No terraço com uma vista deslumbrante sobre a barragem da Caniçada, erguem-se as bandeiras dos 48 países que integram a Europa, lembrando que São Bento é padroeiro de todos. O santo, nascido em Itália, fundou a Ordem Beneditina, que se espalhou pela Europa e teve em Portugal bastante aceitação. Por cá chegaram a existir 32 mosteiros da Ordem de Cister, um ramo da Ordem Beneditina, alguns de grande relevância, como em Alcobaça ou em Santa Maria do Bouro.
O sacristão do santuário dedicado a São Bento da Porta Aberta conta que a primeira capela para devoção a São Bento foi construída em 1615 e que o actual santuário data de 1885. A partir do início do século XX, começou a ser muito visitado «pelos povos do Minho e da Galiza», explica Ângelo Pontes. Hoje é o segundo santuário mais visitado no país, depois de Fátima. A grande romaria de Agosto, entre os dias 10 e 15, reúne milhares de pessoas que percorrem os caminhos de São Bento. O pagamento de promessas é «diário, seja Verão ou Inverno».
Os monges de São Bento deram a conhecer ensinamentos de agricultura e botânica, inclusive para a produção de medicação. O santo é sobretudo invocado para resolver problemas de saúde e financeiros, como ter emprego ou conseguir pagar a casa. Por isso é comum ver aos pés do santo, no altar, ossos e casas em cera, como representação dos pedidos.
Primeiro chamado São Bento, o santo acabou por ser conhecido por São Bento da Porta Aberta. «A primeira capela não tinha porta e quando lhe puseram a porta ela aparecia sempre aberta, o que alguns consideraram milagre», explica Ângelo Pontes. O culto a São Bento cresceu sobretudo quando, nos primeiros anos do século XX, a imagem do santo foi roubada e encontrada por dois pastores, numas fragas da serra.
Perto do santuário vivem três irmãs da Ordem de Cister, que vieram de França para fazer renascer a Ordem que por cá vingou durante setecentos anos, desde 1138 até 1834.
Conceição, Fátima e Francisca são monjas, o que significa «pessoas que vivem nos mosteiros», e dedicam os dias sobretudo à oração. Fazem sete orações diárias, a primeira pelas 5h30, a última pelas 22h, normalmente cantada e acompanhada por cítara. O resto do dia é ocupado na horta, de onde retiram o sustento. Produzem e vendem compotas, biscoitos, amêndoas torradas, alguns trabalhos de croché, sabonetes, bálsamos e licores. Também lavam e passam a ferro os têxteis do santuário. «Temos uma vida preenchida», garante a irmã Conceição.
Tudo isto não impede que estejam sempre disponíveis para receber quem as queira visitar. «Interrompemos o melhor tempo do nosso dia para dar ao Senhor. Se estiverem panelas ao lume e é hora de oração, apaga-se o fogão e vai-se para a capela. O mesmo quando chegam pessoas. Implica disciplina interior», reconhece a irmã Conceição.
Num dia de Páscoa, reuniram-se na pequena capela as três irmãs, um pastor protestante e uma rapariga muçulmana, lembra a monja. Não falta gente a querer conhecê-las.
«Pessoas crentes, não crentes, jovens, menos jovens, pessoas com curiosidade. “É a primeira vez que vejo freiras”, disseram alguns. Pronto, maravilha!», conta com um sorriso.
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