Em Quintandona, rústicas casas pintadas de xisto e granito contam a história de uma aldeia agrícola onde, há mais de 400 anos, a população se dedicava ao amanho da terra. Naquele tempo, o gado dormia no rés-do-chão, para ajudar a aquecer o andar de cima. E os caldos eram o principal sustento da comunidade a todas as horas do dia.
Belmiro Barbosa, responsável pela CasaXiné, associação para promoção e desenvolvimento cultural, já se habitou a despertar a curiosidade dos visitantes. Há 16 anos, foi por sua iniciativa que se iniciou a recuperação da aldeia. Com o envolvimento da comunidade, o sonho tornou-se realidade. Hoje, é com orgulho que vê crianças a correr pelas calçadas, acompanhadas por famílias que por ali se fixaram.
O turismo chegou aos poucos. Quem visita, procura a paz da ruralidade a um passo da cidade, numa experiência imersiva na gastronomia, na cultura e na história locais. A visita, que arranca no Centro Interpretativo, tem passagem obrigatória pela capela, pelo pelourinho e pelo lavadouro público. Pelo caminho, há que se perder no charme das casas, fascinantes em cada detalhe.
No terceiro fim-de-semana de Setembro, a Festa do Caldo é o pretexto ideal para uma visita. Com as tradições locais em primeiro plano, os campos enchem-se de iguarias, artesanato e muita música, juntando anualmente cerca de 17.000 pessoas.
No arranque das festividades, a prioridade é prender o Jebo. «O Jebo passa o ano a fazer tropelias na aldeia», explica Belmiro, sorridente. «E tem de ficar preso aqueles três dias para que a comunidade esteja sossegada».
Reza a lenda que esta figura mítica, que não é homem nem é bicho, é filho de uma bruxa e do diabo – ou talvez tenha sido imaginada pelo grupo de teatro local, os ComoDEantes. O que é certo é que a Festa do Caldo só acaba quando o Jebo é libertado. Com um brinde embalado pelo licor oficial de Quintandona, criado em sua honra.