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5 maio 2022
Texto de Sandra Costa Texto de Sandra Costa Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de André Torrinha Vídeo de André Torrinha

A maternidade não é um concurso de aptidão

​​​​​​​​​​​​​​​​​A atriz prefere abdicar do controlo para escutar o que a rodeia.

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​Como está a viver a maternidade?
A minha filha nasceu em janeiro de 2020, toda a experiência se confunde com a vivência da pandemia. Houve quem romantizasse a situação: «Ai, que bom ficar em casa!», mas é uma visão redutora. Um constrangimento desta natureza, numa situação completamente nova como a maternidade, é um desafio. Mas encontrei os meus próprios tempos e consegui conciliar a maternidade com a vida profissional. Tenho procurado fazer as coisas como me faz sentido, sem estar demasiado preocupada com o que é suposto fazer em cada etapa.

Segue a intuição.
Sim, não devo ter lido do princípio ao fim um único livro sobre maternidade, por escolha. Não acho que se sabe tudo por instinto, mas tento ter um grande sentido de escuta sobre cada momento, ao invés de pensar que tenho de controlar toda a informação. Gosto de ir descobrindo as coisas...

Quando tenho dúvidas, pergunto; quando preciso de ajuda, peço. Dizem “It takes a village to raise a child” (É preciso uma aldeia para criar uma criança) e é verdade. Com apoio, sentimo-nos mais confiantes e é tudo muito mais simples. Sou profundamente grata à estrutura que tenho.


Teresa Tavares, que se estreou como atriz aos 17 anos, na telenovela da TVI ”Jardins Proibidos“, estará em junho nos cinemas, com o filme “Revolta”, de Tiago R. Santos

É uma postura de humildade.
Pretender aprender tudo sobre a maternidade é uma pressão social que não nos torna mais aptas. E a maternidade não é um concurso de aptidão! Não acho que se ganhe em controlar tudo. Aliás, é impossível. Mais vale ir lidando com as situações. Acredito que cada percurso é um percurso, e cabe a cada um ir descobrindo o seu. Levo a peito esta ideia em todas as áreas da vida e, em particular, na maternidade.

A igualdade de género é um tema ao qual tem dado voz. O que defende?
Sou bastante atenta aos direitos humanos e tenho trabalhado mais ativamente na área da igualdade de género. Sou voluntária na associação Corações Com Coroa, que faz um trabalho importante. Por exemplo, oferece bolsas de estudo a meninas que, de outra forma, não teriam possibilidade de progredir na educação.
O trabalho pela igualdade é diário. Tem a ver com a atenção ao que se passa à nossa volta e como interagimos com o que nos rodeia.

A forma como educamos os nossos filhos e filhas, como agimos no emprego e com a nossa família, é, acima de tudo, uma questão de educação. Numa conferência, nos anos 30, a Virginia Woolf disse uma coisa extraordinária: «Matei a fada do lar. Tinha de ser, senão ela matava-me a mim». E depois diz outra coisa muito importante: «Mas ficaram os fantasmas». Os fantasmas têm a ver com a educação de séculos, que influencia a maneira como olhamos o mundo e educamos as crianças. Identificar esses fantasmas é um trabalho imenso, e talvez o mais transformador.


Teresa Tavares aposta no sono para manter a saúde. Evita olhar para o telemóvel à noite e não vê filmes no quarto

O que faz pela sua saúde?
Durmo bastante bem e acredito que dormir bem resolve metade da vida. Evito olhar para o telemóvel à noite e não vejo filmes no quarto. Faço ioga e meditação, que são práticas fundamentais para o meu bem-estar e criatividade. Acho importante desmistificar a ideia de que é preciso ter condições perfeitas para conseguir meditar: mesmo por pouco tempo, pode ser uma experiência transformadora. As caminhadas ajudam-me a limpar a cabeça e faço dança, gosto muito de barra de chão e dança contemporânea.

Durante a gravidez comecei a fazer drenagens linfáticas, que ajudam a livrar-nos das toxinas, são importantes para o bem-estar do corpo e melhoram a qualidade do sono. Na alimentação uso a regra do bom senso, sem restrições. Bebo pelo menos um litro e meio de água por dia e tenho a certeza de que isso é importante. Tenho a preocupação do consumo local. Se todos a tivermos, ajudamos muito os ecossistemas.

A meditação ajuda ao equilíbrio emocional? 
Meditar, caminhar, mexer o corpo, dançar, são atividades que nos tiram da nossa própria cabeça, e isso é importante para a saúde mental. Como ler um livro ou ver um filme, o tempo que dedicamos a uma história fora de nós... São estímulos que nos alimentam. Ter atenção ao outro e a nós próprios é fazer terapia, de alguma forma. Eu vou por aí. A minha forma de viver é ir lidando com os problemas, a ansiedade, os momentos de desequilíbrio que fazem parte da vida.

 
«Há hoje uma espécie de tabu em relação à dor, mas a dor faz parte da vida. A forma como lidamos com a adversidade e a rejeição faz de nós o que somos​»

Tem a sua farmácia?
Vou sempre à farmácia da minha rua, claro, que é ótima! Adoro farmácias, têm tudo arrumadinho, apetece experimentar tudo. E associo as farmácias não à doença, mas à saúde e ao bem-estar.

Iniciou a carreira de atriz aos 17 anos. Desde então tem feito televisão, teatro e cinema, e há dez anos cofundou o Teatro do Vão, com o Daniel Gorjão e a Sara Garrinhas. O que a atrai na representação?
As pessoas. Pôr-me na pele dos outros, nas suas circunstâncias. Obriga-me a olhar a fundo para os outros e para mim própria. Que conflitos aquela situação me levanta? É um exercício de autoconhecimento. Representar é tirar máscaras. Interessa-me a humanidade das personagens, o que não se vê nas suas escolhas. Esse lado escondido é absolutamente revelador. Quando vemos o Marlon Brando em “O Padrinho”, importa tanto o que nos diz como o que está no seu olhar.


A determinação permite a Teresa Tavares agir e superar as adversidades

Que projetos tem em mãos?
A 2 de junho estreia nos cinemas o filme “Revolta”, do Tiago R. Santos, em que contraceno com o Ricardo Pereira, e na RTP vai estrear a série “Cavalos de Corrida”, realizada pelo André Santos e pelo Marco Leão, em que faço uma das protagonistas. Com o Teatro do Vão tivemos, no [teatro] São Luiz, a peça “Vita e Virginia”, sobre a correspondência trocada entre Vita Sackville-West e Virginia Woolf, e temos outros projetos, os quais ainda não posso revelar, que questionam temas como a igualdade de género e a identidade sexual, mas não se restringem a isso.

Na preparação para o filme “Fátima”, de João Canijo, foi a pé de Vinhais, perto de Bragança, até Fátima. Foi o processo de preparação criativa mais radical?
Para quem vê de fora, foi o mais desafiante. Essa experiência da peregrinação foi muito útil para a construção do filme. Os processos criativos variam muito e passa-se por coisas de toda a ordem. Já tive aulas de trapézio, aprendi linguagem gestual e a disparar armas, aperfeiçoei as línguas que falo. Também sei andar a cavalo, mas isso ainda não usei num papel!

 


É uma pessoa flexível?
Sou muito determinada, o que me traz capacidade de ação, de gerir as circunstâncias e superar as adversidades. Também tenho uma grande capacidade de adaptação, o que poderá ter a ver com o facto de ter saído de casa [da Azambuja para Lisboa] muito cedo. Ainda reajo muito a quente, antes de me adaptar [risos], o que às vezes traz dores que seriam evitáveis.

Há hoje uma espécie de tabu em relação à dor, mas a dor faz parte da vida. A forma como lidamos com a adversidade e a rejeição faz de nós o que somos. O caráter revela-se nas situações adversas. É importante aprender a lidar com as nossas zonas cinzentas, processá-las e encontrar formas de nos reinventarmos, mantendo a abertura e a paixão pelas coisas.

 




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