A adesão terapêutica é trave-mestra de uma vida com mais saúde. É uma das ferramentas de autonomia do doente, indicia confiança nos profissionais e salda-se numa maior sustentabilidade para o SNS.
Fala-se em adesão terapêutica quando o partido que se tira do uso dos medicamentos é completo. Há um rigoroso cumprimento do tratamento de acordo com as instruções do profissional de saúde: posologia, horários da toma, duração da terapêutica, recomendações em função das características de cada medicamento…
Quando este cumprimento é quebrado, não só a saúde do doente é posta em risco, como se verificam efeitos devastadores no orçamento da Saúde, motivos que levaram já alguns países da União Europeia a celebrar protocolos entre o Estado e as farmácias, para a implementação de programas neste âmbito.
É o caso da Bélgica, onde se estabeleceu um acordo visando o acompanhamento personalizado de doentes, com destaque para os doentes crónicos, que passam a ser acompanhados quando iniciam a toma de um medicamento novo.
Os belgas introduziram o conceito de farmacêutico de referência: o doente escolhe, em total liberdade, o “seu” farmacêutico. Este passará a acompanhá-lo, monitorizando, de acordo com regras estabelecidas em sintonia com o médico, o esquema de medicação. Para tal, são realizadas reuniões periódicas na farmácia, onde se afere se o doente compreendeu bem o tratamento e o grau de adesão ao mesmo. Sempre que algo merece retificação do médico, usa-se a comunicação electrónica, de onde se podem concluir depois vários cenários, como são exemplo a decisão de reestruturar a terapêutica ou a realização de uma nova consulta médica.
Também em França esta preocupação com a adesão terapêutica se traduziu já na implementação de medidas específicas. Neste ano que passou, o Governo estabeleceu um acordo com o sector farmacêutico, no sentido de criar uma nova tabela de serviços de saúde. Nesta, incluem-se a monitorização de doentes crónicos com asma; a revisão da terapêutica dos doentes crónicos com mais de 65 anos ou doentes com mais de 75 anos que tomem mais de cinco medicamentos há seis meses; a participação do farmacêutico em serviços como os programas de cessação tabágica, o início de programas de telemedicina ou a preparação individualizada da terapêutica. São esperados benefícios directos na qualidade de vida dos doentes crónicos e vários estudos independentes apontam para o alívio das urgências hospitalares, dos internamentos e das listas de espera.
O farmacêutico é, por definição, um técnico do medicamento altamente habilitado. O seu aconselhamento promove, em todas as situações, a melhoria da informação do doente e capacita-o em pontos decisivos para o seu estado de saúde:
- Informa para que serve o medicamento e de que forma irá o doente beneficiar com a sua toma;
- Instrui sobre o horário das tomas e respectivo intervalo (de oito em oito horas, de 12 em 12 horas…);
- Aclara a dose e as precauções a seguir, bem como os cuidados a ter com a administração (no caso de ser um creme ou um medicamento para a asma…);
- Informa sobre os alimentos e medicamentos a evitar durante o tratamento e a duração do mesmo;
- E sobre quais os efeitos secundários que podem surgir e se, e como, podem ser minimizados.
Com estas mudanças sobre o conceito de adesão à terapêutica e monitorização das doenças crónicas em curso – as quais, oxalá cheguem em breve a Portugal – ganham sempre os doentes, favorece-se a equidade em saúde, e viveremos todos melhor e com menos desperdício de recursos.