Paulo Ferreira sentiu uma mistura de estranheza e curiosidade quando comprou a Farmácia Brito, a sua segunda farmácia em Vila Praia de Âncora. «Via as pessoas [os clientes da farmácia] e achava estranho: como é que é possível, numa vilazinha tão pequenina, eu não conhecer as pessoas que vêm a esta farmácia? Como é possível?», questionava-se.
Com o tempo, esta separação de clientela foi-se esbatendo, principalmente com os clientes mais novos. No entanto, «na fase inicial, a esta farmácia vinha uma clientela mais fina, com mais educação, mais estudos». Em contraste, a sua outra farmácia, a Moderna, «aquela de baixo [da rua]» tinha um perfil «mais popular». Durval Brito «tinha gosto» em manter o aspeto original da farmácia fundada pelo seu pai, afirma, quem sabe também por causa desses clientes diferenciados. «Não houve nenhuma alteração ao longo do tempo», diz.
Relembra que, no passado, «não havia muitos farmacêuticos em Portugal», e que Durval Brito – que conheceu anos antes de imaginar que viria a comprar a sua farmácia – «era farmacêutico, fazia questão de ser farmacêutico, tinha muito orgulho da profissão». Paulo Ferreira acrescenta que «era uma pessoa prestigiada aqui na vila» e, por isso, essa sua notoriedade «repercutia-se na Farmácia Brito e nas pessoas que cá vinham».
Olga Brito Rodrigues faz, por seu lado, um retrato mais íntimo do pai. Durval Brito era uma pessoa «muito, muito bem disposta», recorda, e de mentalidade «mais jovem e avançada». Apesar de ter casado com 39 anos – «e, por ordem de idades, tivesse idade para ser meu avô» – mantinha uma relação aberta com a filha.
Acrescenta que muitos colegas de escola tinham pais mais jovens, mas não desfrutavam do mesmo tipo de proximidade e abertura, mesmo após o 25 de Abril.