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3 setembro 2021
Texto de Carina Machado Texto de Carina Machado Fotografia de Pedro Loureiro Fotografia de Pedro Loureiro Vídeo de André Oleirinha Vídeo de André Oleirinha

«A minha energia é algo natural»

​​Exercício e alimentação equilibrada ajudam João Baião a manter o seu «factor distintivo».​​

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​Quando lhe perguntam o que é ser feliz, responde sempre que é ter saúde.
Pode parecer um chavão, mas a saúde está realmente na base de tudo. E depois deste ano e tal de pandemia, ficou claro que só com saúde podemos abraçar o mundo, viajar pelos sonhos, fazer o que quisermos. É uma consciência que também se adquire com a experiência e o tempo! É do domínio público a relação que tinha com a Maria João Abreu [actriz, que morreu após um aneurisma]. Percebi que num instante tudo o que aparenta estar bem pode mudar. Além da indescritível perda pessoal, acontecer algo a alguém da nossa idade põe-nos a pensar.

 


Quantos anos tem?
Tenho 57. Sinto-me em óptima forma, a melhor de sempre, com vitalidade. Estou feliz, a abraçar projectos de que gosto muito. Mas os 60 estão a chegar, e com eles vêm as maleitas, as artroses, os problemas reumáticos... [risos] Quer queiramos quer não, a idade, além da sapiência, também nos traz isso: o corpo já não responde da mesma maneira à vida.

Olhando para si, ninguém diria que a idade pesa.
Óptimo! Sabe que sempre tive esta energia muito latente, mas só quando fiz o “Big Show SIC” [programa de entretenimento, entre 1995 e 2001] e as pessoas me repetiam: “Mas tu não paras?” é que percebi a forma como os outros me viam e comecei a trabalhar para preservar esse factor distintivo.

E em que consiste esse trabalho?
Exercício físico e alimentação equilibrada, para não ganhar peso, mas também para manter a força muscular e a destreza motora. Não sou fundamentalista, mas gosto de cuidar da minha saúde e sou disciplinado nos meus exames médicos. Os resultados estarem todos “OK” é para mim a maior felicidade. Quanto à energia, que toda a gente me pergunta de onde vem, não tenho resposta. É algo natural.

Um pouco como o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa?
Olhe que eu não quero ser Presidente! [gargalhada] Mas durmo pouco como o senhor Presidente, é verdade! São características pessoais, e eu sempre fui inquieto. Durante muito tempo houve quem pensasse que tomava estupefacientes para ter esta energia, e é precisamente o contrário. Vou frequentemente à farmácia comprar um calmante natural, para ficar menos ansioso.

Tem a sua farmácia?
Não propriamente. Tenho sítios específicos onde costumo ir e todos são a minha farmácia, mas depende muito dos meus circuitos de trabalho, ou tempos livres. Por exemplo, agora tenho um espaço de cabeleireiro em Lisboa e ao lado está uma farmácia que é a minha perdição. Tomei lá a vacina da gripe, a vacina para a pneumonia… e perco-me lá dentro.

Como assim, perde-se?
Perco-me! As farmácias, além de prestarem um serviço de grande utilidade, exercem um fascínio sobre mim que não sei explicar. São espaços amplos, bonitos, de gente simpática, disponível, onde podemos andar à vontade, contactar com os produtos. Sei que entro para comprar uma coisa e fico horas a ver 300 outras.


«Sim, sou muito do toque, do abraço… E usei isso, inconscientemente, na profissão, para me proteger da minha própria timidez»

É muito próximo do público, no sentido em que privilegia o contacto directo com as pessoas…
Sim, sou muito do toque, do abraço… E usei isso, inconscientemente, na profissão, para me proteger da minha própria timidez. Parece um contra-senso, mas fico tímido com as pessoas. A forma de me proteger é juntando-me a elas! E sim, gosto de dar beijinhos, de abraçar, e as pessoas são sempre simpáticas comigo. Relacionam-se comigo como se eu fosse da família!

Como viveu o distanciamento imposto pela COVID-19?
Inicialmente não me custou, porque o medo, que todos tínhamos, era maior. Alguém imaginou um dia ver capitais como Nova Iorque ou Paris desertas? Aconteceu. Ficámos todos muito assustados com o desconhecido que aí vinha. Mas depois do isolamento, das perdas horríveis de tantas famílias, a privação do contacto com os outros começa a pesar. Acho que estamos a sofrer a consequência disso: as pessoas andam mais irritadas e nervosas. Por outro lado, tive oportunidade de apreciar mais a minha casa. Sou um privilegiado. Tenho um espaço exterior simpático e isso ajudou-me a viver os confinamentos de uma forma mais leve. Mas como bom inquieto, chegou uma altura em que já via verde por todo o lado!

Não vive sozinho.
[Risos] Pois não! Nunca fui uma pessoa do campo, sou muito mais urbano, mas mudei propositadamente de casa para ter um espaço maior para os meus cães, que são muitos.



Homem de cidade, mudou-se para o campo para ter espaço para 12 cães, dois lamas, póneis, um burro, galinhas, patos, papagaios, araras, um canguru, uma zebra...

O que são «muitos» cães?
Cheguei a ter mais de 30! Agora só tenho 12, mas tenho também um casal de lamas, que uma amiga me ofereceu ― e que já tiveram um lama bebé. E póneis. E um burro. E como sou um bocado compulsivo, também tenho galinhas e patos, e ofereceram-me um canguru, e depois veio uma zebra… No primeiro confinamento apaixonei-me pelas aves e foi a loucura: papagaios, catatuas, araras… De repente, o campo, que eu achava que era chato, é onde encontro os meus momentos de relaxe.

É verdade que gosta de baptizar os bichos com o nome dos seus amigos?
É verdade. E quando comecei a ter mais animais, passei a ordenar os nomes com a letra inicial da raça ou espécie. Por exemplo, um cão, se for um rafeiro do Alentejo, o nome tem de se iniciar por A: Alfredo, Alzira, Albertina…

É igualmente metódico em tudo o resto?
Sim, sou incapaz, por exemplo, de me deitar sem saber o que vai acontecer no programa no dia seguinte. Mesmo que faça um estudo muito superficial, tenho de ter pelo menos um esqueleto na minha cabeça. E sou muito arrumado, gosto de tudo no lugar, mas não sou doentio. 

Lida mal com o improviso?
Não, nada. Mas o improviso só funciona se houver uma estrutura. Digamos que gosto de ter os pontos cardeais bem definidos para depois poder voar.

A sua carreira pode ser descrita como uma sucessão de felizes acasos para os quais trabalhou muito?
[pausa] Infelizmente, em Portugal não podemos traçar ou predestinar um caminho. Como não há essa possibilidade de escolha, vamos desenvolvendo o percurso à medida do que nos é solicitado. Em certas ocasiões, obviamente que o acaso ou a sorte de ter estado “naquele sítio”, de ter feito “aquilo”, de ter encontrado “aquelas pessoas”, foi importante. Mas a confiança de quem nos procura só se constrói e mantém com muito trabalho. Eu levo a minha carreira muito a sério. Adapto-me e gosto de me dedicar às coisas, de estar a 100 por cento.

Como é que se define: actor ou comunicador?
Não sei! Nunca gostei muito de rótulos! Gosto de estar num palco, de contar uma história, criar emoções, ser outra pessoa que nada tem a ver com o João Baião. Gosto da linguagem do cinema e da televisão… Mas também me realizo como apresentador, sendo igual a mim mesmo. São coisas distintas, mas complementares. 


«O segredo é a simplicidade»

Como indivíduo, todos o definem como uma boa pessoa. Conte lá esse segredo.
[gargalhada] Sei lá eu! É bom sentir isso, mas também causa pressão, sabe? Cometo muitos erros! Por vezes, como sou teimoso, pareço arrogante. Não sou perfeito. O que me irrita mesmo na vida é a falsidade, a arrogância, o pedantismo, e acho que ser bom é ser o contrário disso: ser honesto, leal, vertical, transparente. Sempre me autopoliciei no sentido de não me deixar ser outra coisa que não igual a mim mesmo, em todas as circunstâncias — excepto enquanto actor, obviamente! Acho que o segredo é a simplicidade. E agora vou dizer uma máxima que fica bem na capa de uma revista: A complexidade está na simplicidade. Não foi bonito?
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