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30 dezembro 2020
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de José Pedro Tomaz Fotografia de José Pedro Tomaz Vídeo de Nuno Santos Vídeo de Nuno Santos

A história de Vilarinho da Furna

​​​​​​​​​​Há meio século, a inauguração da barragem no rio Homem condenou a aldeia minhota.

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Durante dez anos, as 57 famílias que habitavam na aldeia de Vilarinho da Furna lutaram contra a decisão de submergir a terra onde viviam, sob as águas da barragem. O caso chegou a tribunal, mas o Estado Novo venceu. A população resistiu enquanto pôde. Continuou a cultivar os campos, só deixou de ali sepultar os mortos. Em 1968, partiram levando consigo os bens que puderam e cinco escudos por cada metro quadrado que possuíam, o valor da indemnização. Alguns ficaram por Terras de Bouro, mas a maioria saiu do concelho. Foi para Vila Verde ou Vieira do Minho, onde procuraram reconstruir o seu modo de vida, ligado à agricultura e à criação de gado.

Vilarinho da Furna era uma aldeia totalmente isolada. A primeira estrada foi construída já durante a construção da barragem.  As pessoas saíam uma vez por mês para comprar tecidos na feira de Campo do Gerês, a dois quilómetros e meio. «A aldeia de Vilarinho era conhecida pelo seu isolamento. Vivia da agricultura e da interajuda. O povo não era alegre, era muito sério», confirma Elisabete Fernandes, assistente técnica no Núcleo Museológico de Campo do Gerês. 

O museu presta homenagem à comunidade de Vilarinho. O próprio edifício foi construído com pedras da aldeia, seguindo a arquitectura das casas originais. Lá dentro reconstrói-se a vida comunitária, nos arados e instrumentos agrícolas, nas cozinhas com os teares, o forno do pão, o fumeiro e o escano (banco comprido, cuja tampa servia de mesa e podia estar presa ao próprio banco ou ao louceiro). A pedra, a madeira e o ferro eram os materiais de eleição. Nas paredes de pedra, a preto e branco, as fotografias relembram o antigo modo de vida: a roupa lavada no rio, as crianças descalças, os pequenos pastores que começavam a aprender o ofício por volta dos 12 anos. 

Elisabete Fernandes, criada numa aldeia próxima, Covide, desfia estórias da vida de Vilarinho da Furna como se da sua própria aldeia se tratasse. «Às quintas-feiras era tocado o corno ou o búzio e todas as casas tinham de fazer-se representar por uma pessoa na Junta, onde todos os problemas eram debatidos», conta, para elucidar como a organização social seguia regras próprias. A autoridade exterior quase não se fazia sentir.

Havia capela e escola até ao quarto ano. Cuidados de saúde não existiam, a cura fazia-se por meio de mezinhas e chás. Vilarinho da Furna era considerada uma aldeia rica. Vivia da agricultura e da pastorícia. Só cabras eram duas mil. «Existia uma estrutura que se chamava “guardar o gado à vez”, em que cada pessoa guardava o gado de todos, durante o número de dias correspondente às cabeças que possuía. Se o pastor perdesse alguma cabeça e fosse provado que tinha havido negligência, tinha de pagar».

Quando o nível da barragem desce, emergem as ruínas das casas da antiga aldeia que todos os anos, em meados de Agosto, continua a ser recordada num encontro que tem lugar no edifício do museu, pelos antigos habitantes unidos numa associação. Meio século depois, «a comunidade mantém o contacto».

Para conhecer mais desta história, peça a #RevistaSaúda deste mês na sua farmácia.​​​​

 

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