É a Margarida Barbosa na novela “Jogo Duplo”. Identifica-se com ela?
É uma personagem com que facilmente nos podemos identificar. Mas o trabalho fascinante do actor é, precisamente, não sermos nós próprios. O que mais me apaixona é transformar uma personagem que está no papel numa pessoa de carne e osso.
Como é que se preparou?
Foi fácil. Nós, actores, não temos uma personalidade muito marcada ou quando começamos a trabalhar um guião não é a nossa personalidade que está em causa. É tentar perceber as bases, o essencial e, depois, o texto fala por si para definir a personagem – se é vilã, sofredora, íntegra, etc. No caso da Margarida, foi fácil, ela é uma mulher muito completa: tinha algumas doses de vida já vivida, mas também um lado selvagem e disponível para abraçar o que a vida lhe traz.
E por causa dela foi a Macau.
É verdade! Sou uma felizarda! É muito bom ir aos sítios e partilhar essas experiências com o público. Há muitas pessoas que não podem viajar e, assim, absorvem novas culturas através da televisão. E Macau é uma cultura tão nossa, tão portuguesa! As ruas, por exemplo, estão todas escritas em português. Esse é o seu verdadeiro fascínio
Também gravou em Setúbal…
Sim! A minha cidade! Filmámos em todas as ruas onde andei. Muitas das memórias de infância da Margarida são as minhas também. Foi giro encontrar essas semelhanças e saber perfeitamente o estado de espírito. Estar na Comporta, Alcácer, Setúbal… São sítios incríveis!
Muitos actores mudaram de canal, da TVI para a SIC, por exemplo. No seu caso, sempre trabalhou na TVI. Admite mudar?
Não é uma possibilidade que me ocorra. Neste momento, estou a fazer um projecto que adoro. A TVI sempre proporcionou um crescimento grande na minha pequena carreira e estou bastante feliz.
A novela causou polémica por causa da sua relação com João Catarré, par romântico na novela. Como lida com as chamadas ‘revistas cor-de-rosa’?
Sei que têm de existir, é uma questão de venda do produto. Aceito, tenho de aceitar, mas a minha vida pessoal é só minha. Na nossa sociedade partilhamos cada vez mais: fotos do almoço, da roupa, do gato, do marido… E acabamos por ficar vazios. Só partilhamos e deixamos de viver.
Consegue definir bem essa fronteira?
Sim. Sou do tempo dos telemóveis gigantes, dos computadores muito lentos. Hoje, as crianças nascem com o telemóvel na mão. Mas sinto que estamos a chegar a um ponto de saturação e nós, figuras públicas, temos de acompanhar e saber reinventar-nos. Está a ser cada vez mais urgente ficarmos em modo off.
São as exigências de ser actriz. Era a sua profissão de sonho?
O lado artístico sempre fez parte de mim, mas quando chegou a altura de escolher fiquei indecisa. Eu fazia ginástica acrobática de competição e, por isso, estava muito ligada ao desporto. Falei com a minha mãe e ela só me disse: «Palhacinha como és, acho que fica muito claro o que terás de ser!» (risos) E tinha razão. A verdade é que sempre fiz espectáculos em casa, sempre a rir, a cantar, a vestir a minha gata…!
Tornou-se a famosa Becas, dos “Morangos com Açúcar”, que repetiu na televisão há pouco tempo.
Pois, de repente havia crianças a chamarem-me Becas! Crianças que, obviamente, não eram nascidas quando a série passou na TV pela primeira vez. E os meus sobrinhos, que não acreditavam que eu tinha participado nos “Morangos”, agora dizem: «Uh, eras muito radical com aquele cabelo!» É uma personagem que vai ficar marcada para sempre.
Ainda mantém contacto com os colegas de então?
Claro, os meus grandes amigos são dessa altura. A Mariana Monteiro, o João Cajuda, o Tiago Carreira. Ficam muitas histórias que recordamos a rir! Já parecemos uns velhinhos!
Passaram 12 anos. O que mudou em si?
Muita coisa. A cada ano que passa vamos mudando. Pouco a pouco. Hoje, sou o resultado de todas as coisas que fiz, dia após dia.
É fã do yoga e da meditação. Na altura da Becas já o era?
Não! Não fazia ideia! Começou na novela “Belmonte”. Interpretava a Íris, uma rastafari que fazia yoga e comecei a ter aulas por causa dela. Foi um mundo novo que se abriu para mim. Acho que há uns anos procurávamos a eterna beleza, como uma espécie de pote de ouro, e hoje procuramos o equilíbrio. Somos todos parte do Universo e todos fazemos parte do ciclo do amor. Todos precisamos de amar e de encontrar um equilíbrio.
Que outros cuidados de saúde tem?
Eu trabalho o lado interior e exterior. Não apenas a beleza, que é importante, claro, mas também o bem-estar: para continuar a pôr uma perna atrás das costas, fazer as palhaçadas que faço, continuar a ter um espírito jovem. É o conjunto mente e físico. Por vezes, basta parar um bocado. Ir ao ginásio também serve para isso, para parar o ritmo do dia-a-dia.
E por falar em vida saudável, como surgiu o livro “Prata, pratinha, pratão!”?
Porque me preocupava com a alimentação dos meus sobrinhos. Hoje, todos enfrentamos os mesmos problemas: «não sei cozinhar», «não tenho tempo». É importante criar bons hábitos logo na infância para, em adultos, comermos de tudo um pouco. Depois, conheci a Patrícia Boura, presidente da Fundação do Gil, e disse-lhe que estava a fazer à mão um livro para os meus sobrinhos, o que coincidiu com as iniciativas da Fundação para promover uma alimentação saudável e feliz.
E o nome?
A ideia era transmitir uma mensagem de brincadeira e felicidade na alimentação. Achei que o título reflectia, imediatamente, esse espírito. Precisamos de brincar. Somos demasiado sérios, até na alimentação. Através da comida damos amor, cuidamos uns dos outros. E como doei os direitos de autor, ajudamos também as crianças da Casa do Gil. É tão bom criarmos este ciclo e sermos mais conscientes de que precisamos uns dos outros. É preciso cuidar melhor dos avós, das crianças e dos animais. Temos de parar de ser egoístas.