João Baião foi um menino feliz, alegre e, confessa, divertido e cansativo para os irmãos Maria do Rosário, sua gémea, e José, nove anos mais velho. «A infância dele deve ter sido mais dramática, entre aspas. Não podia ir para a rua com os amigos jogar à bola, andar de bicicleta… porque tinha de tomar conta dos manos mais novos», diz, a rir. Já Maria do Rosário foi uma companheira de brincadeiras, mesmo quando não estava disposta a isso. «A minha irmã acabou por ser um bocadinho a minha cobaia. Os nossos feitios são completamente diferentes, ela é calma e recatada, eu sou mais histriónico e expansivo, e embora muitas vezes não lhe apetecesse, acabava por alinhar nas loucuras que eu estava sempre a inventar: concursos de misses, festivais da canção…».
João conta que, em torno de um quadro de lousa oferecido pelo pai, com os personagens da “Família Pituxa”, o equivalente ao «Vitinho da televisão naquela época. Davam-nos as boas noites na hora das crianças irem dormir», foram várias as horas a brincar ao faz-de-conta. «Dei muitas aulas de Português aos bonecos, que tiveram de fazer muitas provas. “Amanhã temos ponto”, dizia eu, e era a minha mana quem respondia por todos os bonecos!».
Ter uma irmã gémea só teve um “senão”: as vezes, poucas, em que a mãe, Maria Luísa, resolveu vestir o par de igual. «Lembro-me de uma roupinha que ela fez: uma saia aos quadrados com uma blusa vermelha para a Rosário, uns calções aos quadrados e uma blusa vermelha para mim». A indumentária terá feito sucesso entre a vizinhança, encantada com os gémeos que eram caso único na zona. «Eu não achei lá muita graça».
Os tempos eram outros. Na Buraca, antiga freguesia da Amadora onde João Baião cresceu, toda a gente se conhecia. As crianças brincavam na rua à responsabilidade de todos e de si mesmas. Organizavam-se campeonatos de futebol «rua contra rua», jogava-se ao berlinde, montavam-se pistas de carros, brincava-se o Santo António. «Lembro-me de, um pouco mais crescido, querer ser como o meu irmão. Ele tinha aqueles bailes de garagem, onde eu não podia entrar, por isso ficava à porta, a ouvir os Beatles. Lembro-me tão bem! Ele tinha um grupo de teatro e recebia os colegas para grandes ensaios no quarto, e eu, pequenino, adorava ficar ali na cama a vê-los ensaiar as músicas e as peças, até adormecer… Foi uma infância muito feliz».