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6 fevereiro 2025
Texto de Teresa Oliveira | WL Partners Texto de Teresa Oliveira | WL Partners Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro

«Tudo é uma escolha»

Durante anos, Ana Rita Filipe viveu viciada em trabalho, até enfrentar dramáticas consequências na saúde e nos afetos.​

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​Escolher aproveitar plenamente a vida, em vez de sobreviver. Este é o lema de Ana Rita Filipe, que nos últimos anos tem feito uma jornada de autoconhecimento e de redescoberta do que é verdadeiramente importante para si própria. «Sempre gostei muito de fazer desporto ligado à natureza e de experimentar muitas coisas, viajar, acampar, o mar, a praia», lembra. «Depois de iniciar a minha carreira profissional, aos poucos fui-me esquecendo desta minha máxima: viver e não sobreviver».

Além dos compromissos e das preocupações que tantas vezes chegam com a idade adulta, Ana Rita deu por si completamente viciada no trabalho. Arquiteta, «o que quis ser desde miúda», e empresária em diferentes ramos, tinha uma vida caótica. Quando se apercebeu da "carga" que transportava, pensou encontrar no trabalho por conta de outrem a resposta à vida mais calma por que ansiava. Não funcionou. «Não conseguia viver sem estar sempre a trabalhar, estava num processo em que só via o trabalho à frente; no fundo, acho que era mesmo uma workaholic».

O seu dia a dia era feito de jornadas que chegavam às 19 horas e noites sem dormir, dedicada ao que fazia mesmo aos fins de semana e feriados. «“Se ganhasses uma fortuna no Euromilhões não deixavas de trabalhar? Há tantas coisas boas para fazer!”», perguntou-lhe um dia o marido, que «muitas vezes [lhe] tentava abrir os olhos» para o excesso de trabalho. «Eu respondia: “Nunca deixaria de fazer arquitetura, adoro o que faço e não conseguiria viver sem trabalhar!” Hoje penso de forma diferente».

Num fim de semana «difícil de esquecer», estava no trabalho quando recebeu a visita da filha, na altura com seis anos, acompanhada por uma tia. A menina entregou-lhe «um raminho de flores e um bilhetinho: “mãe, tenho muitas saudades tuas e preciso muito de ti”». Depois deste "murro" no estômago, e com um quadro de início de depressão e esgotamento, percebeu que a vida e o crescimento dos filhos lhe estavam a passar ao lado, e que o tempo não voltaria atrás. «Durante muito tempo, martirizei-me por não ter sido uma mãe presente para a minha filha, mas, hoje, uma das minhas estratégias é fazer as pazes com o passado e que os erros sirvam de aprendizagem para o presente».


Ana Rita chegou a ser vegan, mas com o tempo foi alargando o leque de alimentos que come

Desde aí, foi adotando inúmeras técnicas para dar mais sentido aos seus dias. Recomeçou a fazer exercício físico e mudou a sua alimentação. «Na altura, li um livro que revolucionou a minha vida, percebi o impacto de certos alimentos na minha saúde e no meu bem-estar, e mudei radicalmente os meus hábitos». Chegou a ser vegan, mas agora, embora não abra mão de algumas coisas, já não é tão fundamentalista – sê-lo «traz-nos muita ansiedade e isso não é positivo».

A vida, porém, não deixou de lhe pregar partidas. Novamente muito envolvida em trabalho, começou a perder o entusiasmo que tinha reconquistado, sentia-se fraca e confusa pelo que lhe estava a acontecer. «Apareceu-me uma doença autoimune, doença celíaca [reação alérgica ao glúten], e quando estávamos a tentar despistá-la, descobriu-se um tumor, muito no início (grau um) que poderia ter sido fatal. A médica disse-me que já não voltava a ganhar o Euromilhões… Neste momento, identifico muitos destes problemas como uma consequência do estilo de vida que levava».

Ainda lhe viria a ser diagnosticada fibromialgia e, recentemente, um problema cardíaco. «Entraves que me poderiam ter deitado muito abaixo, que podiam ter-me feito desistir», desabafa. Mas não se deixou abalar. «Os desafios vão sempre acontecer na vida. O que importa é a forma como os encaramos e se nos decidimos focar na solução», defende. «Sabe há quanto tempo deixei a medicação para a ansiedade? Só há dois anos e meio. E durante muito tempo tomei uma dose placebo porque tinha medo de a tirar. Tudo isto tem sido um caminho», sublinha. 


Praticar Pilates, com aparelhos, é uma rotina essencial

Tomou consciência da importância de dar prioridade ao descanso e iniciou-se no ioga e na meditação como prática diária, o que lhe trouxe «uma paz interior muito grande» e ajudou a lidar com os desafios. Recentemente começou a treinar Pilates com aparelhos. Através do exercício e das mudanças no estilo de vida, recuperou a capacidade física e reduziu o quadro inflamatório. «Se não descansar o suficiente, se não fizer exercício físico moderado, e com prazer, ou não tomar banho de água gelada, que ajuda na inflamação, ou se me desviar da alimentação anti-inflamatória, o meu corpo estaria sempre em dor. Aliás, já não considero que tenha fibromialgia».

Ana Rita revela este caminho de desenvolvimento pessoal na sua conta de Instagram @atrevete.a.ser.saudavel. «Somos produto da informação que colocamos na nossa mente», defende, «há coisas que não conseguimos controlar, mas também muitas outras que conseguimos», por isso diariamente lê, ouve podcasts e áudios com informação positiva que lhe dão motivação e energia. Todos os dias, também, procura fazer algo para se «sentir viva», nem que seja por cinco minutos, como dançar ao som de uma música no duche ou saborear um alimento delicioso. «Pode fazer toda a diferença», diz, tal como «tirar dois, três minutos por dia, mesmo num momento de maior tensão, para fazer respiração consciente ou conectar-me comigo própria», o que pode ser apenas fechar os olhos e pensar numa coisa que dê prazer.


Uma parte dos seus dias é dedicado a ler ou a ouvir podcasts com informação positiva

É essencial «encaixar pequenas coisas na vida, iniciar algo novo, que nos retire do modo de sobrevivência», tal como pertencer a uma comunidade «com o mesmo modo de estar na vida, composta por pessoas que nos acrescentam», amparando-se e incentivando-se mutuamente. Estas foram as estratégias que serviram para Ana Rita, mas cada uma terá o seu caminho. «Insanidade é continuar a fazer as mesmas coisas e esperar resultados diferentes», conclui, citando uma frase atribuída ao físico Albert Einstein.

A vida é «uma peça de um puzzle que nunca acaba», aponta. «Ao longo da vida as pecinhas vão encaixando, umas melhor, outras pior, umas saindo e outras aparecendo». O processo pode ser longo, mas a mudança é possível. «Vivemos numa sociedade que quer tudo para ontem, mas as coisas não funcionam assim». Através de pequenas alterações na vida, as coisas vão acontecendo, pois afinal «tudo é uma escolha e nós temos o poder de escolher».