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10 maio 2021
Texto de Vera Pimenta Texto de Vera Pimenta Fotografia de Ricardo Castelo Fotografia de Ricardo Castelo

O melhor de dois mundos

​​Campo e cidade em harmonia.​

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Em Quintandona, o som ritmado dos passos na calçada é embalado pelo chilrear primaveril dos pássaros e o burburinho distante da água a correr. A toda a volta, o casamento perfeito entre o xisto e o granito dá vida a casas de pitorescas fachadas enfeitadas com rústicos candeeiros e vasos de flores. 

São raros os momentos nos dias de hoje em que o tempo se permite abrandar. Mas ao deambular no silêncio desta aldeia preservada, com mais de 400 anos, não é difícil imaginar as intermináveis noites de Verão alheias ao caos citadino, onde o ar é puro e as estrelas parecem estar ao alcance do Homem. 



«Vir a Quintandona dá saúde», garante Belmiro Barbosa, responsável pela associação para a promoção e desenvolvimento cultural, CasaXiné. Foi em 2005, altura em que era presidente da Junta de Freguesia de Lagares, que, em conjunto com a Câmara Municipal de Penafiel, surgiu a intenção de recuperar a aldeia. 

Com o envolvimento da população, as casas e o património público foram restaurados, e as famílias fixaram-se. Hoje, é com orgulho que os 90 habitantes vêem a média de idades baixar para 25 anos. «Temos muitas crianças. É um sinal de vitalidade». 

Às paisagens rurais juntam-se o artesanato e a gastronomia tradicional, que atraem cada vez mais curiosos. Aos fins-de-semana, uma feira de produtos regionais dinamiza o comércio local, complementado por estruturas turísticas como o Winebar Casa da Viúva e o alojamento típico da Casa Valxisto. 


A aldeia é um refúgio de paz, a um passo da cidade

Em Setembro, os campos de Quintandona acolhem milhares de visitantes que se juntam aos conterrâneos na Festa do Caldo. O maior evento gastronómico e cultural da região teria este ano a sua 15.ª edição, não fossem as limitações impostas pela pandemia. 

«O caldo era o principal sustento destas comunidades agrícolas a todas as horas do dia», revela Belmiro. Em jeito de celebração das origens, caldos para todos os gostos, confeccionados pela comunidade, são colocados à porta das casas. 

Ao longo de três dias, as ruas ganham vida através da música, do teatro e dos sabores locais, numa viagem pela autenticidade e pela memória desta aldeia perdida no tempo. «É uma festa imperdível», promete o penafidelense Jorge Abreu. 

Em Penafiel, a calmaria do campo e a modernidade intemporal da cidade fundem-se. «É uma cidade pacata, que cativa o melhor dos dois mundos», explica o médico pediatra, de 33 anos. Terá sido essa uma das razões que o trouxeram de volta há dois anos, depois de um percurso escolar e profissional noutras paragens, mais a Norte do país. 

A Igreja do Sameiro oferece uma vista panorâmica para o centro da cidade

Do alto do Santuário do Sameiro, o verde florido dos jardins abraça a paisagem mais panorâmica do centro. Ao fundo das escadarias, que serpenteiam em jeito de conto de fadas, há recantos que convidam à descoberta. Pela noite, uma grandiosa instalação luminosa comemora os 250 anos da cidade. 

Entre nabos, pencas e nabiças, quem procura os produtos biológicos frescos da terra encontra-os à venda nas bermas das ruelas do centro histórico, pelas mesmas mãos que os cultivam. «É caricato como há determinados legumes tradicionais que só se vendem aqui», comenta Jorge Abreu, sorridente. 

No Rua do Paço, mesmo ao lado da incontornável Capela de Nossa Senhora da Ajuda, o majestoso Palacete Pereira do Lago acolhe um dinâmico percurso pela história da região. 

A exposição permanente do Museu Municipal de Penafiel é composta por cinco inovadoras salas temáticas, que lhe valeram o título de Melhor Museu Português em 2010. Como a sala da identidade, onde a Colcha Municipal ganha um lugar de destaque. Utilizada para adornar as varandas da Câmara durante as festas do Corpo de Deus, a peça de seda bordada a ouro tem mais de três séculos. 

 
Na segunda sala, o “olhómetro” que permite ver o território é o favorito dos mais novos. Os vestígios da sala de arqueologia permitem recuar cinco mil anos, enquanto a sala dos ofícios mostra a importância do ferro e da madeira nas profissões do passado. Por fim, a sala da terra e da água recria as tradições antigas de exploração dos recursos naturais, evocando memórias do mundo rural. 


O Museu Municipal de Penafiel foi considerado o melhor museu português, em 2010

Fora das quatros paredes, o museu ganha vida através dos núcleos museológicos espalhados pelo concelho. Além da Aldeia Preservada de Quintandona, integrada na rede de Aldeias de Portugal, destaca-se o Castro de Monte Mozinho. Os primeiros indícios da “Cidade Morta”, descobertos em escavações realizadas em 1943, não deixavam ainda adivinhar a real dimensão daquele que viria a ser conhecido como o maior castro ibérico. 

«É por causa da influência dos romanos que em todo o Vale do Sousa temos a Rota do Românico», recorda o pediatra, natural de São Vicente. Foi exactamente na terra onde nasceu que em 1901 foram descobertas as ruínas de um balneário romano, datado do século II. 


Os benefícios das águas termais remontam ao tempo dos romanos, que deixaram por toda a região vestígios da sua passagem

Consideradas monumento de interesse público, as ruínas permitem ainda distinguir as salas, piscinas e áreas de ligação, bem como as estruturas para captação e canalização da água. O jardim envolvente transporta o visitante através dos séculos, aguçando a imaginação. 

O monumento é parte integrante das Termas de São Vicente, procuradas por termalistas de todo o país e até mesmo de Espanha, para fins terapêuticos ou de relaxamento. 

«As nossas termas são especiais por terem as águas mais sulfúreas da Península Ibérica», conta a assistente administrativa Andreia Rocha. «Já os romanos as procuravam para curar as suas maleitas». 


As águas mais sulfúreas da Península Ibérica são a cura para o corpo e a mente

​​Particularmente eficazes no alívio de sintomas de doenças respiratórias, ósseas ou musculares, as águas penafidelenses prometem ajudar a esquecer o stress do dia-a-dia e a relaxar. O acesso ao spa pode ser feito directamente a partir do hotel, para comodidade dos visitantes nos dias mais frios. 

Das águas medicinais predilectas dos romanos até às cristalinas águas de Entre-os-Rios é um passo. «É uma das minhas zonas favoritas e também uma porta de entrada no concelho», confessa Jorge Abreu. 

​Entre-os-Rios é uma das entradas no concelho de Penafiel

Do cais, a ponte romana não deixa esquecer os vestígios do passado. Onde os rios e as cidades se cruzam, a paisagem pinta-se de verde e azul, revelando a verdadeira essência da região. 

Entre serras e rios, do campo à cidade, visitar Penafiel é regressar às lusitanas origens, em harmonia com a Natureza. É pisar as pedras da História e mergulhar em águas que curam. É sentar-se à beira-rio, contemplando o céu. E, enfim, respirar.​​

 

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