Política de utilização de Cookies em Revista Saúda Este website utiliza cookies que asseguram funcionalidades para uma melhor navegação.
Ao continuar a navegar, está a concordar com a utilização de cookies e com os novos termos e condições de privacidade.
Aceitar
11 dezembro 2017
Texto de Mário Beja Santos Texto de Mário Beja Santos

E porque não um farmacêutico de família?

​​​​​​Há países da União Europeia onde esta figura já é uma realidade.

Tags
É um dado assente que o conhecimento científico (com especial destaque para a Farmacologia) e as tecnologias ligadas à saúde estão em permanente mutação. Abrem-se cada vez mais janelas na promoção da saúde e no tratamento das doenças crónicas. Em paralelo, as instituições reorganizam-se, os profissionais vivem em formação contínua, e os doentes e utentes já não ignoram que viver com mais qualidade e conforto, sobretudo no caso da polimedicação, requer capacitação e literacia. 

Na reorganização dos serviços de saúde, estipulou-se a figura do médico de família. Cabe-lhe um papel determinante no acompanhamento regular dos doentes que lhe estão distribuídos. O mesmo está previsto na nova figura do enfermeiro de família. Médico e enfermeiro são peças angulares no centro de saúde, por exemplo.

Também o farmacêutico vê alargado o quadro dos serviços que presta à comunidade. É um técnico do medicamento que intervém na manutenção da saúde e bem-estar, na moni​torização da terapêutica e na educação das populações no que respeita a autocuidados. Estas prestações vêm na sequência do seu aconselhamento e o espaço da farmácia redobra a confiança dos seus doentes com a multiplicidade de serviços, como é o caso da recolha de radiografias antigas, da recolha de resíduos de embalagens usadas (ainda com ou já sem medicamento), da troca de seringas (num projecto que tem manifestamente diminuído os riscos na vida dos toxicodependentes e na transmissão de doenças graves como a sida). E há as campanhas de saúde pública, como as determinações da glicemia, do colesterol, dos triglicerídeos, da medição da pressão arterial, sem esquecer as muitas farmácias que se têm envolvido em programas de cuidados farmacêuticos com vista a melhorar o resultado dos tratamentos e, consequentemente, a prevenir complicações graves que podiam ocorrer se os doentes não estivessem controlados.

Há Estados-Membros da União Europeia que estão a potenciar estes cuidados farmacêuticos. Um só exemplo: a Bélgica, onde na actualidade está a ser criada a figura do farmacêutico de referência. Este garantirá o acompanhamento personalizado do doente, de modo a assegurar que a terapêutica é feita com garantia da melhor eficácia e segurança. Estabeleceu-se um quadro de actividades em que os farmacêuticos de oficina se comprometem com o Governo belga a promover a farmácia como o ponto de saúde mais acessível. Entre o conjunto das medidas que vão ser implementadas, introduz-se o conceito de farmacêutico de referência, o que significa que o espaço da farmácia será ainda de maior proximidade e acolhimento, e um vector de autonomia para o doente.

Na prática, o que significará ser farmacêutico de referência? Um estilo de vida adequado, com uma alimentação equilibrada, prática de actividade física regular e, sempre que necessário, um tratamento eficaz e seguro, são o melhor garante de saúde e devem conferir, dentro de parâmetros aceitáveis, uma autonomia que permita ao doente gozar a sua vida nas melhores condições possíveis. Os doentes crónicos poderão escolher livremente um farmacêutico de referência, ele irá ajudá-los, num quadro de acompanhamento personalizado, e de acordo com a implementação de um esquema de medicação devidamente actualizado, a utilizar nas condições óptimas o tratamento prescrito para que o doente tire dele o máximo de benefícios. O farmacêutico acompanhará a boa compreensão do tratamento e a adesão terapêutica, estando à disposição do doente para os esclarecimentos mais pertinentes.

Mas ser farmacêutico de referência é contribuir também para outros avanços significativos na saúde e na qualidade dos cuidados prestados. Significa que o farmacêutico passa a ser o prestador de cuidados mais próximo (dada a garantia da melhor cobertura farmacêutica), mais acessível (os serviços de saúde cuidarão de ir eliminando os graves constrangimentos financeiros que impendem sobre a farmácia) e complementar (isto é, o farmacêutico promove um estilo de vida saudável e interage obrigatoriamente com os outros actores de cuidados; graças ao bom apetrechamento informático, poderão todos comunicar com fluidez, com rigorosa protecção dos dados confidenciais do doente).

Eu pergunto-me: quanto ganhará a saúde dos portugueses com a construção de um farmacêutico sempre próximo, acessível e dialogante com os outros profissionais de saúde? Que ganhos em saúde, quanta mais literacia e autonomia dos doentes, quão mais segura a sustentabilidade financeira do SNS!
Notícias relacionadas