Em Itália, as farmácias comunitárias asseguram entregas ao domicílio, em colaboração com a Cruz Vermelha. Estão a prestar um trabalho «excelente», fornecendo informação e tranquilizando os utentes, garantiu o presidente da Federfarma – Federação Nacional dos Titulares de Farmácias Italianas. «O número de pessoas que não chegaram às urgências porque foram filtradas por farmacêuticos é incontável», afirmou Marco Cossolo.
Um pouco por toda a Europa, as farmácias estão na linha da frente no combate contra a pandemia que já causou mais de 15 mil mortos em todo o mundo, com mais de 360 mil pessoas infectadas. «Nesta emergência de Saúde Pública sem precedentes, a densa rede de farmácias próxima da população está a desempenhar um papel vital no apoio às comunidades», assegurou Duarte Santos, presidente do Grupo Farmacêutico da União Europeia (PGEU).
Muitas farmácias deram formação aos seus profissionais sobre o Coronavírus e capacitaram os utentes sobre os meios para impedir a propagação do vírus. Disponibilizaram material informativo, como infografias sobre o uso correcto de máscaras e como lavar as mãos adequadamente. Esta informação «evita medos desnecessários e retira pressão ao restante sistema de saúde», nota Duarte Santos. Os membros do PGEU têm também desenvolvido ferramentas de informação para esclarecer as dúvidas dos farmacêuticos relativas ao COVID-19, como documentos de boas práticas farmacêuticas, FAQ (documentos de perguntas frequentes) e centros de atendimento. Um exemplo é a linha de telefone portuguesa, gratuita, de apoio aos farmacêuticos, que funciona 24 horas.
Os principais problemas enfrentados pelas farmácias são a escassez de gel desinfectante e de máscaras. Por toda a Europa, afixam-se nas vitrines mensagens informando «Não há gel desinfectante» ou «Não há máscaras» e não há certezas sobre o regresso dos stocks. «As entregas estão atrasadas ou limitadas, porque os laboratórios não conseguem acompanhar», explica André Habib, gerente de uma farmácia do Leste de Paris, noticiou a Radio France Internationale (RFI), no passado dia 18. A produção de gel desinfectante e anti-sépticos pelas próprias farmácias pode ser uma resposta eficaz, mas está condicionada pela escassez de matérias-primas, incluindo os frascos de plástico, oriundos da China.
Os farmacêuticos são um dos primeiros pontos de contacto entre os doentes e o sistema de saúde e prestam um papel essencial na identificação e gestão dos potenciais casos de COVID-19. «Como todos os outros prestadores de cuidados de saúde que estão na linha da frente, eles precisam de se proteger contra o alto risco de exposição ao vírus», alerta o responsável do PGEU. O presidente da Secção de Farmácia Comunitária da Ordem dos Farmacêuticos de França confirmou que «muitos farmacêuticos se sentiram esquecidos» durante o pico de compras gerado pelo pânico, que antecedeu o decretar do confinamento obrigatório em França. «Precisamos implementar medidas duradouras de protecção», afirmou Pierre Béguerie à RFI.
«A trincheira das farmácias italianas» é como Marco Cossolo define a batalha diária dos farmacêuticos contra o risco de infecção, enquanto estão a fazer o seu trabalho. O presidente da Federfarma explica que as farmácias adoptam medidas para proteger as equipas do contágio: venda através do postigo, instalação de telas de acrílico nos balcões, imposição de linhas de separação entre os utentes e o balcão, cartazes pedindo para os utentes manterem uma distância de segurança entre eles. Na Finlândia, a farmácia Porvoon Uusi Apteekki dividiu a equipa em dois grupos, que trabalham em turnos diferentes, para garantir que há pessoal suficiente na farmácia, mesmo que num dos turnos alguém seja infectado.
Apesar das condições de trabalho perigosas, as farmácias comunitárias querem estender o apoio que podem prestar no combate ao COVID-19. Em Espanha, o Conselho Geral de Colégios Oficiais de Farmacêuticos (CGCOF) e a Federação de Distribuidores Farmacêuticos (Fedifar) ofereceram às autoridades de saúde a disponibilidade das 22.071 farmácias comunitárias espanholas para dispensar medicamentos hospitalares. Esta medida traria vários benefícios, alegam: maior proximidade dos doentes ao medicamento; humanização dos cuidados; redução do risco de contágio com o Coronavírus, ao evitar que os doentes se desloquem aos hospitais para levantar os medicamentos; e, ainda, «diminuição do risco de abandono da terapêutica, no cenário excepcional que vivemos», explica o CGCOF em comunicado divulgado dia 21 pelo Diario Farma. O presidente da italiana Federfarma também defende a dispensa de medicamentos hospitalares nas farmácias comunitárias, pelo menos neste período de crise. «Ajudaria a que as pessoas não saíssem de casa», afirmou Marco Cossolo, lamentando que a regionalização do sistema de saúde italiano não permita a adopção da medida.