Eunice e Ruy dois animais de teatro que têm o talento para se transfigurarem em jovens aprendizes, apesar do posto que é a idade. Eunice e Ruy que foram crianças para outros mestres, a quem hoje ainda chamam com reverência por mestre Ribeiro, que respondia também pelo petit non de Ribeirinho.
Ribeirinho que nos fez rir tanto em filmes a preto e branco, como “O Pai Tirano” ou “O Pátio das Cantigas”. Eunice e Ruy recusam dizer «no meu tempo», mas falam de um tempo só seu. Ninguém imagina que Ruy era alvo preferido e discípulo mais amado de mestre Ribeiro e que este lhes repetia constantemente: «nem sabem sentar-se. É uma brutalidade, uma grosseria», revela Eunice.
Tempo também de Alves da Cunha, professor de Eunice e lhes dizia: «olha meu filho, depois de estudares inteligentemente o teu papel, o que é preciso é convicção, estupidez natural e não deixar cair os finais.» Para Eunice e Ruy é hora de recordar Raúl de Carvalho «que fazia composição extraordinariamente», um animal de teatro do tempo deles.
Somos todos iguais
Conta Ruy que, tal como Eunice, trabalhou muito anos no Teatro de Variedades onde havia um porteiro chamado Grilo. «Eu teria já uns 40 anos de profissão. E um dia ele disse-me assim quando eu entrei: “o senhor Ruy é exactamente a mesma pessoa, tal e qual como no primeiro dia que entrou aqui”.» Mais do que dar o nome a uma rua isso é motivo de orgulho para Ruy. Sobretudo tratar as pessoas com respeito. Para Eunice não há questão: «somos todos iguais. O contrário disso é que é difícil perceber.»
Originalmente publicado em dezembro de 2017.