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12 agosto 2019
Texto de Carina Machado Texto de Carina Machado Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

«Ainda bem que arrisquei»

​​​​​​​​​​​​​​Queria ser futebolista. Hoje a música é o seu meio de expressão. ​

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REVISTA SAÚDA - O novo disco, “7”, tem um conceito um pouco Yin e Yang. 
DAVID CARREIRA - Sim, um bocado. É o meu sétimo álbum e gira em torno de opostos. Não me ocorreu de imediato, mas quando tinha já quatro ou cinco músicas escritas percebi que havia histórias que se ligavam, mostrando uma perspectiva feliz ou triste de um mesmo tema.

De que modo é que a escrita neste álbum se relaciona com a sua vida pessoal? 
Eu escrevo sobre a minha vida, sobre coisas que me acontecem e são próximas. Não consigo explicar o processo criativo. O tema "Primeira Dama", por exemplo, surgiu no carro com amigos. Íamos a falar do Benfica e alguém disse que não conhecia a "primeira-dama" do presidente Luís Filipe Vieira. Não sei porquê, as palavras ressoaram: primeira-dama, presidente, estou na tua mente, frequentemente… Comecei a pensar: “E se usasse isto numa música?”.

Alguns escritores dizem que as histórias os acompanham até ao ponto final. Com uma música também é assim? 
Para mim, uma música só está terminada quando deixo de me divertir com ela. Mas chega uma altura em que tenho de deixar de me divertir para que os outros o possam fazer.

Há pouco dizia que escreve sobre a sua vida pessoal. A exposição não o incomoda?
Incomoda. Mas tento ter cuidado, não mostro a minha vida, escrevo sobre ela. Acho que se não escrevesse sobre mim não seria verdadeiro. Não acredito que isso seja expor-me demasiado. A melhor forma de alguém me conhecer é ouvir a minha música, mas com a minha vida privada tento ser cauteloso.



A sua resposta entra em contradição com o documentário intimista sobre um ano da sua vida?  
Aceito que possa parecer estranho, mas senti que as pessoas não me conheciam de facto. Tinham acesso a uma parte de mim através da música, mas sentia que havia a ideia de que chegava ao estúdio e me limitava a cantar o que outros já tinham escrito. Quis mostrar o processo criativo de um modo cru.

Essa decisão prendeu-se com a necessidade de se provar enquanto artista? 
Não podemos fugir ao apelido Carreira e às comparações. Há sempre essa necessidade, pelo menos para mim. Sou competitivo, quero ir sempre mais além, arriscar. Mas não vejo que tenha propriamente a ver com o nome Carreira. Acho que é mesmo algo meu, esta necessidade de provar permanentemente que continuo a merecer o meu lugar. No mundo da música há sempre malta nova a aparecer e temos de nos reinventar. Para mim, isso é também uma forma de respeitar o meu público.

O apelido não traz uma pressão extra? 
[pausa] Não. Vivo bem com isso. Aliás, nunca pensei muito no facto de ter a família na música. Sempre senti que estava no meu canto, a fazer as minhas cenas, e é diferente, é engraçado.

 

Muito antes da música, houve uma carreira no futebol que nunca se concretizou.  
Sim. Às vezes ainda penso nisso! Andei em Economia, porque era importante ter um “plano B”, mas sempre quis ser futebolista. Acho até que tinha algum jeito, mas tive várias lesões. Quando cheguei ao primeiro ano como sénior e as melhores propostas eram uma sandes no fim dos jogos, pensei que era melhor dedicar- -me aos estudos! Precisamente nessa altura, recebi o convite para o casting dos “Morangos com Açúcar” e, não ​sei porquê, aceitei.


«Os "Morangos com Açúcar" foram uma escola: aprendi a lidar com as câmaras, a estar em palco»

Não sabe porquê? 
Ainda hoje não sei. Tinha 18 anos, queria divertir-me, conhecer miúdas giras. Quando avançaram que o David Antunes – na altura ainda não era Carreira – ia ser o protagonista, estive quase para lhes dizer: “Malta, isto era a brincar!”. Mas arrisquei e ainda bem. Os “Morangos” foram​ uma escola: aprendi a lidar com as câmaras, a estar em cima de um palco… O meu personagem adorava cantar músicas mais antigas, nas quais não me revia, por isso em casa compunha as minhas cenas. Foi assim que nasceu o meu primeiro álbum.

Diz-se uma pessoa introvertida.
Sim, sou bastante tímido. Não sou uma pessoa muito social.


«Tenho dificuldade em falar de certas coisas. Foi por isso que escrevi uma música para o meu pai»

Contudo, tem uma forte presença nas redes sociais. 
Faz parte do trabalho. Mas acabo os concertos e vou para casa. Procuro o meu espaço, a minha tranquilidade. Gosto de receber os amigos, fazer jantares… Sou mais reservado, não consigo socializar facilmente. Só sou extrovertido em palco. Sei que por vezes isso pode ser confundido com arrogância, mas a verdade é que, socialmente, fico mais calado porque não sei o que dizer. Tenho dificuldade em falar de certas coisas. Foi por isso que escrevi uma música para o meu pai. Já escrevi uma música para a Sara [irmã], para a minha mãe… Só falta para o Mickael!

Foi difícil encontrar o seu espaço no meio de referências tão fortes? 
Nunca vi as coisas dessa perspectiva. O meu pai e o meu irmão já cantavam quando comecei a compor, mas não o fiz a pensar numa carreira na música, foi mais para me divertir. É óbvio que o facto de vir de uma família de cantores me ajudou a ter maior visibilidade no primeiro single, mas isso também me fechou várias portas.  

Foram muitas as portas fechadas?
Muitas mesmo. É comum pensar-se que os filhos de famosos só crescem à conta dos pais. Eu, como outros, tenho a responsabilidade acrescida de provar que mereço um lugar no panorama artístico. 

Isso contraria o que disse, sobre o apelido não pesar.  
Talvez. A verdade é que não penso muito sobre isso, e essa é a melhor forma de o ultrapassar. É como em tudo: se nos focamos muito no problema, nunca arranjamos soluções. Tento fazer a minha cena, divertir-me e procurar com isso contagiar as pessoas. Pouco a pouco, as portas que antes me foram fechadas vão-se abrindo, por vezes em ocasiões inesperadas.

Como vive a época de concertos?
É onde me divirto mesmo. Adoro a sensação de partir em digressão com os músicos,  os bailarinos, do encontro  com os fãs.

E com a saúde, tem cuidados? 
Tenho, em especial com a alimentação, porque gosto muito de comer. Não bebo álcool. E gosto de ir ao ginásio, treino bastante. Também presto atenção à voz, aqueço muito durante a digressão e antes de subir ao palco.  E tento descansar.​

Está a preparar um concerto diferente, em Lisboa, no final do ano.  
O concerto no Altice Arena será o mais importante da minha carreira até agora. Vamos ter um palco montado em 360 graus na maior sala do país e só isso já é pouco comum. Para quem está a actuar será mais complicado, porque não existe a segurança do backstage. Estamos totalmente expostos e como vai haver muitas coreografias o grau de dificuldade eleva-se. Além disso, vamos ter muitos convidados em palco: a Sara,  o Deejay Telio, o MC Zuka, Supa Squad, Kell Smith…  Vai ser fixe!​

 

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