinho

Encarar o cancro sem tabus

​​​​​Família privile​giou atitude e pensamento positivo perante doença oncológica de João Pedro.​

Tags
«Uma semana antes de conhecermos o diagnóstico do João Pedro, deu uma reportagem na televisão sobre cancro infantil, e eu mudei o canal. Ele era tão bebé, não quis ouvir aquelas coisas… Nunca pensei que, passado uns dias, seria eu a viver aquela situação».

A recordação evoca o mês de maio de 2004 e chega na voz de Alda Guerrinha, mãe de João Pedro, a quem aos 16 meses foi diagnosticado um tumor. 

Para Alda, mãe, como para tantas outras mulheres e famílias, o cancro era, até ali, um «bicho-de-sete-cabeças», o mais temido dos diagnósticos.

Com as lágrimas a correr no rosto, Alda aprendeu que só havia um caminho a trilhar: superar-se, por amor ao filho.«No dia que lhe fizeram a biopsia, eu estava um caco, chorava e chorava…O médico aproximou-se de mim e disse-me: ‘Eu não quero voltar a vê-la chorar! Metade da cura do seu filho deve-se a vocês pais!».

E assim foi. Alda não voltou – nunca mais – a chorar. Fez a promessa que, de ora em diante, João Pedro receberia apenas amor, encorajamento e esperança.«O que é que qualquer mãe ou pai pensa? Porque é que não sou eu que estou doente! Ele estava a crescer, ainda mal sabia o que era a vida e já estava a passar por tudo aquilo», lembra confidenciando que «não podemos inverter a situação, então qual é o papel dos pais? É dar-lhes força!».

O tumor de João Pedro foi removido, tinha então 20 meses. O caminho que se seguiu foi, no entanto, tempestuoso. Ficaria com sequelas para a vida - «tenho de lidar com algaliações e, temporariamente, com a colostomia, que exigem cuidados de saúde diferentes». 

Nada, porém, demoveu a família de o incentivar a sonhar e a viver.«Ele sempre foi tratado como um menino normal, nunca o quisemos diferenciar ou superproteger», conta Alda. 

De bebé a adolescente nunca lhe faltou liberdade. E felicidade. «Mesmo quando havia sido operado recentemente e tinha cicatrizes, vestíamos-lhe uma t-shirt e levávamo-lo a apanhar sol na praia. Ele adorava nadar, até ficava roxo!», conta a progenitora.«Nunca quisemos que ele se sentisse diferente. Temos consciência de que o João é um milagre da vida. Ainda hoje os médicos por onde passamos fazem-nos sentir isso», completa ainda Alda Guerrinha.

Sem meias palavras, e unidos, a família Guerrinha aceitou com frontalidade a nova condição de saúde de João Pedro.«Nunca o tratámos como um doentinho, sempre o tratámos ​como uma criança normal, mas tendo presente que havia limitações e problemas graves», conta Rui Guerrinha, assumindo, no entanto, que «foi uma vida muito instável durante muitos anos, mas, ainda assim, conseguimos mantermo-nos unidos». E já lá vão 19 anos de luta.

Também Raquel atesta que a transparência sempre marcou o discurso e a postura dos pais perante a, então, doença oncológica do irmão. «Os meus pais sempre foram sinceros comigo, preparam-me para tudo».

 


Ao contrário do que seria previsível, João Pedro é hoje o testemunho vivo de um jovem feliz e com sonhos maiores a cumprir. «Gosto muito de ser independente, e, portanto, diria que ter a minha própria casa, o meu emprego e o meu próprio carro são, sem dúvida, objetivos que quero cumprir na minha vida. Conseguindo alcançar isso é mais uma prova de que posso tudo!», atira a sorrir. 
Notícias relacionadas