Onde Portugal e Espanha se cruzam, Rio de Onor ergue-se em toda a sua beleza. Vencedora das 7 Maravilhas de Portugal, a aldeia comunitária esconde nas suas margens a melancolia das histórias de outros tempos.
Nascido e criado na aldeia brigantina, Domingos Fernandes guarda ainda memórias do auge da vida comunitária, na qual participou activamente antes de partir para a tropa. Nessa altura, terrenos, rebanhos e trabalhos eram partilhados entre todos e as decisões eram tomadas em conjunto, com base em votos anónimos marcados em ardósias. Um verdadeiro sistema democrático à moda antiga, pensado em prol do bem comum.
No dia 1 de Janeiro de cada ano, o povo elegia dois representantes, conhecidos como mordomos, que se encarregavam de organizar a comunidade em todas as áreas. Quando o sino tocava, de manhãzinha, os homens reuniam-se no “conselho”, liderado pelos mordomos, onde se decidia o trabalho a fazer na aldeia e as ferramentas que estavam ao encargo de cada um.
Armados com o equipamento e a merenda, preparada pelas esposas, os maridos passavam o dia em trabalhos, ao serviço da população. «Na altura não havia máquinas como as de agora, era tudo manual», recorda o conterrâneo de 77 anos. «Era rara a semana em que não havia um ou dois dias de trabalho do povo».
Vestígio dessa época é o símbolo mais icónico de Rio de Onor. A vara da justiça é um pau de madeira de choupo, com cerca de um metro, onde estavam representadas com traços as casas de cada família. Sempre que necessário, cabia aos mordomos marcar com um canivete as faltas ou infracções. «Quando se acumulavam várias, os mordomos cobravam-nas em medidas de vinho, que eram consumidas nos dias de trabalho em conjunto».
A Casa do Touro, que chegou a ser lagar e, mais tarde, habitação do touro comunitário, é hoje um pequeno museu interactivo onde, através de filmes, objectos e imagens, estas e outras histórias ganham vida.