Texto de: Manuel Cunha | Pediatra do neurodesenvolvimento, Hospital CUF Descobertas e Hospital CUF Sintra
No primeiro ano de vida, o bebé apresenta uma evolução significativa no desenvolvimento. O recém-nascido, com reflexos de sucção e preensão que lhe permitem a sobrevivência evolui para um bebé com interesse progressivo pela imagem familiar da mãe e do pai, manifestado com o primeiro sorriso. Em poucos meses, adquire a capacidade de se deslocar e explorar o ambiente, de forma autónoma, e começa a falar.
Este processo contínuo é iniciado ainda antes do nascimento, com o crescimento cerebral e a diferenciação das células cerebrais, prolongando-se ao longo da vida. Está dependente de fatores genéticos, como algumas características familiares, transmitidas pelos pais, mas é influenciado por fatores externos, como infeções ou alterações ocorridas durante a gravidez, o parto ou após o nascimento.
O desenvolvimento do bebé é feito por etapas, que apresentam uma sequência de aquisição semelhante, mas cuja velocidade pode variar. Envolve áreas como a motricidade, visão, audição, linguagem, interação social, autonomia e cognição, que evoluem de forma interligada.
O desenvolvimento motor está dependente do ganho progressivo de massa e força muscular, equilíbrio e coordenação dos movimentos. Cerca dos seis meses, o bebé adquire algum controlo do movimento, sendo capaz de agarrar objetos, mudá-los de mão e levá-los à boca. No final do primeiro ano de idade, abana-os para fazer som, bate com eles, coloca-os dentro de recipientes e retira-os. Em termos globais, a sequência habitual das aquisições motoras é: aos três meses, segurar a cabeça; aos seis meses, ficar sentado sem apoio; aos nove, gatinhar; aos 12 meses, ficar de pé apoiado; e, entre um ano e os 18 meses, andar sem apoio.
No que toca à visão, o recém-nascido fixa o olhar na face humana e no primeiro mês reage com um sorriso. Pelos nove meses, já é capaz de reconhecer familiares e de reagir a desconhecidos. Aos 12 meses, tem interesse visual pelas imagens e procura objetos escondidos.
O bebé nasce com a capacidade de aprender qualquer língua, contudo prefere a voz da mãe e a língua nativa, que já ouviu durante a gravidez. Aos três meses o bebé emite monossílabos, começa a imitar sons e gosta do diálogo. Ao sexto mês, vocaliza, dá gargalhadas e reage ao chamamento. Com nove meses, palra com polissílabos, imita sons e responde ao nome. Com um ano, compreende ordens simples (“dá cá” e “põe”), acena com a cabeça, aponta partes do corpo e pode dizer até quatro palavras ou sons que aplica com intenção.
No final do primeiro ano de vida, são sinais de alarme o bebé não suportar o seu próprio peso em pé, não mudar de posição, não pegar em objetos e usar sempre a mesma mão. Se a criança não responde à voz, não emite monossílabos, não estabelece contacto com o olhar, não se interessa pelas brincadeiras e faz sempre os mesmos movimentos, é fundamental procurar ajuda médica.
A família tem um papel crucial em todo o processo de desenvolvimento. A brincadeira e a interação permitem à criança explorar o ambiente e descobrir o mundo.