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27 maio 2021
Texto de Paulo Martins Texto de Paulo Martins Fotografia de Mário Pereira Fotografia de Mário Pereira

Bloco Central da assessoria

​​​​​​Mais de duas décadas na Assembleia da República criaram laços que não se apagam.​

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Tinha dado nas vistas no movimento de legalização das rádios-piratas, quando Jorge Lacão, amigo de infância em Gavião e, como ele, filho de um padeiro, o convidou para dirigir o gabinete de imprensa do grupo parlamentar do Partido Socialista na Assembleia da República, em 1989. António Colaço alinhou. Não largou o cargo até 2010.  

Inscreveu-se no partido «porque quis», mas não se deixou amarrar a fidelidades. Ponto de honra: colocar o lugar à disposição dos sucessivos líderes partidários, por entender que era de confiança política. Como nenhum levantou obstáculos, ganhou estatuto de histórico da assessoria parlamentar. Tão (re)conhecido pelas gerações de jornalistas que passaram pelo Parlamento como José Mendonça, falecido em 2019, que passou dezenas de anos na mesma fileira, mas ao serviço do PSD. 

António Colaço torce o nariz quando questionado a comentar a ligação entre ambos como de “Bloco Central da assessoria”. É que, diz, cheira a «Bloco Central dos interesses», labéu que não cabe em cartões-de-visita. E, entre os seus interesses, quis ser guiado por um: «defender no seio dos jornalistas o que os políticos tinham de melhor e no seio dos políticos o que os jornalistas de melhor tinham». Honestidade e abertura nos métodos de trabalho, que assegura ter sempre conservado, deram chão a saudáveis relações profissionais. 


António colaço com  “Zeca” Mendonça, uma amizade que superou trincheiras partidárias​

«Fomos os primeiros subscritores dessa revisão constitucional», recorda, divertido. Refere-se à última grande mexida na lei fundamental, acertada em 1997 entre António Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa, então líderes do PS e do PSD, respectivamente. O comunicado de convocação da conferência de imprensa que anunciou o acordo foi redigido e assinado em conjunto com “Zeca” Mendonça. Não esquece o episódio, revelador de uma amizade que superou trincheiras partidárias. Nem este nem os ocorridos com outros colegas com quem privou, como Paula Barata, do PCP. 

Durante as duas décadas nas funções, nunca deixou de pintar. Expôs pela primeira vez no Botequim, o famoso bar de Natália Correia, provando que ninguém se esgota no que faz profissionalmente. A obra “Gravatá​rio”, em que reunia as gravatas então usadas, é testemunho desse período. Inclui um abano, «para o abanão de que Portugal precisa contra suas excelências». Os engravatados. Os bem vestidos. Os que só pela indumentária conquistam atenção pública. 

A assessoria não exterminou o bichinho de outras formas de comunicação. Em 1995, quando era responsável pelos tempos de antena radiofónicos do PS na campanha para as legislativas, percorreu o país a ouvir pessoas, a recolher depoimentos de gente menos conhecida. Nesse ano, entrou para a história como o único cidadão a quem foi movido um processo, que viria a ser arquivado, por emissão televisiva clandestina. Na «provocação», que deu brado, participaram Vasco Lourenço e o actor Mário Viegas.  

Assumindo «com muito orgulho» os 21 anos nos corredores do Parlamento, pressente-se que gostaria que, em aparições públicas, a identificação como “António Colaço, artista plástico” se sobrepusesse à de “ex-assessor do PS”. É certo que continua a receber telefonemas de jornalistas. É certo que não falta ao jantar anual de jornalistas e assessores parlamentares, onde é sorteada uma peça de arte da sua autoria. Porém, fechado há dez anos esse capítulo, não se sente habilitado a fazer comparações entre os deputados de hoje e os de outros tempos. Limita-se a citar «nomes incontornáveis», como Natália Correia ou Odete Santos. Não é atitude de alguém “politicamente correcto”. Nunca o foi.​
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