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9 novembro 2021
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Eduardo Martins Fotografia de Eduardo Martins

As rotas da saúde

​​Viagem científica ao Mundo Antigo e aos Descobrimentos.​

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«Ao diabo que te dou, quem te trouxe cá?», perguntaram os nativos a Vasco da Gama, à chegada à India. «Vimos buscar cristãos e especiarias (…), pimenta e drogas», respondeu o navegador português. A frase, retirada do “Roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia”, de Álvaro Velho, aparece em primeiro plano na mesa que apresenta o projecto “O Mar que nos Une | Rota da Saúde e da Farmácia”.

O Museu da Farmácia Porto propõe uma visita interactiva às grandes rotas terrestres e marítimas, do Mundo Antigo aos Descobrimentos portugueses e à viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães. Não se pense, contudo, que é mais uma exposição sobre os mesmos factos. Desenhada a pensar na comunidade escolar, vai surpreender os estudantes com factos novos sobre a matéria dada nas aulas. O conhecimento médico e farmacológico é a novidade da exposição do Museu da Farmácia Porto.

Todos associamos as rotas da Seda, das Especiarias, do Cabo ou de Manila a dois temas principais. Por um lado, o comércio de escravos e de produtos, como as especiarias e os metais preciosos. Por outro, a evangelização cristã. Menos explorada é a importância destas rotas como veículos de intercâmbio cultural, artístico e científico. 

«Com estes materiais viajavam pessoas e com elas teorias, ideias e conhecimentos científicos. No conjunto destas rotas conseguimos construir uma rota da Saúde e da Farmácia», explica Gonçalo Magano, curador do Museu da Farmácia. Várias especiarias, como a canela, o cravinho, o gengibre, os cominhos ou o açafrão, eram usadas para fins medicinais, e não apenas como condimentos.

Foram convidadas a visitar o projecto escolas do quinto ao 12.º ano dos distritos do Porto, Braga e Aveiro. Os alunos são desafiados a descobrir duas rotas terrestres (Seda e Especiarias) e duas marítimas (Cabo e Manila), onde vão cruzar-se com diferentes civilizações e conhecer os recursos e instrumentos de que dispunham para preservar a vida e combater a doença. Além de uma visita guiada, adaptada ao nível de conhecimentos de cada ciclo escolar, é oferecida uma experiência interactiva multissensorial, «que dessacraliza o objecto e permite aos alunos tocar e explorar», avança Gonçalo Magano. Ao longo das rotas, assinaladas com diferentes cores, os estudantes podem visualizar vídeos sobre alguns objectos, lendo com os telemóveis os códigos QR respectivos. Estão também disponíveis réplicas de algumas peças, que ao serem manuseadas accionam informação oral e, nalguns casos, experiências olfactivas.

Os alunos podem depois continuar a explorar o tema na sala de aula, através de uma minuciosa plataforma online (www.omarquenosune.com), que inclui conteúdos detalhados sobre as quatro rotas e vídeos. «Foi a forma que encontrámos para permitir a professores e alunos darem continuidade ao estudo, após a visita presencial», diz o curador.

O tema dos Descobrimentos portugueses, explorado em todos os ciclos, é especialmente visível na rota do Cabo. Aqui os alunos vão navegar até ao mundo oriental, passando por África, e conhecer a importância que as farmácias portáteis tinham nas grandes viagens intercontinentais. «Todas as grandes naus que se dirigiam ao Oriente tinham a sua farmácia portátil, para assegurar a saúde dos navegadores e comerciantes». No Museu da Farmácia Porto existe uma réplica de uma farmácia portátil que os alunos podem abrir, acedendo aos odores dos ingredientes usados na farmacologia.


A rota de Manila termina em Acapulco. Os visitantes entram em contacto com as civilizações pré-colombianas

A rota de Manila convida os estudantes a viajar entre o continente asiático (Manila, nas Filipinas) e o americano (Acapulco, no México), e entrar em contacto com as civilizações pré-colombianas. Esta rota foi desenvolvida no seguimento da circum-navegação que o navegador português Fernão de Magalhães fez ao serviço da coroa de Castela há 500 anos, entre 1519 e 1522, e que representou a primeira volta ao mundo. Estão disponíveis vídeos sobre as civilizações Maia, Inca e Asteca, e uma réplica de um recipiente em forma de sapo, animal relacionado com os pré-colombianos.



Espólio do Museu da Farmácia Porto é rico em peças do Egipto e Grécia antigos

Finalmente, as rotas terrestres da Seda e das Especiarias exploram conexões entre as civilizações orientais, China, Japão e Antigo Egipto, com a Grécia e o Império Romano. «São rotas que andam de mãos dadas, temporal e espacialmente. A partir dos séculos XV e XVI, foram substituídas pelas rotas marítimas, que permitiam transportar maiores quantidades de forma mais rápida», resume Gonçalo Magano. As diversas civilizações são representadas por figuras marcantes, como um acupunctor chinês pré-histórico. Instrumentos cirúrgicos romanos e almofarizes árabes, que remontam às primeiras farmácias comunitárias do mundo, ajudam os estudantes a compreender o progresso da Saúde nessas civilizações. Os estudantes são convidados a sentir na mão réplicas dessas peças, de cerâmica, vidro ou terracota.

A exposição “O Mar que nos Une | Rota da Saúde e da Farmácia” tem o apoio da Direcção Regional de Cultura do Norte. Foi inaugurada a 25 de Setembro, Dia Internacional do Farmacêutico, com uma homenagem ao boticário Tomé Pires e ao médico Garcia de Orta, grandes representantes do avanço científico na época dos Descobrimentos.
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