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25 fevereiro 2020
Texto de Patrícia Fernandes Texto de Patrícia Fernandes Fotografia de Mário Pereira Fotografia de Mário Pereira

Caixinhas mágicas

​​​​Os doentes crónicos de Albergaria dos Doze encontram na farmácia vários serviços que os ajudam a tomar correctamente os medicamentos.
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Farmácia Albergariense - Albergaria dos Doze (Pombal)

O sol brilha com ímpeto em Albergaria dos Doze, convidando os seus 1.765 habitantes a saírem à rua para iniciarem o dia.

Na Farmácia Albergariense está tudo a postos para receber os utentes. Na bancada de apoio dos bastidores já se prepara a medicação semanal de quem precisa.

O guia terapêutico é o primeiro a ir para a bancada. Trata-se de uma folha onde é colada a cartonagem e registada a posologia, os horários da toma e as observações. De seguida, entram as caixas da medicação e o dispensador semanal, embalagem rectangular de plástico e cartão que suporta todos os comprimidos, cápsulas e drageias.

Depois de reunidos os elementos necessários, enche-se, manualmente, os alvéolos do dispensador com a medicação para cada dia da semana, dispostos na vertical, consoante os momentos da toma, na horizontal. Por fim, é selado com um rolo cilíndrico.


«Com as caixinhas da farmácia, não há nada que enganar», elogia Mário Pereira, antigo futebolista do Belenenses

Todas as semanas, Mário Pereira desloca-se à farmácia para levantar a sua «colecção», nome que dá ao dispensador. «Elas já sabem o que é, enchem isto tudo e assim sei o que tenho de tomar ao pequeno-almoço, almoço e jantar. Não há nada que enganar», refere o antigo futebolista do Belenenses, sem hesitação. Desde que aderiu à preparação individualizada da medicação (PIM), tem os seus problemas de saúde controlados e nunca mais teve episódios de descompensação.


Rosária Gameiro leva a sua medicação preparada para três semanas

Rosária Gameiro é outra fã deste serviço. Ao ser questionada pelo cumprimento da sua terapêutica, responde prontamente: «A medicação não falha». Sempre que vem à farmácia leva os seus medicamentos preparados para três semanas. «Assim não me esqueço de tomar, porque está preparada. Se fosse eu a tomar conta disto, baralhava tudo», relata a utente.


Teresa Guapo lamenta a falta de comparticipação dos serviços que promovem o bom uso dos medicamentos

Apesar de ser «pouco solicitado, por ter um custo associado», Teresa Guapo, farmacêutica e directora-técnica da Farmácia Albergariense considera a PIM um serviço importante. «Se houver uma adesão à terapêutica contínua, os problemas de saúde não se intensificam.

A facilidade em manusear e extrair os comprimidos é uma vantagem extra», reforça. O MED180°, sistema de impressão de etiquetas de posologia personalizadas, é outro dos serviços disponíveis.

Este software instalado no computador da farmácia permite emitir diversas informações, como o nome do utente e dos medicamentos, a posologia e as indicações de como fazer a administração, tudo numa só etiqueta. Está em funcionamento há mais de dois anos e, desde então, tem recebido elogios tanto dos utentes como de outros profissionais de saúde.


Fernanda da Costa testemunha as vantagens das etiquetas para a saúde dos idosos de que é cuidadora

Fernanda da Costa cuida de idosos e reconhece as vantagens das etiquetas na vida das pessoas mais velhas, que têm mais limitações: «Hoje vim buscar os medicamentos de um casal que acompanho e, no caso do meu patrão, ele vê na etiqueta o nome dele, sabe o que é e quantos comprimidos tem de tomar por dia. Mesmo que eu falhe, fico descansada porque está tudo explicado e ele compreende».

No lar de idosos, situado perto da farmácia, o feedback é igualmente muito positivo. «Quando a enfermeira viu as etiquetas disse-me logo: “Foi a melhor coisa que apareceu. É fenomenal. Está tudo identificado”», conta Teresa Guapo, com enorme satisfação.

Para a directora-técnica, as etiquetas de posologia são uma mais-valia que a farmácia tem para apoiar a adesão à terapêutica. Quando a posologia era dita oralmente, as pessoas «esqueciam-se» e, mesmo quando era escrita, muitas vezes não conseguiam decifrar a letra». A farmacêutica acrescenta ainda: «Na toma de um antibiótico, a etiqueta possibilita ao utente não esquecer o dia em que o iniciou».

O horário da toma é simultaneamente um factor que merece a preocupação da equipa da farmácia. Se alguém levanta a receita às 17 horas, por exemplo, é desaconselhado a tomar o medicamento de imediato. Quando o voltasse a tomar, passadas 12 horas, teria de acordar às cinco da manhã, o que seria pouco provável de acontecer. Nestes casos, a farmacêutica aconselha que a toma nocturna seja ajustada à hora a que está habituado a acordar. «Assim, haverá uma maior probabilidade de cumprir a terapêutica», esclarece.

Para quem prefere as novas tecnologias, o MED180° permite também à farmácia enviar uma SMS ou um e-mail. Assim que é feita a compra, o utente tem a opção de receber por telemóvel ou correio electrónico a informação sobre o medicamento adquirido, como e quando tomar, e o contacto da farmácia para esclarecimentos adicionais.


«Elas enchem isto tudo lá na farmácia e assim eu sei o que tenho de tomar ao pequeno-almoço, almoço e jantar», elogia um doente polimedicado

Teresa acredita que há muita coisa que pode ser feita para garantir a adesão à terapêutica. A comparticipação de serviços como a PIM iria permitir um melhor controlo das doenças que, por serem silenciosas e sem dor, como a diabetes, levam a que os utentes se descurem.

Segundo a OMS, 50 por cento dos doentes crónicos em países desenvolvidos não cumprem a medicação prescrita pelo médico. São várias as razões que justificam esta realidade. O esquecimento é uma delas e, em Portugal, é o principal motivo do incumprimento da terapêutica, de acordo com um estudo da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (APIFARMA).

A verdade é que o não-cumprimento da prescrição médica traduz-se no agravamento do estado clínico e no aumento das despesas associadas à nova medicação, exames e consultas, sem contar com os gastos públicos, que rondam os 125 mil milhões de euros na Europa, no cálculo da PhRMA, associação da indústria dos EUA.
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