Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
14 maio 2021
Texto de Marta Rodrigues Texto de Marta Rodrigues

Amigos de bata branca

​​​​​​​​Farmácias fazem educação para a saúde nas escolas.​

Tags
As campainhas das escolas deixaram de tocar como dantes. A 21 de Janeiro, o Governo anuncia um novo encerramento das escolas, provocado pelo aumento de casos de COVID-19 após o Natal. Da pré-escola ao 12.º ano, cerca de 1,2 milhões de alunos voltaram ao ensino à distância.



​Durante o período de confinamento, os farmacêuticos comunitários participaram em muitas aulas pela Internet

Na Escola Básica n.º 1 de Gueifães, na Maia, a professora Joana Barros faz a chamada pelo Zoom e o ecrã enche-se de pequenos rectângulos com crianças do 3.º ano. Umas lutam contra o sono, outras já de sorriso no rosto e cheias de energia.

Neste dia, a Farmácia Lima Coutinho marca presença na aula e dá a lição. “Prevenir a COVID-19” é o tema da sessão ministrada pela farmacêutica Ana Silva, que participa no projecto “O farmacêutico vai à escola”. A iniciativa dos Serviços Educativos do Museu da Farmácia tem a missão de promover a literacia em saúde nos mais jovens. Mais de 20.000 crianças por todo o país já participaram nestas sessões.

A turma é especialista na matéria – afinal, os alunos estudam o tema há mais de um ano. Sabem porque é que o vírus tem o nome “corona”, porque termina em 19 e o que pode provocar no ser humano. É impossível ficar indiferente.

A farmacêutica relembra as principais medidas de segurança, qual a forma correcta de usar a máscara, a importância de manter o distanciamento e da etiqueta respiratória. Um dos alunos sugere como reforço de protecção «um fato cheio de álcool gel, máscara e escudo». Outro questiona «Se a COVID-19 era de 2019, não devia ter desaparecido já?». Fica a sugestão.

Quando recebeu o convite para participar, Ana Silva ficou entusiasmada. «Acho importante a farmácia sair das quatro paredes e sensibilizar as crianças. São o nosso futuro», diz. Alguns alunos já a conheciam de visitas à farmácia com os pais ou avós. Para eles, é “a doutora da farmácia”.

Os alunos entendem a pandemia e os cuidados que devem ter, mas a falta de convívio tem sido um obstáculo. «Há uma série de regras que têm de cumprir, o que torna a socialização mais complexa», afirma a professora Joana Barros. Ainda assim, acredita que os alunos são cumpridores e entendem que é preciso continuar a se protegerem a si e aos outros.

Em tempos pré-COVID-19, as brincadeiras e o convívio dos mais novos na rua pareciam já ter sido substituídos pelos videojogos. Agora, a pandemia veio tornar regra o convívio virtual.


A Farmácia Santa Marta foi à Escola Básica D. Luís de Mendonça Furtado, no Barreiro

Na Escola Básica D. Luís de Mendonça Furtado, no Barreiro, foi a Farmácia Santa Marta a promover uma sessão sobre o tema “Distúrbio de Jogos Electrónicos”, ainda quando as aulas eram presenciais.


A farmacêutica Leonor Soares ficou entusiasmada com a oportunidade de ir à escola

A tirar um mestrado em Saúde Pública, a farmacêutica Leonor Soares achou que fazia sentido realizar estas sessões: «Se conseguirmos ter um impacto maior na vida das crianças, provavelmente vão ser adultos com mais educação, com mais literacia em saúde, cidadãos mais conscientes».



O projecto educativo Vila Saúda criou jogos educativos para as crianças

O tema dos videojogos assume uma maior importância nos tempos de isolamento. «As crianças conhecem-se cada vez menos a si próprias, por causa do confinamento», diz Leonor. «A quantidade de horas que os alunos jogam contabilizada na semana é assustadora. Jogam quatro a seis horas por dia, depois da escola».

A professora Alexandra Costa, da escola no Barreiro, defende que «os alunos estão cada vez mais isolados, tristes e dependentes da tecnologia». «A escolha do tema da sessão teve um propósito, porque, a cada dia que passa, os sinto mais dependentes, deixando de fazer actividades como brincar, conversar e conviver», lamenta. «Acho muito importante os alunos terem contacto com os profissionais de saúde, porque as informações transmitidas têm outro impacto».

Ainda são desconhecidos os efeitos da pandemia na saúde mental das pessoas. No entanto, vários estudos apontam para um aumento na população dos casos de depressão, ansiedade e stress crónico.

Ana Rita Roque, psicóloga no Instituto Duarte de Lemos, outra das escolas que participou no projecto, tem acompanhado os alunos nesta fase. Na sua experiência, tem verificado que muitas crianças sentem medo e não o partilham com os pais. «Os alunos foram assombrados com pensamentos de perderem familiares próximos, os próprios pais, medo de ficarem sozinhos se isso acontecesse, e de ficarem doentes e morrerem», diz.

​​Em tempos de confinamento, as escolas precisam de apoio para contrariar o isolamento e motivar as crianças

Na sua opinião, a presença de farmacêuticos nas escolas é uma mais-valia: «Os profissionais de saúde da farmácia acabam por estar mais disponíveis, uma vez que não carecem de marcação prévia e períodos de espera. Podem auxiliar os nossos jovens ou pais, encaminhando-os para os serviços de saúde mais adequados, e dando resposta e auxílio mais imediatos».

A Farmácia Janeiro, em Águeda, dinamizou uma sessão online sobre “Bullying e Ciberbullying”, no Instituto Duarte de Lemos. No dia-a-dia, a farmácia não costuma receber muitas crianças, resultado de uma população mais envelhecida. Tomaram a decisão de participar para desafiar a equipa e sensibilizar os mais novos. «A farmácia pode ter um papel de sensibilização, de as crianças verem o farmacêutico como um amigo e que, se precisarem, não é uma pessoa de bata branca que lhes vai fazer mal», defende a farmacêutica Sara Fernandes.

No final das sessões, as farmácias convidam os alunos a visitar o espaço da farmácia e a conhecer a equipa. Um dos alunos pergunta: «Posso ir aí hoje?».
Notícias relacionadas