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2 junho 2022
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de João Lopes Vídeo de João Lopes

Dos arrozais ao choco

​​​​Fátima e Leonardo trocaram o campo pela pesca. «O mar é rico». 

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​A história de Fátima Ricardo e Leonardo Jacinto repete a de quase todos os que cresceram na Carrasqueira, na década de 1960. «As mesmas pisadas que uns davam, davam os outros», resume o responsável da lota. Faziam o exame da escola primária e iam «pedir trabalho ao lavrador». Na Herdade da Comporta havia trabalho todo o ano: «Preparar a terra para semear o arroz, mondar, ceifar», desfia a pescadora. Iam em grupo, a pé, uma hora de caminho para cada lado, mais nove de jornada. «Brincávamos, riamos, chorávamos. Às vezes deixávamos cair o cesto e lá se ia o almoço, a panela era de barro. O caminho dava para tudo», recorda, rindo.

 A história de Fátima Ricardo e Leonardo Jacinto repete a de quase todos os que cresceram na Carrasqueira, na década de 1960

Da geração de ambos, só um rapaz foi estudar, tornou-se engenheiro. «O pai vivia só do mar e o mar é rico, e esse homem tinha dois filhos, a minha mãe tinha 10», resume Leonardo. Trabalhou nas marinas de sal, andou na apanha de ostras, no arroz, foi servente na construção da Torralta. Ainda foi para Alcácer do Sal aprender o ofício de eletricista, mas regressou porque o pai adoeceu. Trazer dinheiro para casa era fazer «a alegria da mãe», explica. Já adulto, trabalhou em Setúbal, na Mague (metalomecânica) e na Inapa (papel). Sentiu-se «um emigrante». Tinha por certo que «não queria ir cavar». O concurso para trabalhar na lota da Carrasqueira, acabada de construir no ano de 1984, pareceu-lhe a sorte grande. 


Casas de colmo na Carrasqueira, de que ainda restam alguns exemplos

Foi também o mar que mudou o destino de Fátima Ricardo, logo depois do 25 de Abril. Sempre teve «cegueira pelo mar, rendia mais», já em miúda acompanhava a mãe à ameijoa. Quando a Herdade da Comporta foi nacionalizada, escolheu largar o campo a troco de uma indeminização. Tornou-se pescadora a tempo inteiro. Todas as manhãs sai cedo no barco ancorado no cais palafítico da Carrasqueira. Apanha choco, ameijoas, minhocas. Muitas vezes dormiu no mar, chegou a ter um colchão no barco. Nunca deixou de trabalhar muito, mas diz que não há comparação. «O 25 de Abril melhorou tudo, os ordenados, as condições. Já somos donos dos terrenos das nossas casas».​​​

Fátima e Leonardo têm outra coisa em comum, além do percurso de vida: adoram a sua terra, é onde se sentem em casa. «Nem que me saísse a sorte grande eu saía daqui», diz Fátima. 

 



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