«Camarada e amigo, eu quero uma para mim!». Foi este o pedido de António Colaço ao coronel Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, de que é membro, mal soube da oferta à entidade, pelo chefe de Estado Maior do Exército, de três chaimites que já tinham o abate como destino. Não se moveu pela posse, mas pelo sonho de emprestar o seu toque artístico a um dos símbolos da queda da ditadura, para usufruto da comunidade.
Hoje convertida em arte pública, a chaimite que chegou a operar em missões militares portuguesas na Bósnia está desde 2019 exposta em Mação, no cruzamento da Avenida Sá Carneiro com a Rua Cipriano Dourado. Baptizada de “Palavril”, confluência feliz da liberdade de expressão proporcionada por Abril, foi recuperada e caligrafada pelo artista, que assentou praça em Mafra em Janeiro de 1974, a tempo de participar no golpe que depôs Marcelo Caetano. «Até agora, não houve aqui o mínimo vandalismo», garante António Colaço, junto à chaimite. «Está a portar-se muito bem. De vez em quando, venho puxar-lhe o lustro» – agora, mais lentamente, porque o AVC lhe reduz os movimentos.
Para assinalar o 45.º aniversário da Revolução, em 2019, a viatura militar esteve durante um mês no Parlamento. Mais exactamente junto ao chamado edifício novo. «Foi uma tristeza ter visto negada a vontade que eu tinha de que ficasse mesmo em frente das escadarias da Assembleia», desabafa António Colaço. Ferro Rodrigues, seu camarada de partido e até de tropa, não aceitou, com o argumento de que perturbava as comemorações oficiais. «25 de Abril é só um. Não se percebe como é que a chaimite, um elemento constitutivo do 25 de Abril, atrapalhava o 25 de Abril oficial», lamenta. «Vou morrer com esta mágoa em mim».
Nas mais recentes comemorações, a Câmara de Mação promoveu um desafio nas redes sociais destinado a valorizar a chaimite. “Tirar uma Selfie no 25 de Abril” – assim o apelidou – incentivava a partilhar imagens, com a chaimite em fundo, nas redes sociais. Com um prémio suplementar: a mais interessante teve direito a um desenho de António Colaço, autografado por ele, pelo presidente do município, Vasco Estrela, e por Vasco Lourenço. Afinal, o 25 de Abril também é de Mação.