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2 outubro 2017
Texto de Mário Beja Santos (Técnico de Defesa do Consumidor) Texto de Mário Beja Santos (Técnico de Defesa do Consumidor)

Os ganhos da descompressão

​​​​​Soou a hora dos economistas da saúde fazerem contas para que as decisões políticas tragam benefícios aos doentes crónicos graças a novos serviços nas farmácias.

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​Tudo indica que estamos a entrar num novo ciclo, em que o Serviço Nacional de Saúde (SNS), pressionado por todos os lados, ensaia parcerias, de modo a cortar nos desperdícios, a melhorar o quadro da promoção para a saúde e a elevar a literacia do doente, tanto na adesão terapêutica como nos seus autocuidados. Fala-se, concretamente, em novos serviços nas farmácias, onde se ensaia a delegação parcial da administração terapêutica oral em oncologia e doenças transmissíveis, mas a adesão terapêutica deverá ser encarada como um serviço de um valor quase transcendente para a saúde pública e para a contenção de gastos que decorrem, por exemplo, de admissões hospitalares por reacções adversas aos medicamentos. 

Os doentes sabem perfeitamente que no espaço da farmácia contam com o especialista no medicamento. É o primeiro espaço a que têm acesso quando sofrem de males menores para os quais precisam de alívio. Confiam na sua farmácia, de tal modo que aderem a sistemas que guardam o histórico das suas doenças e que possibilitam que o farmacêutico, no acto da dispensa de medicamentos, analise a conformidade entre esse histórico e as terapêuticas em curso. 

A confirmar-se este novo ciclo, teríamos doentes mais previdentes, mais capacitados, menos internamentos, menos desperdícios de toda a ordem.

Esta contratualização de serviços está longe de ser uma inspiração súbita, já está a acontecer em certos Estados-Membros da União Europeia. A própria Comissão Europeia incitava projectos tendentes a aumentar a adesão dos doentes às suas terapêuticas. 

Em Inglaterra, foi lançado em 2011 o New Medicine Service, um serviço disponível para doentes que iniciam medicação crónica (asma/DPOC, diabetes tipo 2, terapia antiplaquetária/anticoagulante, hipertensão). Requer uma consulta inicial de intervenção na farmácia e consultas de seguimento. Na avaliação independente feita ao serviço, concluiu-se ter havido a adesão do doente ao seu novo medicamento sem nenhum custo adicional para o SNS inglês. 

Na Bélgica, desde 2013, há um programa de seguimento de doentes crónicos dirigido a doentes asmáticos que iniciam inaladores (corticosteroides), e o programa prevê o seu alargamento a doenças crónicas. A intervenção da farmácia consiste na informação sobre asma, correcta utilização de medicamentos e ensino da técnica de utilização dos inaladores, o que aumenta a probabilidade de um controlo mais efetivo da doença. 

Em França está em curso a monitorização de doentes crónicos com terapêuticas com anticoagulantes orais. A intervenção da farmácia consiste no seguimento destes doentes em tratamento de longa duração, tendo como um dos objectivos maximizar a adesão nos doentes com varfarina. 

Na Dinamarca, o New Medicine Service abrange todos os doentes crónicos a iniciar nova terapêutica. 

Em Espanha decorre o programa conSIGUE, que se prende com a visão da terapêutica feita nas farmácias e está direccionado a doentes idosos polimedicados. Efetuada a avaliação do programa, o resultado mais evidente é uma redução em 58% dos problemas de saúde dos doentes, uma redução de 30% nas visitas aos serviços de urgência e uma redução de 50% de hospitalizações. 

Neste período crucial em que se esboçam alterações profundas no SNS, todos teríamos a ganhar se as estratégias de descompressão das unidades de cuidados de saúde tivessem em conta o que se pode ganhar com a contratualização de determinados serviços às farmácias, já que estão comprovados ganhos com a adesão às terapêuticas resultante. 
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