Vista de longe, Santarém ergue-se no topo de um planalto, sob o qual se espraia a extensa lezíria ribatejana, entrecortada pelo Tejo, largo e majestoso, cujas cheias invernais tornam as terras férteis e adequadas à produção vinícola, de tomate e do famoso melão de Almeirim.
No cimo da íngreme escarpa, que sobe a partir do rio, encontra-se o Jardim das Portas do Sol, onde se encontra os primeiros vestígios civilizacionais da cidade.
Jardim das Portas do Sol
Era aqui que se situava a alcáçova (castelo árabe), que depois da reconquista cristã, em 1147, se tornou um dos mais importantes castelos medievais do país. «Ainda hoje impressiona imaginar os soldados de D. Afonso Henriques a escalar a encosta, pela calada da noite, tomando Santarém aos mouros», diz Adelaide Figueiredo, escalabitana de gema e médica no Hospital Distrital da cidade.
O Centro de Interpretação Urbi Scallabis, no Jardim das Portas do Sol, é um excelente ponto de partida para quem inicia a visita à cidade, pois através de soluções museológicas interactivas lança pistas sobre aspectos menos conhecidos da cidade. À saída do jardim passamos a Casa-Museu Passos Canavarro, a casa onde pernoitou o escritor Almeida Garrett durante as “Viagens na minha terra”. Continuando pela avenida ladeada de antigos palacetes, talvez a mais bonita da cidade, chegamos à Torre das Cabaças, sobre a qual se conta uma lenda. «Mandada erguer no início do século XV, após autorização concedida por D. Manuel I, consta que o rei visitou o monumento e, não gostando do que viu, mandou colocar oito cabaças no cimo da torre, a simbolizar as cabeças ocas dos vereadores que coordenaram a construção», conta Ana Mendes, assistente operacional da autarquia. A verdade é que as cabaças tinham como função amplificar o som.
Santarém destaca-se pelo vasto património arquitectónico e é conhecida como Capital do Gótico, de que se destacam a Igreja de Nossa Senhora da Graça e o Convento de Santa Clara, cujas freiras (clarissas) se especializaram na confecção do celeste, uma das iguarias gastronómicas da cidade. A história é, também, indissociável da democracia portuguesa. «Santarém teve um importante papel na revolução de 25 de Abril de 1974 e é conhecida por cidade da liberdade», explica Adelaide com orgulho. Foi da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, que o capitão Salgueiro Maia fez sair as tropas naquela madrugada, para ocupar o Terreiro do Paço.
Igreja de Nossa Senhora da Graça, de estilo gótico, onde está sepultado Pedro Álvares Cabral
«Santarém oferece excelentes condições de vida e está a apenas 45 minutos de Lisboa. Além disso, os escalabitanos são pessoas divertidas, que gostam de conviver com os amigos e das tradições da terra», sublinha Adelaide Figueiredo. Uma das mais populares é a Feira Nacional de Agricultura, em Junho, que reúne uma mostra de animais com uma parafernália de maquinaria agrícola, sem esquecer os espectáculos musicais, o artesanato e a gastronomia. A tradição tauromáquica é lembrada com as largadas de touros, a que a população assiste sentada nas varolas de protecção, enquanto os mais afoitos se aventuram no terreiro. Em Outubro não há quem perca o Festival Nacional de Gastronomia, reunião de sabores de todo o país, incluindo as ilhas.
Na vila de Alpiarça, a que se chega atravessando a Ponte D. Luís, situa-se a Casa dos Patudos, magnífica quinta de 101 divisões, construída no início do século XX, cujo nome remonta à caça de patos bravos na região. A casa alberga uma valiosa colecção de arte, constituída por mais de 8.000 peças de autores como Silva Porto, José Malhoa e Columbano Bordalo Pinheiro.
«Este importante património é uma atracção a nível turístico no nosso concelho», garante Nuno Prates, conservador do museu.
A Casa dos Patudos encerra ainda a história trágica da morte precoce dos três filhos de José Relvas, que além de grande lavrador, músico amador e coleccionador de arte, foi político e diplomata. Nos terrenos circundantes pode visitar-se a Albufeira dos Patudos, onde se pratica pesca e canoagem, e a Reserva Natural do Cavalo do Sorraia, uma espécie em vias de extinção, com apenas 200 exemplares em todo o mundo.
Casa dos Patudos, em Alpiarça, onde viveu a família do republicano José Relvas
No Verão, Santarém é muito quente e os fins de tarde sugerem ao convívio numa esplanada. É assim que terminamos o dia, na Pastelaria Bijou, em pleno Largo do Seminário, a praça nobre da cidade.