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2 novembro 2023

Sinal de alarme

​​​​Há situações em que o choro do bebé pode ser sintoma de doença.​

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Texto de Ana Rodrigues Silva | Coordenadora de pediatria, Hospital CUF Coimbra e Hospital CUF Viseu

Os bebés choram por múltiplos motivos, desde fome, fralda suja, frio ou calor, desconforto relacionado com a roupa, necessidade de mimo ou proximidade, e tantos outros.

Ao contrário do que era cientificamente aceite no século XIX, quando Emmett Holt, uma das grandes referências na área da pediatria, sugeria que chorar poderia ser benéfico para o desenvolvimento pulmonar, atualmente sabemos que perante um sinal de desconforto do bebé os adultos devem optar por manter a calma. Ou seja, o bebé deve receber uma resposta tranquilizadora de forma a poder melhorar a gestão das suas emoções perante um evento desconfortável. É aquilo a que se chama modulação sensorial.

Não obstante, o choro do bebé deve despertar sempre a atenção. Principalmente porque algumas vezes pode associar-se a outros sinais ou sintomas que sugerem não se tratar apenas de um desconforto menor ou transitório, mas de um sinal de doença.

O choro em contexto de doença é diferente daquele que traduz apenas um desconforto pontual. Os pais conhecem o seu bebé e as caraterísticas habituais do respetivo choro. Mesmo provocado por cólicas do lactente, apesar de exuberante, é um choro descontínuo, alternando momentos de choro com momentos de calma. O choro relacionado com doença é intenso, habitualmente gritado e contínuo. Nota-se uma irritabilidade exagerada acompanhada de choro inconsolável. Perante comportamentos similares ao descrito, os pais devem pesquisar outros sinais de doença aguda, como febre, alterações na pele (ex: pintinhas), vómitos, diarreia ou dificuldade na alimentação. Um choro inconsolável associado a qualquer um destes sintomas deve motivar a procura de observação médica especializada.

Há ainda episódios em que o choro ou a irritabilidade constituem apenas a fase inicial de um episódio de doença. Esteja atento às situações em que o bebé aparentemente melhora o seu choro, mas em que persistem os sintomas acima descritos, ou mesmo agravados, c​omo febre elevada, dificuldade respiratória, ou subsistem dúvidas quanto ao estado de alerta da criança ou bebé. Nestes casos, o bebé deve ser observado.

O choro do bebé não deve ser interpretado como normal. Normal é o contrário: não chorar. O choro pode apenas ser aceite à luz da faixa etária do bebé, como expressão de um senti- mento negativo. Na maioria das vezes, estes episódios são fruto de intercorrências quotidianas passíveis de resolução rápida. Noutros momentos, são manifestações que podem passar com modulação emocional. Por fim, quando o choro surge associado a outros sinais de doença aguda ou quando isoladamente constitui uma alteração do comportamento do bebé persistente, não habitual, deve ser procurada observação pediátrica urgente.
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